O FB foi lançado em 2004 e fez seu IPO em fevereiro de 2012, como um simples site na web e um app incipiente, cercado de dúvidas e ceticismos se geraria receita. Hoje tem um valor de mercado de 300 bilhões de dólares. Não é uma empresa qualquer, mas contabiliza 1,5 bilhão de usuários ativos (um bilhão se logando em um único dia e pelo menos nove em cada dez usuários acessa o FB por um smartphone, ao menos parte do tempo), além de 900 milhões de usuários no WhatsApp, 400 milhões no Instagram, 700 milhões usando Messenger e outros 700 milhões no Groups. O FB e suas empresas são responsáveis por 4 das seis plataformas sociais mais acessadas do mundo. As outras duas são o YouTube a chinesa WeChat. O FB gera uma receita de cerca de 16 bilhões de dólares.
A visão de futuro do FB é uma aposta em duas tecnologias: Inteligência Artificial (sistemas cognitivos) e a combinação de realidade virtual com realidade aumentada (VR + AR). Todas as tecnologias têm o mesmo objetivo: aumentar a popularização do FB. A IA ajuda o FB a entender melhor seus usuários e aumentar sua participação na rede. Os usuários é que geram o conteúdo que o FB armazena e compartilha. VR+AR é considerada a forma de interação futura, para daqui a 5 a dez anos. Para o FB a combinação VR+AR estará para as interfaces dos smartphones atuais assim como estes foram ruptura para as interfaces via mouse dos desktops. Obviamente que o crescimento do FB decorre do aumento do seu uso pelos usuários atuais e futuros, daí a estratégia de também disseminar a Internet pela parcela dos usuários ainda fora dela (seu projeto de drones e o, às vezes polêmico, Internet.org). É uma estratégia diferente da adotada pelo Google, que cria várias iniciativas nem sempre conectadas entre si, variando de veículos autônomos a óculos inteligentes e computadores quânticos. A criação da holding Alphabet (uma “idea factory”) oficializa esta estratégia. Vale a pena ler o texto “Google Couldn’t Survive with One Strategy”. Mas, observem, o Google também tem um pensamento muito diferente das empresas tradicionais, pois não teme se arriscar em oceanos não navegados. Busca insistentemente o “oceano azul”.
Mas, voltando ao FB, eles olham o longo prazo e então voltam ao hoje e definem o que será necessário fazer no próximo mês para se atingir aquele objetivo de longo prazo. Para isso investe pesadamente, mesmo sabendo que o resultado não será no curto prazo. O exemplo da IA é emblemático. Como o alvo era contratar Yann LeCun, especialista em deep learning, o laboratório de IA foi criado em New York onde o pesquisador mora e dá aula, e não na sede do FB na Califórnia. Também o Connectivity Lab é outro exemplo, com o investimento em drones. Vale a pena ver este vídeo de pouco mais de três minutos sobre ele.
Outro aspecto interessante é a maneira de como adquire e integra empresas. Também diferente de muitas empresas tradicionais, que muitas vezes exterminam o “espírito” da empresa adquirida as dissolvendo totalmente em sua estrutura e cultura. Os cases Instagram, WhatsApp e Oculus VR mostram essa diferença. No Instagram, por exemplo, os fundadores continuam à frente da operação. O que o FB fez foi integrar os serviços, que tem muito em comum, e apoiar a empresa com sua infraestrutura. O resultado é que o Instagram, em dez meses após sua aquisição, triplicou o número de usuários.
O FB também é uma usina de tecnologias. A imensa maioria é disponibilizada em open source, inclusive o projeto de criação de data centers e servidores. Para lidar com a montanha de usuários e dados que transitam a cada segundo pelo FB é necessário uma infraestrutura de tecnologia especial. O projeto Open Compute Project mostra as especificações de hardware que o FB utiliza em seus servidores. Aliás, as grandes empresas da Internet não adquirem servidores dos fornecedores tradicionais, mas desenham e montam (em fábricas na China) suas próprias máquinas. Sugiro a leitura de “Where in the World Is Google Building Servers?”. E já começam a projetar seus próprios chips…recomendo ler o texto “Amazon joins other web giants trying to design its own chips”.
Curioso é o comentário de Mark, “At the beginning of Facebook, I didn´t have an idea of how this was going to be a good business. I just thought it was a good thing to do!”. Ou seja, as estratégias e os modelos de negócios foram sendo desenhados à medida que as coisas aconteciam. E não são imutáveis! As empresas pós-Internet, como o FB são um exemplo de como olhar a estratégia de forma disruptiva do paradigma atual. Vale a pena refletir sobre suas visões e ações. São empresas ajustáveis dinamicamente e temos muito que aprender com elas. Hoje é fundamental que os executivos aprendam a desaprender e a reaprender continuamente. A única constante é a disrupção.
[Crédito da Imagem: Facebook – ShutterStock]
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