O tempo chrónos, às vezes, paralisa alguns profissionais que argumentam, e com certa razão, precisar de mais tempo. Eles se ressentem da “falta” de tempo e do aumento das exigências que demandam cada vez mais horas de trabalho. Por exemplo, uma reunião de trabalho monótona e desnecessária de cerca de 1 hora do tempo Chrónos pode parecer “durar séculos”, enquanto um momento feliz de uma hora parece ter durado apenas 5 minutos. Por isso, carregamos conosco sempre a impressão de que tudo que é bom, dura pouco… Contudo, o objetivo aqui presente não é abordar os sentidos culturais, sociológicos e filosóficos do tempo, mas tecer provocações que nos faça pensar sobre o que acontece, com relação ao tempo, no processo de desenvolvimento de um projeto de TI (tecnologia da informação), considerando suas particularidades, especificidades, características, tensões e contradições.
Será que a representação de que o “brasileiro não é pontual para nada” é verdade? Será que a outra máxima que diz “a pontualidade é inimiga da criatividade”, é real? Esses ditos populares, em geral, desqualificam e generalizam situações muito especificas, gerando uma série de assimilações deformantes acerca da competência e do envolvimento de nossas equipes em projeto internacionais, inclusive. Tais generalizações nos impedem de ver para além das aparências. É necessário refinar o olhar e lembrar que os detalhes de cada projeto o singulariza e assim, generalizar é um erro.
Um professor, certa vez, me disse que as pessoas são mais propensas a se preocupar em achar desculpas do que se esforçar em cumprir acordos e objetivos. Ouvi de um colega de trabalho que estávamos adiantados para a reunião, isto é, com apenas 12 minutos de atraso e ele não estava brincando. Também me recordo de um antigo chefe, que diante do meu desconforto em relação a um possível atraso em uma reunião importante, disse-me que devemos ser como as noivas, pois se não atrasarmos não seríamos notados.
E o que dizer daqueles que não honram com os seus compromissos e que por diversos motivos, não se preocupam nem em avisar e nos deixam a “ver navios” e à beira de um “ataque de nervos”? Quem nunca agendou uma visita de um fornecedor (TV a cabo, telefonia etc) e ficou horas esperando?
Todo atraso sempre gera desconforto! Pelo menos naquele que o cumpriu, não é mesmo?
Uma vez presenciei uma cena que retrata algumas estratégias que subestimam nossa inteligência e nos desrespeitam evidenciando a falta de importância em relação à pontualidade, em uma manhã no aeroporto de Congonhas em São Paulo, uma grande empresa aérea após embarcar todos os passageiros no interior da aeronave, por meio de uma gravação, exaltava o feito da companhia em fechar as portas do avião antes do horário estabelecido, até ai tudo bem, se o avião não tivesse ficado mais de 20 minutos parado no portão de embarque aguardando liberação para decolagem.
Um colaborador (líder da reunião) esbravejou em um breve instante de “fúria”, que iria ser pontual (iniciar na hora planejada) na reunião “apenas“ para registrar se haveria pelo menos um participante pontual. Quantos de nós já não estivemos nesta posição?
Em todos os projetos que liderei, sempre busquei promover um planejamento participativo, ou seja, no qual o colaborador tem participação decisiva na elaboração do plano de trabalho, conhecendo claramente as atividades e/ou prazos que deve atender.
Com a participação ativa, o colaborador não poderia reclamar que uma determinada tarefa não pode ser cumprida por desconhecimento ou não concordância de um determinado prazo que ele mesmo ajudou a produzir. Contudo, noto que muitos ainda não estão acostumados a dividir responsabilidades e sim, buscam culpabilizar o outro, reservando com isso uma válvula de escape a ser utilizada em qualquer situação.
Se não participarmos dos planejamentos de forma decisiva e não buscarmos incessantemente atingir coletivamente os objetivos planejados, continuaremos na base da culpabilização do outro e vitimização de si próprio, cada vez que nos depararmos com problemas nos projetos.
Um planejamento de um projeto de TI envolve uma coletânea de atividades interligadas que visam atingir os objetivos, isto é, quanto maior é escopo de um projeto, maior será a sua complexidade. Como as atividades de todos os envolvidos estão intrinsicamente articuladas, basta alguém não cumprir algo que o efeito deste descumprimento alcançará a todos.
Ser pontual é uma questão básica de respeito e profissionalismo. Todos nós devemos agir de acordo como gostaríamos que agissem conosco e este valor passa por respeitar também o tempo dos outros.
Reconheço que muitos profissionais com os quais trabalhei e trabalho se importam e cumprem devidamente seus compromissos e prazos, contribuindo positivamente para o sucesso dos projetos de TI, sem traumas, porém ainda temos um longo caminho a percorrer até que todos os envolvidos se conscientizem da importância dentre tantas outras coisas, da pontualidade.
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