Em uma reunião, alguém que jamais conduziu um projeto na vida, faz algumas contas de cabeça e diz que determinado período de tempo é mais que suficiente para estruturar o projeto, contratar as pessoas, fazer a aquisição de tudo e entrar em operação. Como essas contas mirabolantes normalmente surgem na cabeça de alguém com alto poder ninguém se atreve a contrariá-lo e, a partir daquele momento, inicia-se a corrida maluca na elaboração do cronograma reverso.
Para quem não sabe o que é um cronograma reverso seria mais ou menos como determinar a data de nascimento de uma criança sem ao menos os pais serem apresentados para poderem, dentro do período normal de nove meses, concebê-lo.
Assim como no exemplo acima, existem situações na vida real que nem todo o dinheiro do mundo é capaz de mudar o tempo de elaboração, planejamento, execução e entrega de um projeto. Como os envolvidos na concepção e entrega do projeto sabem que o tempo estipulado para a sua concepção é inviável, a preocupação deixa de ser a entrega e passa a ser a criação de uma estratégia para não ficar com a batata quente nas mãos; em outras palavras, não ser apontado como culpado pela falta de entrega do projeto na data marcada.
Os times se dividem e, naturalmente, tornam-se opositores, pois todos dizem ser possível realizar todas as atividades que estão sob a sua responsabilidade desde que a outra equipe que os precede entregue a tempo a sua parte. Se não fosse trágico seria até divertido, mas verdadeiros shows de horror começam a acontecer.
Atrasar seu opositor em um dia é maravilhoso, em uma semana é uma verdadeira glória! Para isso, qualquer coisa serve; reunião de reporte do projeto é o ápice periódico dos confrontos, são verdadeiros Coliseus cercados por um público que adora sangue; os gladiadores utilizam informações inverídicas colocadas como verdadeiras para transformar a reunião, paralisar os trabalhos e ganhar tempo.
Os meses passam e as estratégias para culpar qualquer um tornam-se cada vez mais elaboradas, até que chega a hora de um sacrifício maior e, nesse momento, quando todas as táticas de guerra já foram utilizadas e começa a saltar aos olhos que o tempo não será suficiente, está na hora de escolher quem irá para a guilhotina em prol de salvar o projeto e, principalmente, o pescoço de algum executivo de alta patente.
É claro que na data marcada o projeto não será entregue e outros estragos e sacrifícios serão necessários para justificar todos os problemas. No dia em que seria entregue o projeto, os opositores se reúnem com os executivos e investidores e depois de uma seção de minha culpa e sacrifícios definem uma nova data, novos objetivos e novas ilusões.
Independente do sucesso ou da prorrogação da entrega do projeto, porque em fracasso ninguém fala, o mais importante para a maioria é manter o poder e estar a frente de um projeto de grande visibilidade, para ser reconhecido pelo mercado e, principalmente, ver o crédito do bônus polpudo em sua conta corrente, mesmo que, na maioria das vezes, o projeto seja entregue com seu escopo bem distante do originalmente planejado.
[Crédito da Imagem: Batata Quente – ShutterStock]
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