Comecei meu curso de Engenharia de Computação na Universidade Federal de São Carlos em 2002, com 17 anos de idade. Lembro bem da minha primeira semana no campus, quando fui todo empolgado receber uma espécie de brochura contendo todas as matérias que eu iria cursar no decorrer dos meus 5 anos de graduação. Eu imaginava que a ementa do meu curso ia estar repleta de disciplinas que fossem me ensinar a ser um programador de primeira e mal podia esperar prá ver a lista completa.
Mal sabia eu o que me esperava: no primeiro semestre, das 7 disciplinas que cursei, apenas 2 eram relacionadas à computação! E continuou assim até o fim do curso. Claro que a proporção foi melhorando conforme os semestres iam avançando, mas o conteúdo não relacionado à computação (entenda-se “inútil para um profissional da computação”) estava sempre lá. Vou tentar listar, usando apenas a memória, as matérias “nada a ver” que tive durante a graduação:
– Cálculo 1, 2, 3 e 4
– Física 1, 2, 3 e 4
– Física Experimental 1 e 2
– Geometria Analítica
– Probabilidade e Estatística
– Português
– Química Experimental
– Análise de Sinais e Sistemas
– Mecânica Aplicada 1
– Fenômenos dos Transportes 3 e 4
– Resistência dos Materiais 1
– Álgebra Linear
– Práticas Esportivas
– Materiais e Ambiente
Total de VINTE E DUAS disciplinas, todas com no mínimo 4 horas semanais (exceto Materiais e Ambiente e Português, que eram só 2 horas por semana). Algumas eram de 6 horas semanais, como FT, RM e alguns Cálculos. Tudo isso sem contar as disciplinas que, apesar de terem alguma ligação com computação, são extremamente não têm aplicação prática nenhuma, tais como Circuitos Elétricos, Organização Industrial e inúmeras outras.
Aonde quero chegar com isso? Vou começar dizendo que dentre tudo o que me foi ensinado nos meus 5 anos de faculdade, no máximo 10% eu efetivamente uso ou usei alguma vez na minha vida profissional, que já está a dois meses de completar 5 anos. Posso ir mais longe dizendo que as horas que eu gastei estudando todas as matérias acima citadas (em torno de 1500, sem contar o tempo estudando em casa prás provas e trabalhos) poderiam ter sido usadas para estudar algo que eu realmente fosse usar na minha carreira. Desse modo eu teria caído no mercado de trabalho muito melhor preparado, com uma gama de conhecimentos muito maior e provavelmente com várias certificações.
Já estou até vendo os mais tradicionalistas dizendo que é um absurdo o que estou dizendo e que essas disciplinas são importantíssimas prá “desenvolver o meu raciocínio lógico”. Quer melhor ferramenta para desenvolver o raciocínio lógico do que o desenvolvimento de software por si próprio? E será que meu raciocínio lógico é tão ruim que eu preciso de 4 Cálculos, 4 Físicas e mais um monte de disciplinas prá desenvolvê-lo?
Quer dizer que minha faculdade foi em vão? De jeito nenhum!!! Aprendi a ter “se virômetro”, a correr atrás do que preciso, a ser cara-de-pau, a me relacionar, a trabalhar em grupo. Meu diploma me abriu infinitas portas que me teriam sido fechadas caso eu não tivesse me graduado. Fiz amizades prá toda vida. Foi a porta de entrada para o “mundão” e para a minha independência.
Vou terminar meu artigo deixando um recado prá quem está agora cursando a universidade: fique atento na ementa do seu curso e procure sempre se informar com quem já está no mercado de trabalho sobre o que realmente é importante. Dependendo de qual for o seu curso, muita coisa que você está estudando você nunca vai usar NA VIDA. Nessas disciplinas, estude só o suficiente prá passar, e depois que passar pode atear fogo nos livros e cadernos. Use sua gana e energia prá estudar o que realmente será importante prá sua vida profissional. Nessas disciplinas você tem sim que dar o sangue e estudar prá valer, já que isso vai fazer toda a diferença no futuro.
Leave a Comment