A partir de hoje vamos começar a discutir alguns pontos interessantes que envolvem a Etiqueta Corporativa. Espero que vocês participem enviando suas dúvidas, sugestões de assuntos e opiniões.
Hoje percebemos uma mudança significativa na forma de liderança nas empresas. O livro Liderança Aberta de Charlene Li (Ed.Évora), best seller do N.Y Times detalha esta nova forma de administração de maneira bem didática e gostosa de ler. (Recomendo esta leitura).
Sempre que há uma revolução de costumes, uma grande mudança social (e isso está acontecendo agora) percebemos que os agentes desta mudança se perdem um pouco pela falta de parâmetros nos quais se basear para continuarem a tocar a vida de forma mais adequada e produtiva.
O mundo corporativo está em fase de grandes mudanças. Vivemos o que teoricamente, nós cientistas sociais, chamamos de cultura Pós-Moderna.
Na cultura Moderna tínhamos uma configuração bastante definida em relação ao espaço e tempo: as pessoas tinham um local destinado ao trabalho, um tempo específico de suas vidas que deveria ser dedicado a ele e até mesmo o tempo reservado ao lazer era bem determinado. Havia um conceito claro de nação e uma clara divisão entre classes sociais em que qualquer mobilidade entre elas era bastante difícil.
Era a economia capitalista mais pura e destilada mostrando suas faces para uma humanidade que sonhava com um mundo mais justo, igualitário segundo cada uma de suas metanarrativas (formas de ação que visam a um fim específico para toda a humanidade). As pessoas sonhavam juntas, em grupo. Movimentos como o marxismo, socialismo, comunismo, fascismo floresciam com a necessidade de todos estarem pensando da mesma forma, em uníssono sob comando claramente definido de um grande líder.
Na cultura Pós-Moderna, o modelo capitalista tradicional passa a ser substituído pelo que chamamos de capitalismo informacional (ou avançado). Nele, devido às grandes decepções geradas pelos fracassos de todos estes sonhos, há um esvaziamento do debate político tal qual o conhecíamos antes.
Hoje as mudanças sociais não são mais de responsabilidade de toda uma humanidade ou grupo social. É cada um por si. Se tivermos que pensar na sustentabilidade do planeta, isso será trabalhado por ações individuais, do tipo cada um se abstendo de usar sacolinhas plásticas, por exemplo, Não há mais um movimento dependente de grandes grupos. Não há mais metanarrativas.
A identidade no mundo pós-moderno se fragmentalizou. Hoje uma pessoa pode mudar de classe social sem que isso cause algum problema. Pode mudar de nacionalidade com facilidade e isso é considerado “normal”. Ela pode ao mesmo tempo, ser um importante executivo e tomar aulas de squash com um gerente de sua própria empresa. Ela passa a ter várias “identidades” concomitantemente.
A questão espaço-tempo também adquire novas configurações. A velocidade sempre esteve atrelada à noção de poder. O Homem pré-histórico que tivesse uma flecha capaz de matar um animal à distância e mais rapidamente seria mais poderoso que aquele que usasse uma pedra para isso.
Continuamos a viver numa dromocracia em que a velocidade dita,cada vez mais, as regras de poder. Todos querem ser os mais velozes, chegarem antes, serem os primeiros, estar em vários lugares ao mesmo tempo. Sob este novo pano, o conceito de produtividade se liga ao de velocidade de forma mais estreita.
A forma de convivermos no dia a dia no trabalho não poderia (e não é) ser mais a mesma. Os relacionamentos mudaram. Conseguir a colaboração de mais pessoas para atingirmos mais rapidamente um resultado mostra-se como uma idéia interessante.
As empresas mais antenadas já adotaram novas formas de liderança, onde há uma grande permeabilidade entre as posições hierárquicas. Todos participam, todos dão palpites, todos são ouvidos (nem que seja através de ferramentas online) e tem voz.
A confusão começa, então, em se tentar estabelecer limites para essa co-participação.
Defendo a idéia de que é preciso que exista certo distanciamento entre os diversos níveis hierárquicos, quando se visa uma melhor produtividade no ambiente de trabalho.
Não se deve confundir um ambiente de trabalho menos formal e participativo com um ambiente sem nenhuma hierarquia a ser respeitada.
O chefe pode (e deve) ser uma pessoa bastante acessível aos seus colaboradores, mas sempre sabendo se colocar em posição superior a eles. A acessibilidade aos superiores é importante (e é neste ponto que começa a confusão) já que permite aos funcionários que conheçam melhor a maneira de pensar e de agir deles. Tendo um acesso menos formal aos níveis mais altos da empresa, os funcionários colaboram com idéias e aperfeiçoamentos que só podem partir exatamente daqueles que vivenciam cada situação no dia a dia. Caberá aos executivos, então, colocarem os limites de acesso a cada funcionário.
Hoje em dia as grandes empresas têm optado por treinamentos, ocasião em que há discussão de temas e cada colaborador pode perceber a importância para si e para a empresa ao adotar posturas e atitudes de convívio mais adequadas. (Até mesmo a opção por se usar a palavra “colaborador” no lugar da mais antiga “funcionário” nos mostra essa abertura).
Muitos conceitos e regras de convivência podem parecer óbvios (e realmente são!), porém é preciso que em algum momento eles sejam verbalizados para que cada funcionário entenda a importância de praticá-los, caso contrário eles ficam arquivados subliminarmente e não são utilizados.
Não se pode punir alguém por ter feito algo que desconhecia, como sendo errado. Para isto é que servem os treinamentos: vão esclarecer de uma só vez o que pode e deve ser feito em cada situação de convívio.
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