A moda já saltou das telas e invadiu a assinatura corporativa. Quantos e-mails recebemos, diariamente, em que não é possível determinar onde termina o nome e começam as siglas? Imagine o tamanho que ficará o endereço de e-mail caso a moda salte para os endereços eletrônicos?
Além de fantástico, hoje é quase obrigatório ter profissionais com um sobrenome tão extenso contratados nas corporações. Curioso é saber quanto tempo, de fato, sobra para eles se dedicarem ao trabalho, porque o tempo que se gasta estudando, fazendo provas e atualizando este monte de assinaturas com certeza não é pequeno.
A cada dia está mais difícil conseguir uma certificação de alto nível, um MBA ou um mestrado. Multiplicando o número de títulos pelo tempo de estudo (em média quatro horas por dia por, no mínimo, quatro meses, apenas para as certificações), e somarmos todas as certificações conseguidas ou renovadas somente no último ano, fica fácil concluir que tem muito profissional que não trabalha faz muito tempo.
Isso não acontece por acaso. Se de um lado tem um monte de gente correndo atrás de títulos, por outro temos, a cada dia, mais empresas exigindo, para contratação de fornecedores, uma série infinita de certificações.
Aí surge a dúvida: se para conseguir as certificações os profissionais passam mais tempo estudando do que trabalhando, quem irá entregar o projeto que só foi possível ganhar por ter uma verdadeira constelação de certificações? Com certeza não serão os reis das certificações!
Em uma reunião onde o cliente apresenta suas necessidades, chega a ser extasiante escutar os profissionais com sobrenomes quilométricos defender seus conhecimentos. A sensação de não conhecer nada invade o ambiente, eles conhecem tudo, tem todos os books de todas as melhores práticas na ponta da língua e quando questionados sobre um problema ou situação eles, de pronto, citam um autor com nome impronunciável para definir a solução do problema. Chega a ser constrangedor.
Outro momento que conseguimos identificar a presença destes profissionais é nas reuniões de kick off com o cliente: eles são apresentados como os grandes craques que liderarão os profissionais que conduzirão o projeto. O interessante é que, passados poucos dias (ou, em alguns casos, algumas horas), nunca mais são vistos no cliente. É possível reencontrá-los quando o projeto não está indo bem e o cliente reclama que estão pagando sênior e recebendo júnior. Aí eles aparecem do nada, fazem umas duas reuniões para acalmar o cliente e logo voltam a seguir sua rotina de estudar, fazer provas, viajar para apresentações e venda dos produtos ou serviços da empresa.
Não há nenhum problema de ser um profissional assim. Pelo contrário, são admiráveis. O que incomoda é a hipocrisia corporativa que tomou conta do mercado. A indústria da certificação é gigantesca e altamente lucrativa, e assim continuará enquanto durar a hipocrisia da solicitação de profissionais certificados pelos contratantes. A realidade dos projetos é que pouquíssimas empresas vão validar se os profissionais que solicitaram nos editais estão realmente alocados no projeto.
Sabendo disso, as empresas que estão entregando os projetos, desalocam, o mais rápido possível, o profissional cheio de certificações, até porque ele custa muito caro e sua permanência por muito tempo acabará com a lucratividade.
A pergunta é: qual o equilíbrio para situações como estas? Ou melhor, será que é preciso ter equilíbrio?
A tendência é de piora. Mais certificações, mais solicitações de fornecedores com profissionais com muita qualificação, mais fornecedores entregando projetos com profissionais com qualificações muito menores do que vendeu: resultado serviços com baixa qualidade.
O segredo do sucesso é saber como o mercado funciona e continuar a estudar, por mais que o mercado possa parecer (e ser) hipócrita é assim que ele se comporta: o caminho do profissional é continuar a se certificar, aprender cada dia mais, para aumentar sempre a sua empregabilidade.
O grande diferencial para os profissionais é saber aplicar, na prática, o que foi aprendido nos bancos das escolas, entender que muito das melhores práticas nem sempre são aplicáveis exatamente da maneira que estão escritas. Assim aprende-se, de fato, a utilizar todo conhecimento adquirido, transformando teoria em experiência, podendo tirar o melhor dos dois mundos (o acadêmico e o profissional).
Quando este dia chegar, os profissionais aliarão a experiência ao conhecimento e deixarão de ter a necessidade de ter seus sobrenomes acompanhados de um monte de sopa de letrinhas.
Saiba mais sobre certificações…
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