Estamos vendo isso acontecer por todos os lados, embora talvez não prestemos a atenção necessária. Muitas vezes olhamos casos como Airbnb e Uber como curiosidades e não como sinais claros de mudanças nos modelos econômicos e de negócios a que estamos acostumados. As mudanças parecem ocorrer aqui e ali, mas com um simples olhar para 20 anos atrás vemos como a Internet e a revolução tecnológica mudou o cenário de negócios. Amazon, eBay, Google, Facebook, iPhone, iPad e assim por diante, para citarmos alguns poucos exemplos. Nossos hábitos mudaram. Não compramos mais passagens em agências e nem vamos aos bancos. Fazemos isso por smartphones. O impacto da Internet e da rápida interação gerou e está gerando uma mudança comportamental significante. Segundo estudo do Facebook, um individuo online está separado de qualquer outro, de qualquer lugar do mundo por quatro contatos em comum, dois a menos que antes da web.
À medida que a Internet e a tecnologia se dissemina pela sociedade, elas mudam dramaticamente o contexto estratégico: altera a estrutura da competição, a maneira de fazer negócios e elimina fronteiras entre setores de indústria antes distintos. Desagrega cadeias de valor estabelecidas e cria outras, movidas por novos entrantes que jogam outro jogo. Escalam mais rapidamente e a menor custo que as empresas existentes, criando um cenário competitivo inteiramente desconhecido.
Uma sociedade cada vez mais digital traz em seu bojo um novo patamar de preços e margens. Um exemplo é a própria indústria de tecnologia que está fazendo com que grandes e renomadas empresas estejam passando por momentos de crise quando seus tradicionais modelos de negócio baseados em licenças de software e vendas de hardware, de altas margens, são corroídos pelo modelo de computação em nuvem e uma nova precificação nos softwares imposta pelas apps dos smartphones e tablets. Competidores surgem de onde menos se espera. Muito provavelmente a indústria hoteleira não havia prestado atenção ao Airbnb quando ele foi criado em agosto de 2008. O carro autônomo do Google pode ainda não ser visto como uma ameaça a indústria de seguros de automóveis, e a possibilidade de se colocar sensores em objetos permite transformar uma indústria de vendas de equipamentos em prestadora de serviços de locação e manutenção estes mesmos equipamentos. O iBeacon da Apple pode ser uma ameaça ou oportunidade, dependendo da nossa visão quanto à tecnologia.
Na prática o software está substituindo muitas das atividades efetuadas manualmente, permitindo mais agilidade e velocidade. O texto de Marc Andreessen , “ Why software is eating the world”, de 2011, explica com clareza. Isto não significa que todas as empresas serão empresas que venderão software e tecnologia, mas devem pensar de forma digital. Um bom exemplo é a Amazon, que se diz uma empresa de tecnologia porque o pensamento digital é o seu modelo mental. Na verdade existem mais funcionários da Amazon trabalhando em seus centros de distribuição e atendimento ao cliente que profissionais de computação. É um estudo de caso bem interessante, “When Toyota met e-commerce: Lean at Amazon”.
Outra mudança de concepção que a transformação digital impõe é a conscientização que os modelos de negócio deixam de ser estáticos. Modelos que existem há dezenas de anos estão sob risco de serem transformados e mesmo os recém criados, já na economia digital, também correm o risco de serem substituídos. A digitalização não é uma jornada one-stop, mas uma (r)evolução contínua, Um exemplo é a indústria da música que passou dos CDs para MP3 e modelos de download de música com os iPods e agora, em poucos anos já está se transformando no modelo de streaming de áudio.
As mudanças no pensamento estratégico e na visão de TI serão decisivas para o futuro de todas as empresas. É necessário pensar digital, rever as capacitações da equipe técnica e dos gestores, e principalmente rever o posicionamento e papel da área de TI. Ela, voltada a eficiência operacional como se encontra na maioria das empresas, pouco poderá contribuir para esta transformação. Seus processos e modelos de pensamento estão arraigados a um pensar analógico, onde TI é um elemento de suporte e apoio, automatizadora de processos, visando redução de custos. Quantas empresas estão realmente explorando o potencial de novas opções tecnológicas como a mobilidade, Big data e cloud computing? Quantas estão transformando os processos de TI para serem mais ágeis e flexiveis, adotando modelos de desenvolvimento baseados em entrega contínua? Aos que ainda reagem a mudanças nos processos tradicionais de desenvolvimento e entrega de softwares, mantendo práticas e processos burocráticos que limitam a conexão entre o desenvolvimento e produção, organizados em setores isolados e estanques, recomendo a leitura deste texto.
Enfim, estratégia digital não é uma simplista transformação do marketing em marketing digital. É uma transformação da empresa como um todo, e como tal deve ser liderada pelo CEO com forte apoio de todos os executivos, principalmente do elemento chave que é o CIO. Ele, passando a assumir o papel de Chief Digital Officer tem ou deveria ter, condições de conduzir este processo.
A tecnologia está afetando todos os setores da economia, seja finanças, varejo, transporte, agricultura, logística…As ondas tecnológicas tão comentadas e apresentadas em inúmeros eventos nos anos anteriores, mas ainda incipientes no seu uso como Big Data, mobilidade e Cloud Computing, alavancadas pela Internet das Coisas vão permitir que a empresa se transforme. Ou, se forem lentas, serem transformadas a força, pelo novo cenário ou pela concorrência inesperada. Esta, decididamente, não será a melhor opção!
[Crédito da Imagem : Transformação Digital – ShutterStock]
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