Vou me aventurar nesse espaço, agradecendo ao convite do Augusto Vespermann em articular com vocês.
A primeira ideia que me ocorreu foi responder à minha presunção em participar de um grupo intitulado “TI Especialistas”.
Vamos lá!
Formei-me em 1987 em Processamento de Dados. Lembram-se disso – processamento? Quando digo isso hoje aos profissionais mais jovens, há certo franzir de testa, e alguns questionam: “Processamento de dados? Eu, hein!”. Tento explicar sem muita delonga: “É! Analista, programador, essas coisas.”. “Ah, tá!”
Meu primeiro emprego foi numa construtora, diretamente com dois engenheiros civis. Depois numa siderúrgica, na manutenção, com outros engenheiros – mecânicos, elétricos, de produção, químicos, eletrônicos e outros tais. Quando entrei para uma empresa de informática – outro termo em processo de caducidade – achei que encontraria meus pares. Qual nada, a empresa era totalmente chefiada por engenheiros: o patrão era mecânico, o chefe era de produção, outros eram elétricos. E entre os meus colegas programadores, havia dois engenheiros. Nessa empresa estou até hoje, onde iniciei desenvolvendo um sistema para a gestão da manutenção industrial – EAM, mais tarde RCM, Facilities, até Padronização de Cadastros de Materiais – coisas de engenharia.
Piadas? Só de arquitetos.
Se há alguém da nova geração que chegou até aqui, prepare-se: busque um dicionário com edição de 1990 – no máximo.
O ápice informático – vou insistir nesta palavra – eram os sistemas CAE, CAD ou CAM, que tinham a função de auxiliar os processos de engenharia, desenho e manufatura, respectivamente. Cheguei a sentar em frente a um PC APUANA – alguém conheceu? – com um engenheiro que nos trouxe dos EUA dezessete disquetes de 5 1/4”. Sim, dezessete. “Please insert disk 14.” “Please insert disk 2.” “Please don’t get nervous!”. Isso nos deixava com bíceps avantajados, calos nos dedos, e uma oportunidade de tomar um café. Pois a cada troca de disco, o carregamento nos permitia tal luxo. E, para quem viu o disco de 8”, o disquete foi uma maravilha! Pois eu e o engenheiro, após aproximadamente 327 trocas de disquetes, com um manual que era duas vezes maior que o código civil brasileiro comentado e discutido, conseguimos, em uma hora, desenharmos um ponto, outro ponto, e finalmente, uma reta. “Ufa, vamos tomar uma cerveja?”
Caros jovens: nada era visual, nada de GUI – Graphical User Interface. GUI é moderno! O comando era digitado. Drag and Drop – What is it? Nem vou tentar explicar o que é CICS e ZED. WYSIWYG era, talvez, algum comando Eiffel ou LISP ainda não utilizado.
Nessa época, tínhamos poucas escolhas ao sair da faculdade. Podíamos escolher entre sistemas comerciais como vídeo-locadora ou cadastro de clientes, dar manutenção em COBOL em sistemas IBM/3 que seus professores criaram, ou trabalhar para engenheiros. Esses últimos, ávidos por realizar mais cálculos, ou realizar os existentes rapidamente.
Minha escolha, ou sina, foi a última. E descobri ao longo dos anos que um sistema voltado para a engenharia leva a sério a Lei de Pareto, onde 80% do seu desenvolvimento serviam para processos de baixa complexidade, enquanto 20% deles faziam-no torrar os neurônios em sinapses impossíveis para se descobrir a covariância, o desvio, a soma dos quadrados, e as variações angular e linear para obter com o coeficiente de correlação o melhor momento futuro. “Ufa, vamos tomar uma cerveja?”
Desenvolvi ao longo desses anos processos para se calcular ângulo, momento qualquer, peso, massa, velocidade, variação, pressão, desvio, coeficientes e correlações – dentre outras tantas necessidades matemáticas. Algumas delas, poucas, confesso, até hoje não sei bem a que se destinavam. Mas as demais me permitiram, a cada nova empreita, combiná-las, aprimorá-las e transformá-las.
Hoje converso com um engenheiro, apresento-me a uma plateia cheia deles, ou troco mensagens já me achando “o engenheiro”. Na minha época ficou famoso um engenheiro que virou suco, será que sou um byte que virou engenheiro? É essa convivência, insistência, persistência e dedicação que nos permite nos alcunhar “especialistas” em algo?
Bom, minha carreira foi norteada pela engenharia. É o que chamamos de carreira vertical. Um coetâneo e conterrâneo teve carreira horizontal, e é tão ou mais especialista que os verticais. Mas isso é tema para outra conversa.
Com vocês, a palavra.
Abraços.
Ramon Gonzalez
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