Como as ideias são descontroladas e recontroladas pela sociedade?

Para entender a crise da industria das ideias (entenda o conceito aqui), precisamos desenvolver uma nova teoria sobre como as ideias são controladas na história, pois essa indústria trabalha basicamente com o controle e o descontrole das ideias, diante de novas tecnologias cognitivas que surgem e se consolidam.

Há uma ilusão de que a conjuntura na qual atual é estática e imóvel, mas não é!

O negócio de venda de ideias é conjuntural e varia ao longo do tempo. Esse movimento que durou séculos tende a se modificar com mais rapidez em décadas e tal aprendizado terá que fazer parte das estratégias organizacionais.

Se analisarmos o período da última grande revolução cognitiva que tivemos, com a chegada do livro impresso, a partir de 1450, que é onde podemos nos basear. Foi ali que a escrita se massifica e muda o mundo para valer, a partir do descontrole das ideias.

Podemos, diante daqueles fatos, dizer que a sociedade vive ciclos relacionados entre aumento demográfico, novos ambientes cognitivos  e gestão da espécie (detalhei sobre isso aqui.) Tais demandas nos levam para movimentos de retração e expansão, como vemos abaixo no gráfico:

  • Uma nova tecnologia cognitiva – reintermediadora, que surge e cria um descontrole das ideias, criando um movimento de expansão do pensamento para formular o novo modelo da gestão da espécie;
  • E um movimento de retração, de consolidação da gestão da espécie, quando é implantado. De recontrole das ideias, quando surgem tecnologias cognitivas intermediadoras para ajudar nesse processo, que podemos lembrar dos jornais de grande circulação, rádio e tevê);
  • E tecnologias cognitivas reintermediadoras para superar o impasse como o da chegada do papel impresso e o da Internet, que expandem o pensamento e formulam o novo modelo de gestão da espécie.

A lógica para esse movimento é:

  • Quanto mais aumenta a população;
  • Mais precisamos de novos ambientes cognitivos/produtivos mais sofisticados;
  • Descontrolamos as ideias por causa disso, para formular tais ambientes;
  • Que nos dá a base para evoluir a nossa gestão da espécie para administrar um número maior de pessoas no mundo;
  • Que precisa consolidar o ambiente, através do recontrole das ideias e a consolidação das organizações.

Nessa direção, temos, então, um movimento de controle e recontrole da sociedade sobre as organizações da seguinte maneira:

  • Quando há maior controle das ideias – as organizações aumentam a taxa de descontrole de seus atos pela sociedade, pois aumenta a sombra e se reduz a transparência;
  • Quando há o descontrole das ideias – a sociedade aumenta a taxa de controle dos atos organizacionais , pois aumenta a transparência e se reduz a sombra.

Podemos ver esse ciclo mais abaixo:

 

O gráfico acima, podemos ver:

  • Descontrole das ideias – uma nova tecnologia cognitiva reintermediadora surge e permite que as ideias se descontrolem e possibilitem propor um novo ambiente/conjuntura político-organizacional para a gestação de uma nova gestão da espécie;
  • Novo modelo de gestão da espécie – se estabelece e cria a necessidade de um recontrole das ideias para a sua consolidação;
  • Recontrole das ideias – o novo ambiente procura promover o recontrole, nos levando para uma nova crise, se o aumento demográfico continua no mesmo ritmo, que é a tendência.

Na verdade, o gráfico acima nos dá uma nova visão sobre mudanças históricas e o posicionamento das indústrias de ideias ao longo da mesma.

  • Na fase de descontrole das ideias – que é de reconstrução do ambiente cognitivo, o papel da Indústria das ideias é a de filtrar e de procurar dar sentido ao novo volume que surge, a partir de outros, do novo. A geração de valor será baseada na capacidade de promover significado das “novas vozes” que eclodem para trazer a mudança necessária. Atrai a atenção quem dá ordem ao caos (vide Google). Exerce um papel renovador, que incentiva a revisão das visões em curso, com um papel maior de cenarista, analista e sintetizador do que virá;
  • Na fase de recontrole das ideias – que é de consolidação do ambiente cognitivo, o papel da Indústria das ideias é produzir conhecimento a partir de seus próprios quadros, a geração de valor será baseada na capacidade de gerar significado das “novas vozes” que surgiram. consolidando uma visão social Gera valor quem aprofunda a ordem  (vide rádio e televisão). Exerce um papel conservador, que incentiva o reforço da visão em curso, com um papel maior de narrador, detalhista e produtor de conteúdo que precisa se consolidar e se disseminar.

Vivemos hoje a fase do descontrole das ideias e o que vai gerar valor para as organizações das ideias é a sua capacidade de:

  • – filtrar o novo fluxo;
  • – separar o que é interessante do que é irrelevante;
  • – revelar novos talentos para que possam promover as mudanças necessárias;
  • – o principal objetivo é revisar a sociedade.

A indústria das ideias vai conseguir gerar mais e mais valor quanto mais tiver a capacidade de incentivar as mudanças em direção à nova gestão da espécie. E vice-versa: vai perder valor quanto mais se colocar como um elemento bloqueador de tais mudanças.

A única forma de gerar valor é adotar o novo ambiente cognitivo, ser um empreendedor/inovador da nova onda, pois conseguirá mais e mais adesão dos novos elementos, que serão os novos líderes da nova gestão da espécie.

  • No movimento de descontrole das ideias, temos uma sensação de que o conhecimento da sociedade é mais líquido do que sua fase anterior, pois ele é atualizado com mais velocidade.
  • No movimento de recontrole das ideias, temos uma sensação de que o conhecimento da sociedade é mais sólido do que sua fase anterior, pois ele passa a ser atualizado com menos velocidade.

As fases variam também:

  • No descontrole há uma sensação maior da sociedade de estabilidade;
  • No recontrole há uma sensação maior da sociedade de instabilidade.

Por fim, as fases nos levam a:

  • Na fase do recontrole há uma divisão das ideias por assuntos, disciplinas, perdendo-se o foco em problemas – é uma fase consolidadora, na qual grandes questões foram resolvidas, pede-se menos filosofia e mais aplicação prática;
  • Na fase do descontrole há um retorno aos problemas,  perdendo-se o o foco assuntos ou divisão de disciplinas – é uma fase renovadora,  na qual grandes questões são reabertas, pede-se mais filosofia e menos aplicação prática.
Como as ideias são descontroladas e recontroladas pela sociedade? was last modified: junho 12th, 2013 by Carlos Nepomuceno
Carlos Nepomuceno: Carlos Nepomuceno é Doutor em Ciência da Informação pela Universidade Federal Fluminense/IBICT Instituto Brasileiro em Ciência e Tecnologia com a tese “Macro-crises da Informação”. Jornalista e consultor especializado em estratégia no mundo Digital, desde 1995 com foco no apoio à sociedade a lidar melhor com essa passagem cultural, reduzindo riscos e ampliando oportunidades. Atualmente, se dedica a implantação de projetos de “Gestão de Desintermediação”, que é uma metodologia criada integrada para preparar pessoas, metodologias e tecnologias para o mundo das redes sociais digitais corporativas. Professor nos seguintes cursos do Rio: MBA de Gestão de Conhecimento do CRIE/Coppe/UFRJ, Gestão Estratégica de Marketing Digital e/ou Mídias Digitais nos cursos de Pós-graduação da Faculdade Hélio Alonso (IGEC), Mídias Digitais Interativas no Senac/RJ e Marketing Digital na Fundação Getúlio Vargas. Escolhido como um dos 50 Campeões brasileiros de inovação, pela Revista Info, em 2007. É também co-autor junto com Marcos Cavalcanti do primeiro livro sobre Web 2.0 no Brasil: Conhecimento em Rede, da Editora Campus/Elsevier, utilizado em vários concursos públicos, incluindo o do BNDES. Diretor Executivo da Pontonet, primeira empresa de Consultoria da Web Brasileira, fundada em 1995, que reúne em sua carteira mais de 340 projetos de consultoria estratégica em Internet, mais recentemente tem trabalhado na Vale, BNDES, Petrobras, Dataprev, Prodesp, Embrapa e Natura. Site: nepo.com.br
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