Primeiro, é preciso esclarecer a definição e os preceitos da Cloud Computing. Segundo o NIST (National Institute of Standards and Technology, EUA), a nuvem é “um modelo para acesso conveniente, sob demanda e de qualquer localização, a uma rede compartilhada de recursos de computação (isto é, redes, servidores, armazenamento, aplicativos e serviços) que possam ser prontamente disponibilizados e liberados com um esforço mínimo de gestão ou de interação com o provedor de serviços”. Ela ainda possui as seguintes características:
- Aquisição sob demanda, sem necessidade de intervenção humana do provedor de serviços;
- Amplo acesso à rede através de desktops, laptops, celulares e tablets;
- Os recursos (processador, memória, armazenamento, servidores virtuais, etc) estão em “pools”, que podem ou não estar distribuídos geograficamente, tendo o usuário condições de especificar o local se desejar (ex.: País, cidade ou datacenter);
- Os recursos podem ser adquiridos de forma rápida e elástica, eventualmente automática, para suprir o aumento de demanda;
- O serviço é medido e cobrado de acordo com a utilização.
Quando trato do assunto tanto nas PMEs quanto nas corporações, uma coisa é comum a todas: a nuvem tem benefícios que fazem com que os clientes fiquem interessados. Porém, o que vejo são os velhos paradigmas transformando estes benefícios em uma distante realidade na cabeça dos gestores. Os principais motivos são:
- Falta de esclarecimentos sobre o assunto. E foi exatamente por este motivo que gastei várias linhas acima descrevendo o que é a Cloud e suas características. Este conceito confunde-se muito com apenas servidores ou armazenamento fora das empresas, em grandes datacenters, que são acessados via internet. Nem tudo que está na internet é Cloud. Na realidade, a internet suporta a Cloud. Apenas isto. O resto é tecnologia que você pode ter até dentro da sua própria empresa.
- Segurança. Principalmente nas grandes corporações, o fato dos dados não estarem “ao alcance das mãos” não é bem visto. Sempre há a desconfiança em relação a sigilo. O mesmo ocorre com as PMEs mas, como uma pequena ou média “não oferece muito risco aos concorrentes”, esta questão não se torna tão preocupante, o que faz certo sentido. Nestas, a possível necessidade de acesso direto é a maior barreira.
Dificuldade da alta gerência para visualizar os benefícios financeiros. Aí entram dois fatores importantes: os custos operacionais que não são facilmente mensuráveis, como consumo de energia com ar condicionado, prejuízos de produtividade com pouca performance dos sistemas, etc. e a pouca habilidade dos gestores de TI (Tecnologia da Informação) para conversar com os gestores do negócio. Estes dois fatores fazem com que muitos projetos que envolvem serviços na Cloud não saiam da gaveta. É neste ponto que recomendo aos gestores de TI buscarem conhecimentos na área de governança de TI. O modelo Cobit traz um foco voltado para esta “conversa” entre negócio e TI abordando também a aprovação e gestão de projetos da TI que são importantes para o negócio.- Baixa qualidade da estrutura de comunicação do país. Aí, é sofrível. Recentemente visitei uma rede de calçados e confecções que possuía cinquenta lojas espalhadas pelo interior da Bahia. Havia locais em que o máximo que se conseguia de link era 512 Kbps. O mesmo tem ocorrido quando visito indústrias localizadas na zona metropolitana e que geralmente têm operações em cidades do interior dos estados do Brasil. Se nas capitais o serviço de banda larga e links dedicados deixam muito a desejar, imagina fora delas? Há pouco tempo vimos as maiores empresas de telefonia celular do país serem impedidas de realizar vendas em alguns estados por conta da péssima qualidade de atendimento. A partir daí podemos imaginar em que buraco estamos e entendemos o receio do empresariado. Ainda é possível perceber que esta barreira é menor para as corporações, pois estas entendem melhor o gasto maior de verba com redundância de links do que as PMEs. Estas últimas sofrem muito mais com o aumento de custo fixo que as primeiras.
- A última barreira que gostaria de citar é a péssima experiência que os empresários têm com prestadores de serviços na área de TI. Isto faz com que os gestores perguntem como fazer para rescindir um contrato antes mesmo de começar a negociá-lo. E, se começar a negociar, já é um grande ganho, pois a tendência é esta opção ser vetada nos primeiros 5 minutos de conversa. Imagina se a empresa provedora do serviço vacila e sua indústria fica sem nenhum desktop disponível, se o produto for um desktop virtual? Realmente, vendo algumas coisas que são feitas por aí, eu entendo perfeitamente este pensamento.
Apesar destas dificuldades, não terminarei este artigo apenas com maus presságios. Pelo contrário, vejo que a Cloud está indo muito bem. Este tipo de dificuldade é natural e, como falei, também sofrido (e muito mais sofrido) por outras tecnologias, como a internet e documentos digitais. Com o passar do tempo, o empresariado brasileiro verá no mercado nacional um maior número de empresas apostando na computação em nuvem, as informações vão sendo melhor esclarecidas e a infra-estrutura de comunicação do país também será obrigada a acompanhar esta evolução. E acredito que isto não vá demorar a ocorrer, pois já temos importantes empresas fornecedoras de Cloud Computing com operação no Brasil, como Google, Amazon AWS e Microsoft. Já no dia 13 de março de 2013, o ministro das Comunicações do Brasil assinou a regulamentação do Regime Especial de Tributação do Programa Nacional de Banda Larga, que provê incentivos fiscais para empresas prestadoras de serviços na área de telecomunicações que desejem investir em modernização ou ampliação de suas redes e construção de datacenters que suportem serviços de Cloud Computing. Ainda no mesmo período, a Igreja Universal do Reino de Deus anunciou a migração dos seus serviços WEB para a Amazon AWS. É a movimentação destas três instâncias – governo, prestadores de serviços e clientes – que acredito vir a formar um mundo onde a Cloud não é uma inovação, mas o dia a dia.
Texto originalmente publicado em htttp://www.andresousa.org/.
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