Olá.
Finalmente resolvi postar sobre esta experiência de trabalhar no exterior, incentivado pelo meu queiridissimo amigo João Lyma.
Como alguns que acompanham o BLOG INTERNATIONAL JOBS (http://blog.marceleza.com) sabem, estive em Angola entre janeiro e julho de 2008 prestando uma consultoria e isso me possibilitou abrir a mente para muitas coisas, mas aqui vamos nos limitar ao aspecto financeiro e curricular. Então este país foi escolhido para iniciar estes posts sobre Empregos no Exterior.
ANGOLA – o velho “El Dorado”
Escolhi esta alusão ao famigerado “El Dorado” propositalmente para chamar atenção. Na verdade, quero dizer que Angola tornou-se em 2010 o maior produtor de petróleo do continente africano e o terceiro produtor de diamantes, enquanto a população vive à miséria… literalmente.
Aqui voce poderá ler notícia sobre produção de petróleo.
Aqui voce poderá ler notícia sobre produção de diamantes
Existem dezenas de fontes com informações a respeito da situação do país, mas particularmente percebo muita tendência ao preconceito, falta de visão histórica, soberba e até ignorância mesmo, o que é lamentável e decepcionante por parte dos colegas brasileiros.
Aqui talvez caiba uma opinião pessoal, sem a menor intenção de causar polêmicas, mas imagine se norte-americanos continuam a vir para o Brasil ganhando o dobro (muitas vezes o triplo) do que nós ganhamos e, pior, dizendo que o Brasil não presta, na nossa cara, dizendo que o país bom é o deles, que eles na verdade não precisam estar ali, que aqui as pessoas são mal-educadas, os políticos são corruptos, etc, etc. Por um momento, imagine-se nesta situação.
Por mais que seja verdade, como você se sentiria que alguém de fora falasse mal do seu país?
Agora imagine os angolanos: durante anos massacrados pela colonização portuguesa onde suas riquezas foram extraídas, suas mulheres abandonadas grávidas e depois esquecidos à sua própria sorte no que mais tarde se tornaria uma guerra civil.
Sim meus amigos, graças a este histórico é que muitos estrangeiros do mundo todo, inclusive portugueses e muitos, muitos brasileiros, estão fazendo seu “pé-de-meia” por lá. Então como você “adjetivaria” um brasileiro que vai para Angola para ganhar dinheiro e fica criticando o país, seus habitantes, as ruas, etc, etc, etc? Façam suas próprias avaliações e não se surpreendam, eu estive lá e digo com muita tranquilidade: ISTO É MUITO COMUM!
Sobre a vida no país em si, o estrangeiro/brasileiro normalmente mora num condomínio com ALTOS LUXOS que a população (90%) não possui: bomba d’água e gerador de eletricidade, só para citar os dois mais básicos. Existem poucas opções de lazer, como o fato de existir apenas um shopping na capital do país com um cinema tipo “multiplex” (ingresso entre U$ 18 e U$ 20), mas em compensação um mundo de praias inexploradas, ou melhor, pouco destruídas pelo homem como a Praia do Jomba (tomei conhecimento desse lugar pela Erika, que referencio aqui para creditar as fotos).
Após passar por uma seleção que normalmente envolve contatos telefônicos e viagens para entrevistas presenciais no Rio de Janeiro ou em São Paulo o candidato viaja e, na grande maioria dos casos vive num condominio, falando dos casos mais comuns, compartilhando uma casa com colegas brasileiros e a empresa normalmente se responsabiliza pelos custos da casa, transporte, atendimento médico emergencial, e outros itens que variam de empresa para empresa.
No que podemos chamar de “pacote convencional” está previsto:
– Transporte
Pode ser carro na porta ou “coletivo” como uma “Sprinter” para os empregados da mesma empresa, normalmente com ar-condicionado pois seria impraticável sem este item;
– Alimentação: duas formas tambem para este item e isto depende muito da empresa. O expatriado recebe uma ajuda de custo ou a empresa oferece refeição nas suas instalações. Um exemplo prático do segundo caso são as empresas de construção civil como a Odebrecht; por serem muitas vezes “canteiros de obras”, existe uma estrutura onde, entre outras coisas estão os refeitórios. Aliado a isso existe um valor em dolar para que se faça as outras refeições como pequeno-almoço (assim se chama o café da manha em Angola e Portugal) e jantar (o ultimo valor que soube foi de U$ 500, suficiente, já que sua refeição mais cara normalmente é o almoço. No caso da empresa pagar “apenas” a ajuda de custo os valores variam muito: já vi de U$ 800 a U$ 2000. Particularmente acredito que U$ 1.200,00 é um valor que considero suficiente;
– Despesas domesticas:
Aqui podemos citar empregada doméstica (lavar roupa, limpar casa, fazer comida), custos com material de limpeza e higiene (sabão em pó, sabonete, pasta de dente, lixivia (assim se chama agua sanitária, alias é o nome correto!), sabão para pratos, etc, etc. A empregada doméstica pode custar de U$ 150 (duas/tres vezes/semana) ou ate U$ 300 (todos os dias). Isso varia muito e neste caso so deve se contratar com referência. Algumas empresas optam por pagar pela empregada, então mais uma vez depende de cada caso. Com os itens de limpeza não vai se gastar mais que U$ 50 a U$ 100, falando de um mês inteiro;
– Saúde
Aqui sim, um item que pode ser crítico para muita gente. Existe uma doença disseminada por Luanda que é a Malária ou Paludismo ou ainda Palú como eles chamam lá.Pode ser complicado e amedrontador num primeiro momento, mas posso dizer de carteirinha que se você for para uma empresa que não quer se complicar (afinal nenhuma empresa quer ter no seu curriculum um expatriado que morreu de malária por falta de cuidados) e seguir as orientações é “TRANQUILÃO”.
Existem centenas de relatos a respeito, mas falarei da minha própria experiência:
Como tenho/tinha crises de garganta recorrentes, um dia acordei com moleza no corpo e com um pouco de sensação de frio. Ao levar ao conhecimento da empresa, imediatamente foi disponibilizado um motorista para me levar à clinica MULTIPERFIL que mantinha convênio para atendimentos emergenciais. Chegando lá, demorou uns 10 minutos e falei com o clinico que mandou eu fazer um exame de “gota-espessa”, onde furam o dedo e seu sangue vai para aquela lamina de vidro. Em exatos 30 minutos, me entregaram o resultado e eu estava com Paludismo. Mas não se assuste com este link, é só para referência :-). Bom, daí retornei ao clínico e ele viu que tinham 1.500 por campo (uma referência muiiiiito baixa que dá ao médico a idéia do tamanho da infecção ou sei lá o que, hehehe) e ai ele me olhou com tanta tranquilidade que assustou: “O senhor toma estes comprimidos, dois por dia, bebe bastante agua, toma uma vitamina C efervescente de 1g por dia e retorna em 5 dias”. Pronto. Como disse, a empresa séria que estive mandou que retornasse em 48 horas depois de iniciado o tratamento (para ver se se esta surtindo efeito) e voilá, já não estava mais infectado (aêêêêêêêêêêêêê). Mesmo assim, fui orientado a continuar o tratamento até o final do quinto dia, o que o fiz e estou hoje aqui escrevendo, porque se não cuidar mata mesmo. Enfim, ou vá com plano de saúde garantido pela empresa ou ganhe o suficiente para pagar U$ 800/ano para um plano de saude basico pela ENSA (uma seguradora de lá).
– Salario:
Este é o unico item que é muito relativo se discutir o que é bom e o que não é, por causa da formação de cada um, das especializações, certificações, tempo de experiência, realidade da empresa contratante e por aí vai. Entretanto, dentro da area de TI posso citar exemplo vistos:
– Empresa francesa (petroleo) – Cargo: Analista de Redes – Salário: U$ 11.000 + U$ 2.000 de ajuda de custo – Regime de férias: 28 dias em Angola/28 dias no Brasil
– Empresa brasileira (software) com base apenas angolana – Cargo: Analista de Suporte – Salário: U$ 4.000 + U$ 1.200 de ajuda de custo – Regime de férias: 90 dias em Angola/15 dias no Brasil
– Empresa brasileira (software) com base apenas angolana – Cargo: Coordenador de Suporte – Salário: U$ 7.000 + U$ 1.200 de ajuda de custo – Regime de férias: 90 dias em Angola/15 dias no Brasil
– Empresa francesa (petróleo) – Cargo: Analista de Help Desk – Salário: U$ 9.000 + U$ 2.000 de ajuda de custo – Regime de férias: 60 dias em Angola/20 dias no Brasil
– Grupo brasileiro de educação – Cargo: Professor Informatica pós-graduado – Salário: U$ 2.500 + U$ 500 de ajuda de custo – Regime de férias: 180 dias em Angola/15 dias no Brasil
– Empresa brasileira de construção civil (multinacional) – Cargo: Analista TI – Salario U$ 4.000 + U$ 500 de ajuda de custo – Regime de férias: 60 dias em Angola/15 dias no Brasil
– Empresa brasileira de TI pequeno/médio porte(multinacional) – Cargo: Analista TI – Salário: U$ 1.500 + U$ 800 de ajuda de custo – Regime de férias: 90 dias em Angola/15 dias no Brasil
– Empresa angolana de construção civil (multinacional) – Cargo: Coordenador TI – Salario U$ 3.000 + U$ 1.000 de ajuda de custo – Regime de férias: 90 dias em Angola/15 dias no Brasil
Apenas reforçando, estes casos são de pessoas conhecidas, ou seja, são cargos reais.
Então pessoal, não há uma verdade absoluta sobre trabalhar e morar em Angola atualmente. Nem sobre salários, nem sobre benefícios. Mais uma vez, depende de uma série de fatos:
Fato: a crise mundial congelou (quase) tudo por lá. Atualmente, os salários foram reduzidos em muitos casos.
Fato: as contratações continuando acontecendo, principalmente através de empresas portuguesas, sul-africanas, inglesas, francesas, entre outras.
Em breve, a parte 2 do artigo sobre Empregos no Exterior – Angola.
Vejam periodicamente vagas internacionais no INTERNATIONAL JOBS (http://blog.marceleza.com)
Um abraço e até a próxima.
Marcelo Santos
IT , Infra & Business Consultant
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