Interessante que o ERP também teve seu grande momento. Lembro que há pouco mais de uma década atrás as implementaçõe de ERP eram medidas pela gradiosidade de seus projetos. Falava-se com orgulho dos milhões de dólares que seriam investidos (ou gastos) em sua implementações. Muitas foram muito bem sucedidas e outras, fracassos retumbantes.
Havia muita expectativa com seus resultados e cheguei a ouvir, isso em fins da década de 90, um CEO dizer que após o ERP ele conseguiria “se livrar de sua área de TI”, pois tudo o que ele precisava estava no ERP… Ilusão, pois depois da implementação dos ERPs as áreas de TI cresceram mais que nunca pelo simples fato que o ERP atende apenas a uma parte das necessidades de informações das empresas. E esta parte está cada vez menor.
Mas o motivo que levou às empresas adotarem ERP como espinha dorsal de sua TI tem sido, irônicamente, seu “calcanhar de Aquiles”. A integração entre processos, um banco de dados central com visão única da verdade são extremamente positivos, mas tornam a empresa inflexivel e rígida demais para se ajustar a dinâmica dos negócios atuais. Mesmo com parametrização e customizações, a velocidade das mudanças nos atuais cenarios de negócio e a entrada acelerada de novas tecnologias faz com que o ERP pareça um imenso petroleiro manobrando no oceano.
O debate se centrou neste aspecto. A arquitetura atual dos ERPs é adequada ao cenário de negócios do século XXI? O mundo de 2020 comporta um ERP como os de hoje?
Flexibilidade e agilidade torna-se um fator de vantagem competitiva e um sistema que demora a responder passa a ser um problema e não solução.
Algumas ondas tecnológicas estão transformando o cenário da TI. A Computação em Nuvem está comoditizando os servidores, transformando hardware em software e criando novas expectativas de como as empresas passam a consumir recursos computacionais. A mobilidade e a consumerização deslocam o eixo gravitacional da entrada de novas tecnologias da área de TI para os usuários. Os apps móveis exploram novos intrfaces, intuitivos e “context-aware”, totalmente diferentes dos interfaces dos ERPs atuais, voltados para teclado e mouse, com interfaces pouco intuitivos. Além disso os recursos especificos dos dispositivos móveis, como geolocalização permite que invertamos a concepção dos processos. A potencialidade dos recursos dos dispositivos móveis passam a ser refletidos no projeto do aplicativo. Ao invés de pensarmos no smartphone como apenas um meio adicional de entrega de informações, ele passa a ser o cerne do porjeto. A exploração dos recursos como acelerometros, GPS, etc, passam a orientar os processos que serão implementados no aplicativo. “Mobile centric” torna o dispositivo móvel o centro da operação e os processos giram em torno dele. É uma maneira diferente de se projetar sistemas.
Além disso, os ERPs devem se inserir no contexto do Social Business. Isto implica que muitos dos processos passam a ser colaborativos e processos lineares e individualizados precisam se reengenheirados para se tornarem “sociais”. Os ERPs devem se integrar às platformas sociais. Social passa a ser o modelo de interface predominante. Torna-se uma funcionalidade “must have”.
Este novo contexto tem algumas caracteristicas próprias:
a) a velocidade de inovação dos apps móveis extrapola a capacidade de qualquer vendedor de software de atender às demandas. É necessário criar um mecanismo que permita os usuarios desenvolverem seus aplicativos e os conectarem ao ERP.
b) a computação em nuvem permite que o ERP possa operar fora da própria empresa e com isso acaba se tornando mais flexivel, se moldando muito mais facilmente às variações de demanda do workload.
c) O conceito de social business faz com que as redes de conexão entre funcionarios e clientes se espalhe além dos limites da empresa, criando um novo cenário, mais abrangente. Afinal este cenário já estava descrito por Nicholas Negroponte em seu livro “Being Digital” de 1995, quando ele disse “computing is not about computers anymore. It is about living”.
A minha tese (pessoal) é que os ERPs se transformarão, deixando de ser um aplicativo imenso e monolítico com tudo integrado para se tornarem uma plataforma, acessável por meios de APIs. Continua sendo o core dos processos, mas aberto a criação de novas funcionalidades e apps. Passa a ser um conjunto federado de módulos, “loosely coupled”, integrados por uma arquitetura SOA. Na concepção de cloud, podemos pensar em um modelo PaaS, onde a base são os módulos com as funcionalidades essenciais e os aditivos escritos pelos usuarios e ecossistema. Um modelo similar ao adotado pelo force.com.
Este novo design tem uma característica própria. Com cloud computing ele pode ser adotado não apenas pelos grandes fornecedores de ERP atuais, mas está aberto a novos entrantes, o que gera um cenário instigante. Será que os ERPs atuais estarão conosco até o fim da década ou outras alternativas surgirão, ocupando seu espaço?
Para os atuais fornecedores o modelo de cloud altera de forma radical seu modelo de negócios, baseado em vendas de licença e altos custos de manutenção. Não é simples transformar modelos de negócio, mas é uma questão de sobrevivência. Pela teoria de Darwin, não são os maiores e mais fortes, mas os mais adaptáveis que sobrevivem. Veremos…
Outra mudança, a meu entender, que virá com este aproach de APIs e cloud, será a diminuição da dependência da empresa a um unico fornecedor de ERP. Poderemos ter acesso a varios, mesmo porque estando em nuvens fora de casa os problemas de instalações fisicas diminuem drasticamente. E com a evolução da tecnologias de interoperabilidade entre nuvens a conexão entre eles ficará bem mais facilitada. O ponto de entrada para acessar funcionalidades provavelmente passará a ser via app stores, internas e/ou públicas. E qual ERP atenderá a demanda dos apps vai ficar invisivel ao usuario…
Interessante, mas quando olhamos de forma diferenciada para o efeito das ondas tecnológicas podemos visualizar efeitos dramáticos no atual cenário da TI. A propria consumerização ou movimento “power to the people” gera a força necessária para a mudança de uma TI rigida e controlada por um departamento específico como temos hoje para approaches mais abertos, colaborativos e flexíveis, onde a TI deixa de ser a pastora das ovelhas para ser uma advisor dos usuarios. Instigante, mas creio que vale a pena pensar sobre o assunto e seria ótimo ler suas opiniões.
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