Juntamente com essas notícias, vem quase que incrustadas uma quantidade tão interminável (e diria até mais terrível que elas) de cursos, seminários e workshops que pretendem levar aos profissionais e às corporações o novo modelo de organização, pregado por muitos como a organização do futuro. É claro que tudo isso, como já falamos algumas vezes, gera uma ansiedade muito grande nos profissionais, independentemente de serem iniciantes ou mais experientes.
O que pouco se encontra nos periódicos são matérias que mostrem as resistências que as empresas, e consequentemente os profissionais, tem a enfrentar mudanças, de se adaptar aos novos tempos.
O que se vê (e isso não se limita apenas às gigantescas e ainda consideradas por muitos, paquidérmicas corporações, mas também é encontrado nas médias e pequenas empresas que em solo tupiniquins são maioria) é a criação de emperrados e burocráticos processos que tem o objetivo único de manter o “status quo” da empresa. A justificativa? Se que foi assim que se chegou a atual posição do mercado, é assim que se conseguirá alcançar e bater as metas.
Diferente do que possa parecer, as atitudes acima escondem na verdade o imenso medo que as pessoas e as corporações têm que mexam no seu queijo (“Quem mexeu no meu Queijo?” de Spencer Johnson).
Quando as empresas nascem, o grande impulsionador do crescimento é a inovação. Fazer o diferente e criar sempre o novo com o objetivo de ganhar dinheiro e espaço no mercado é vendido e incentivado a todos os colaboradores. O sonho é alcançar o modelo do GOOGLE, onde os técnicos nem sempre têm horários (e podem até trabalhar de bermuda) e os executivos quase sempre estão envolvidos com a vanguarda da inovação.
A maioria dos propulsores sucumbe imediatamente após a empresa apresentar crescimento e ganhar um espaço no mercado. Normalmente, eles dão lugar para ações quase feudalistas advindas dos proprietários ou ditatorial por parte do CEO. O objetivo é crescer sim, vender mais sempre, mas desde que o modelo não mude.
O que no início era entendido como uma atitude inovadora dos colaboradores, transforma-se em rebeldia. Alguns diriam até indisciplina.
Com o passar do tempo e a perpetuação do sucesso do modelo feudal, que se mantem graças às metas alcançadas, os executivos têm a falsa impressão que o modelo é o ideal e que os processos funcionam perfeitamente.
Este ecossistema propicia o aparecimento e a propagação de uma espécie interessante e muito frequente nas corporações com este tipo de administração: o funcionário medíocre. Aquele que está na empresa há muitos anos, que por muitos é considerado uma referência mas, que uma análise um pouco mais detalhada, mostra que ele não faz nada há muito tempo, apenas sabe surfar na burocracia criada e tira proveito dela, às vezes aparecendo e às vezes sumindo, mas sempre sobrevivendo.
É claro que instituições e pessoas como essas têm prazo de validade. Muitas empresas são compradas ou absorvidas todos os dias e muitas destas culturas são implodidas. Graças a Deus!
É preciso mostrar que corporações e profissionais deste tipo ainda existem em boa quantidade e que infelizmente, diferente do que os jovens sonham, este é um mundo ainda bem real.
O objetivo não é jogar um balde de água fria em quem está chegando ao mercado, muito menos desmotivar quem acredita que a mediocridade corporativa esteja chegando ao fim. O importante é mostrar que o que parece em extinção ainda é a regra, e que ser um inovador, na maioria das vezes, é mais difícil e arriscado do que se possa parecer.
O desafio é saber navegar no mundo corporativo e entender que é impossível se manter o tempo inteiro inovador e desbravador, como também é hipócrita dizer que jamais será necessário ser medíocre para se manter vivo.
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