Direito & Tecnologia

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Tráfico de drogas ou Crimes Eletrônicos?

publicado por Rafael Corrêa

Pense comigo. Se você fosse um criminoso competente e inteligente qual tipo de crime você cometeria? Tráfico de drogas ou Crimes Eletrônicos?

Obviamente que sua primeira resposta seria: “Se sou competente e inteligente jamais seria um criminoso. Nenhuma pessoa competente e inteligente teria motivos para se tornar um criminoso”.

Ok, eu não quero que você seja um criminoso, mas no seu ponto de vista, qual o tipo de crime citado acima poderia causar mais benefício patrimonial ao vagabundo agressor da sociedade?

Vou ser honesto, eu mesmo já havia dito, informalmente, a algumas pessoas, que o crime de tráfico de drogas gera efetivamente muitas divisas aos criminosos, porém a “linha de vida” da ‘empresa’ ou ‘organização criminosa’ envolvida com o tráfico de drogas é muito curta, assim como a vida das pessoas que compõem tal “quadrilha”.

Mas fiquei surpreso ao navegar pelo site da Polícia Civil do Paraná (clique aqui para visitar a fonte) e me deparar com uma matéria que me deixou um pouco surpreso.

A matéria, ao que tudo indica, seria do ano de 2008. Nela, o Perito da Polícia Federal e presidente da Associação Brasileira de Especialistas em Alta Tecnologia (Abeat), Paulo Quintiliano, com base em informações do Banco Mundial, afirma que os crimes cibernéticos já estão gerando quantias maiores, e sem a necessidade de utilização de armas de fogo.

Dentre outras coisas, citou a dificuldade de se investigar quadrilhas que utilizam-se de falsos sites hospedados em outros países e também que as informações sempre são conseguidas ao quebrar o elo mais fraco da corrente, que todos nós já sabemos que são os usuários.

Após leitura desta matéria passei a analisar algumas informações existentes em nossa unidade policial e cheguei a algumas conclusões.

I – No ES, pela quantidade de ocorrências registradas no Nurecel, conforme já fora noticiado pela mídia capixaba, percebemos que somente o Bradesco indica seus clientes a procurar a Delegacia e registrar B.O. para realizar a restituição dos valores “furtados”;

II – No ano de 2009, somente em relação a ocorrências registradas no Nurecel, o prejuízo causado pelos criminosos foi de aproximadamente R$ 800.000,00 (oitocentos mil reais), informação esta também já divulgada à mídia capixaba.

Lembre-se, os dados acima se referem exclusivamente ao casos com vítimas no ES e as efetivamente registradas e de bancos, só os casos de Bradesco, sendo certo que diversas ocorrências registradas em outras Delegacias não foram encaminhadas para o Nurecel.

Assim, com base nos dados citados acima, estimo para o ano de 2009, informalmente, que o prejuízo causado pelos criminosos que utilizaram a Internet para o cometimento de seus ilícitos possa ter ultrapassado os R$ 10.000.000,00 (dez milhões de reais) somente no estado do Espírito Santo. Ou seja, uma lucratividade expressiva.

Claro que nem todos os crimes cometidos foram perpetrados por uma única quadrilha e tampouco todos os crimes são da mesma natureza. Porém, também sei que são poucas as quadrilhas de tráfico de drogas que conseguem realizar uma movimentação financeira, sem baixas, em valores tão expressivos anualmente.

Respeito a opinião do colega Policial Federal em suas declarações à matéria jornalística, mas ao meu ver, de forma ampla, sem considerar os riscos e resultados da prática criminosa, os crimes que envolvem a prática do tráfico de drogas movimentam uma quantidade financeira muito maior que os crimes cometidos pela Internet. Mas tenho que admitir e enfatizar: POR ENQUANTO. Não sei até quando.

Autor

Rafael da Rocha Corrêa é Delegado da Polícia Civil do ES e já foi Titular da DRCE (Delegacia de Repressão aos Crimes Eletrônicos e da Assessoria de Informações (Inteligência, Estatística e Delegacia Online). * Pós-Graduado em Direito Processual Civil pela FDV/ES. * Professor da Academia de Polícia Civil do ES. * Autor de diversos artigos na área de "Crimes Eletrônicos" e "Direito e Internet". * Site pessoal: www.rafaelcorrea.com.br * E-mail: rafael@rafaelcorrea.com.br * Twitter: /rrcorrea

Rafael Corrêa

Comentários

5 Comments

  • Parabéns pela matéria Rafael.
    Verdadeiramente você destacou de forma maestral o grande problema com crimes virtuais que em apenas um estado causa tanto prejuízo e com base no seu título, os criminosos estão pensando duas vezes e trocando suas armas por cursos de especialização em hackerismo, felismente cursos de fundo de quintal…
    O trabalho dos peritos digitais está se tornando peça chave para que os crimes virtuais não passem a se tornar um surto como o tráfico e acabe dominando parte ou totalmente nossa sociedade.

  • Boa matéria.

  • Hoje em dia é muito fácil tirar dinheiro de um cartão de crédito por exemplo, mais fácil do que enfrentar tiros no morro.

  • Otimo artigo! Trabalhei na àrea de segurança de informação de um banco, e posso dizer a você que mesmo com os investimentos internos na àrea de segurança. O melhor meio de se evitar esse tipo de crime ainda é a conscientização do uso dos recursos bancários ( cartão, internet banking, senhas ou itoken)para com usuário.
    A vunerabilidade maior está em usuário não saber como utilizar esses recursos de forma segura, isso é um grave problema num país onde se está formando uma legião de analfabetos digitais.

  • Parabéns! Excelente texto. Muito esclarecedor Rafael.

    Agora preciso da sua ajuda. Estou sendo vítima de um golpe. O estelionatário é um conhecido seu.

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