Infelizmente, tenho visto muito discurso em torno de inovação, muitos artigos acadêmicos, muitas postagens de blog, uma enxurrada de livros, muitas palestras (Youtube está lotado de aulas e palestras sobre inovação), muita gente faturando em cima do assunto. O que interessa mesmo, que é as inovações pipocarem no mercado, na rua, não temos visto. Pelo menos não no volume que seria necessário para levar nosso pais adiante. E a fonte de ideias inovadoras pode estar mais próxima do que parece, como por exemplo o caso já explorado das gambiarras (vejam aqui o correspondente termo em inglês, jerry rig). Que são soluções criativas para problemas, implementadas com o que estiver disponível no momento, e que embutem a ideia de fazer diferente, necessária para a inovação acontecer. Criatividade nós brasileiros temos até de sobra, o que não temos é preparo ou educação suficiente para perceber que uma ideia criativa pode ir para a rua e se transformar em algo inovador que vai fazer diferença na vida das pessoas.
Mas, porque não conseguimos realizar a inovação, se somos muito criativos, e os indicadores mostrarem que também somos muito empreendedores? Aí estão dois problemas: para a inovação aparecer, não basta ser criativo, tem que trabalhar a ideia, implementar, levar ao mercado, procurar financiadores e apoiadores, etc. E, no meu entendimento, o conceito de empreendedor está sendo usado errado para criar as estatísticas. Estão sendo contabilizados ai todos os negócios abertos por necessidade absoluta de sobrevivência, todo tipo de comércio e de serviço. E empreendedor não é bem isso, é muito mais, para mim estão confundindo as coisas, vejam mais aqui. Mas, afinal, como é que vamos nos virar, se não é nada disto?
Temos é que arregaçar as mangas, mandar as definições e artigos acadêmicos pros infernos, e meter a mão na massa. Tem uma ideia boa? é algo que ninguém tentou ou tentou de outra maneira e que pode mudar a vida das pessoas? então acredita nela, leva para a rua, empreende a ideia, estuda e aprende apenas o que for necessário principalmente de fluxo de caixa, junta uns trocados, vende a bike, pega um pedaço da área de serviço da casa, e prototipa a sua ideia. Mesmo que não consiga financiamento, há formas de levar a ideia adiante com recursos escassos, implementando a ideia por deposição ou camadas, adicionando funcionalidades na medida em que o protótipo for ficando melhor. Mais ou menos como se faz na construção civil: ao lançar um prédio, a construtora vende alguns apartamentos ou lojas na planta, constrói uma parte, ai vende mais algumas partes, vai entregando e construindo até terminar. O que restar no final, é o lucro da construtora. Não é uma ideia nova, e o nome técnico correto é bootstrapping, conhecido de quem fez ciência da computação e estudou sistemas operacionais (pelo menos os mais antigos), e que funciona bem com alguns problemas.
Não adianta a gente se iludir, e pensar que só é possivel inovar com muito dinheiro jogado em cima, e que tudo vai se transformar em um Facebook ou Apple. Isso é assim nas grandes empresas globais, dedicadas a um ramo de negócio e que tem um exército de pensadores contratados para ficar o dia todo tendo ideias, testando, implementando, e lançando no mercado como inovações. Vejam as estatísticas das empresas que mais registraram patentes no mundo em 2013, aqui, e oranking da Forbes das 100 empresas mais inovadoras do mundo, valores de agosto de 2013. Reparem no ranking que há somente duas empresas brasileiras: Natura em décimo lugar, e a BRF – Brasil Foods em trigésimo-nono. A sobrevivência dessas empresas depende de inovação e do registro de patentes. Mas, em oposição, vejam que em paises populosos e com população pobre como por exemplo a India, encontramos inovação em serviços, um exemplo muito citado no mundo todo é o do hospital de olhos Aravind que começou inovando no atendimento e com um modelo de negócios voltado para o social, vejam a entrada na Wikipedia.
Olhando o ranking dos 33 paises mais inovadores do mundo da Bloomberg, vejam aqui, observa-se que esses países têm em comum um excelente sistema educacional que atinge a maioria da população. Não é a toa que o primeiro do ranking é a Coréia do Sul, e Cingapura aparece em sétimo lugar. Mas, basta isso? não, o estado tem que atuar principalmente não atrapalhando ninguém, criando regras e processos de criação e fechamento de empresas que sejam rápidos e que incentivem a criação de empresas. Dinheiro não é tudo, o ambiente propício é fundamental. Temos aqui no Brasil a ilusão de que basta criar um parque tecnológico, uma incubadora de empresas, que as coisas vão funcionar bem sozinhas. É a famosa estória da ratoeira no deserto: não adianta fazer uma ratoeira super hightech, cheia dos recursos, para pegar ratos no deserto. Será que os ratos vão até lá para cair na ratoeira? Incubadoras e parques tecnológicos sozinhos não fazem o milagre, temos exemplos de estruturas invejáveis e vazias. O trabalho é mais de base, tem que começar lá no primeiro e segundo graus, e continuar no curso superior, e insistir. Ninguém nasce empreendedor, criativo ou inovador, é tudo questão de oportunidade, o que podemos trabalhar é nossa capacidade de enxergar oportunidades. O papel do estado tem que se limitar a formar gente, criar e manter o ambiente e sair da frente (citação do prof. Silvio Meira).
E tenho certeza de que muitos vão ler essa postagem, e vão ficar com a pergunta: e você, professor, que está criticando tudo, tem feito alguma coisa para ajudar? Resposta: tenho sim, e com sucesso, embora em um ambiente de negócios completamente desfavorável, o que para mim é mais motivante. Tenho feito um trabalho de base, de melhoria de qualidade em produção de software com microempresas e os primeiros resultados são animadores. Com pouco investimento de tempo e recursos, temos conseguido avançar. Em breve conto aqui.
Artigo publicado originalmente em zeluisbraga.wordpress.com
[Crédito da Imagem: Inovação – ShutterStock]
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