Ao longo dos anos fiz entrevistas de recrutamento de analistas. O objetivo era encontrar o profissional que soubesse resgatar do cliente suas necessidades, e as transformasse em solução, que mais tarde resultaria numa especificação para programadores e testadores. Esse recrutamento nunca foi tão simples como de outras especialidades, pois do analista espera-se, dentre outras, três grandes habilidades: entrevistar, criar e transcrever.
A análise
Segue uma anedota sobre o cuidado com as entrevistas, especificações e resultados: A esposa do programador diz: “Zé, vai à padaria e traz 5 ovos. Se tiver pão, traz 6.” Ele voltou com 6 ovos e disse: “Tinha pão.” Outra bricadeira sobre o trabalho de análise quando o resultado fica aquém do esperado é que a entrevista foi como uma “conversa entre bêbado e delegado”. Há uma imagem clássica sobre um projeto de balanço cujos resultados parciais representam a dificuldade de entendimento entre as etapas de um trabalho. Digite “projeto balanço” no Google Imagens.
Mas são apenas conclusões anedóticas para o assunto. Creio que o problema dos profissionais desta área pode estar na leitura – ou na falta dela.
A leitura
No meu tempo de faculdade, uma professora de Redação devolveu-me uma prova com uma nota 3,5 e um comentário ao lado da nota: “Muito prolixo!” Fiquei transtornado, pois eu escrevi o contexto completo, detalhei o problema, não deixei tópico sem avaliação, e ainda assim tirei nota baixa. Ao apresentar minha indignação, a professora me respondeu que apesar do conteúdo, eu o estragara com minha prolixidade, explicações, detalhes, repetições e obviedades desnecessárias. E cravou a solução: “Leia. Quem não lê, não escreve.” Deu-me dicas de leitura, esclareceu meus erros, ajudou-me a refazer o texto da prova e insistiu: “Leia.”
Analistas que não lêem.
E nossos analistas de hoje? Lêem?
Num recente curso que fiz sobre Gestão em TI, o tema recrutamento de analista veio à tona. Era a mesma dificuldade dos demais gestores: como encontrar um bom analista, e como garantir que suas habilidades profissionais e acadêmicas se traduzissem num bom profissional. Técnicas de entrevista e testes foram discutidas. E, para minha felicidade, eu estava no caminho certo: solicitar ao entrevistado uma redação. Sim, além da simulação de uma entrevista de análise, uma singela redação devia ser solicitada. O problema ainda pode vir depois da contratação: dificuldade dos analistas em compreender os problemas dos clientes, e em transmitir as ideias obtidas. E, a dificuldade em compreender os textos dos analistas. Essa falha foi diagnosticada como carência de leitura por grande parte dos presentes no curso.
Invariavelmente ouço que “Técnicos bons lêem pouco, mesmo! E, por isso, são técnicos!” Recuso-me a aceitar isso. Técnicos lêem, sim! Bons profissionais lêem livros técnicos, manuais, apostilas e help o tempo todo. Converse com os profissionais certificados, e obtenha deles o tempo despendido entre as leituras, testes e simulações – o tempo de leitura é grande, senão o maior.
Mas e os demais profissionais? Lêem? Esse problema é só de analistas? Nossa área de TI possui um corpo profissional com interesse em leitura e pesquisa? Como está sendo formada a atual geração?
Escrevo esse artigo com essas interrogações porque creio que grande parte de nossos problemas possam ser resolvidos com uma melhor capacitação profissional através da leitura. E amplio a “leitura” para qualquer tipo de material: livros técnicos, romances, jornais, revistas, artigos e trabalhos de pesquisa.
Lya Luft, tradutora, poeta, novelista e escritora, disse em uma entrevista palavras assim: “Se quiseres ensinar seus filhos a ler, leia. Leia em qualquer lugar: na cama, na sala, na varanda. Mostre-se lendo. Espalhe livros pela casa: sala, mesas, armários e cabeceiras.” Ela crê que essa atividade de leitura é contagiante, seja em casa, seja no ambiente de trabalho.
A título de curiosidade, digitem “quem não lê” no Google e vejam os complementos obtidos nos hyperlinks apurados:
Quem não lê não escreve. Quem não lê não pensa. Quem não lê não entende.
Verdade? Você concorda? Você recomenda leitura a seus profissionais. Você presenteia livros? Você dá o exemplo?
A resposta é sua. Abraços.
“Quem não lê não pensa, e quem não pensa será para sempre um servo”.
Paulo Francis
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