Calma! É apenas uma expressão do meio corporativo: o GP apenas perdeu o emprego. Mas nem sempre foi assim. No Egito antigo, foram registrados os primeiros trabalhos dos gerentes de projetos e, possivelmente, foi o nascedouro da prática de cortar a cabeça. Era comum a cabeça do gerente de projetos ser decepada (literalmente) a pedido do Faraó, frustrado com alguma inconformidade no andamento da construção de sua Pirâmide.
Desde aquela época, apesar das várias mudanças em suas atividades, a posição de gerente de projetos manteve seu glamur, seus riscos, e a decapitação assegurada depois uma avaliação negativa do projeto pelo cliente.
Antigamente, o GP não possuía muitas informações para gerenciar o projeto e, na maioria das vezes, ficava surpreso com a sua eminente decapitação. Hoje, quando um GP é indicado e aceita assumir um projeto, ele consegue, em pouco tempo, analisar os seus principais indicadores e determinar o risco da sua decapitação, se está sentado em uma cadeira ejetora, e quais as possibilidade de tirar vantagens da situação.
A prática da decapitação começou porque desde os primórdios até hoje em dia, o escopo definido pelo cliente e aceito pela empresa responsável em executar o projeto, na maioria das vezes, não é condizente com o tempo ou o investimento necessário para faze-lo. Porém, como o projeto é estratégico (ou o cliente o é), a direção da empresa prestadora de serviços, fecha os olhos para os problemas e joga para o futuro (e consequentemente no colo do GP) os problemas identificados no presente.
Os discursos para maquiar os problemas e convencer o GPs a assumirem os projetos “estratégicos” são sempre parecidos; a decapitação iminente é transformada em desafios, o risco em não entregar o projeto em função da venda errada é minimizado com a promessa do suporte da corporação para, em conjunto, mudarem a situação a longo prazo.
Para os novatos neste mundo de gerenciamento de projetos, este discurso é altamente motivador e reconfortante, até porque receber esta incumbência das mãos dos principais executivos da empresa não é para qualquer um. Para os GP´s mais maduros e com diversas cicatrizes de outras experiências, sabem que estes discursos serão sustentados até os problemas financeiros e de atraso no cronograma começarem a aparecer.
Aqui se tem um grande divisor de águas e existem dois caminhos a seguir: um que bem administrado o levará a um reconhecimento e a uma posição diferenciada e outro ao cargo de bode expiatório do projeto.
No primeiro caminho, o GP sabe que os problemas aparecerão e que cedo ou tarde a culpa será inevitavelmente dele. Ele usa sua experiência para capitalizar, política e administrativamente, tudo o que pode, com a visibilidade que o projeto estratégico proporciona e consegue, ser alçado para uma nova posição antes que os problemas identificados no início apareçam.
Quando o GP consegue fazer isso e deixa o problema para outro, ele tem dois grandes bônus: o de ganhar um novo cargo e o reconhecimento de sua enorme capacidade em gerenciar projetos. Isso porque, assim que ele sai, os problemas aparecem e muitos dirão: “quando ele estava lá nada disso acontecia, foi ele sair que tudo desandou”.
Para o GP que não possui as habilidades de comunicação e negociação bem desenvolvidas ou ainda tem o romantismo de acreditar que ele é um super-herói e que terá o apoio da alta direção para mudar o que foi vendido errado, descobre rapidamente que a única coisa que receberá é o titulo de culpado. E o carimbo de bode expiatório.
A lógica do entendimento é cruel. Mas extremamente necessária: alguém precisa levar a culpa do desandamento do projeto para justificar que os executivos se reúnam e negociem o famoso task force para colocar o projeto nos trilhos.
Quando o GP é chamado para assumir um projeto como este, ele tem três alternativas: 1) não aceitar e ganhar o ônus de perder uma enorme oportunidade de aparecer e ter uma ascensão profissional; 2) aceitar e saber navegar para pular fora no momento certo; 3) esperar a parede chegar e se espatifar ganhando o rótulo de bode expiatório.
A escolha é sua!
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