Não contrate um gerente de projetos

Apresento neste artigo um problema muito comum relacionado a contratação de profissionais de gestão de projetos em organizações com pouca maturidade na área de projetos: o conflito entre o GP e a gestão departamental. No meu ponto de vista, é um erro tentar iniciar um processo de mudança organizacional por meio da contratação de pessoas mais “seniores”, porque estes restarão prejudicados em favor dos menos experientes e acostumados com culturas menos maduras em gestão de projetos.

Já estudou gestão de projetos ou administração de empresas? Se já estudou, deve ter ouvido falar em estruturas funcionais, matriciais e projetizadas. O que você deve ter em mente é que para transicionar uma organização de uma estrutura funcional para uma matricial o trabalho está fora do escopo de atividade de um gerente de projetos alocado dentro de um departamento específico.

Em uma estrutura funcional, a gestão do projeto é feita pelo gestor do departamento em parceria com os demais gestores de outros departamentos. Se existe um projeto de uma nova aplicação que envolve a área de TI e a área comercial, o gestor da TI pode gerir o projeto mas nunca vai ter autonomia para gerir a equipe comercial. Cada gerente no seu quadrado. Se esta organização fosse uma organização matricial fraca, por exemplo, a gestão do projeto seria transferida para um líder ou um gestor temporário alocado especificamente naquele projeto. Não é típico de estruturas matriciais fracas a existência de um gestor de projetos em tempo integral. Este gerente de projetos temporário receberia autoridade para o projeto que apresentei como exemplo, de nova aplicação, e teria autoridade sobre os membros da equipe de projeto temporariamente e depois seria realocado em sua função original.

Mas e o que acontece se uma empresa contrata um gerente de projetos e joga ele no meio de uma estrutura funcional? Um desastre! Não interessa quem, alguém vai sair machucado e a empresa vai se prejudicar. O caminho que leva ao inferno está cheio de boas intenções, não é? Pois não adianta tentarmos mudar uma organização funcional simplesmente contratando um gestor de projetos. É como tentar ensinar um porco a dançar: o gerente de projetos vai acabar sujo e o porco vai continuar na lama. Mudanças organizacionais devem ser conduzidas por um time de projeto voltado para a mudança, deve existir um mapeamento de processo de mudança e o melhor caminho aqui é a contratação de uma consultoria externa. Não estou argumentando que o gerente de projetos simplesmente vai implodir – o que não é impossível – mas seu papel não vai ser reconhecido pelos gerentes departamentais e isto vai ser um problema para todos. Além do mais, ele pode vir a colocar em risco o próprio papel dos gerentes departamentais e aí o conflito está armado.

Não contrate um gerente de projetos se você quer melhorar a gestão do seu negócio ou da empresa onde trabalha. Você precisa entender que gerentes de projetos profissionais vão exigir autoridade, vão entrar em conflito com a gestão departamental e vão, em último caso, simplesmente pedir para sair para fugir dos conflitos inevitáveis e da dissonância cognitiva gerada em função do seu mal posicionamento dentro do negócio como consequência de uma decisão equivocada da administração da empresa. Não há compatibilidade entre o perfil profissional de alguém com experiência em gestão de projetos e uma estrutura funcional – a não ser que o gerente tope ser um analista de projetos ou de qualidade, algo menos do que GP de fato. E não é para isto que estudamos, ou é? Não tente transformar um médico em enfermeiro.

Um forte abraço e não deixe de comentar e me ajudar a construir uma visão completa a respeito do assunto deste artigo!

[Crédito da Imagem: Gerente de Projetos – ShutterStock]