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Analisando o sobrenatural II: O espírito do banco de horas

publicado por Thiago Casquilha

Este espírito, conhecido por não cumprir suas promessas, é ainda mais cruel que o fantasma da hora extra gratuita, pois se alimenta da esperança dos inocentes e da credibilidade dos coitados.

É chamado pelas empresas para confortar marmanjos que trabalham muito além das 40 horas semanais, dando-lhes a falsa segurança de que todo aquele sacrifício não será em vão. Que poderão tirar até férias com aquelas 200 horas que eles têm sobrando no “banco”.

Caso a liderança avise a equipe para anotar todas as suas horas excedentes em uma planilha, salvando-a num diretório obscuro, tenha medo: o espírito do banco de horas já oprime seu chefe.
Para ser invocado, dois gerentes e um representante do RH precisam fazer uma oferenda, queimando uma carteira de trabalho, uma foto 3×4 de Getúlio Vargas e um PDF impresso com a Consolidação das Leis Trabalhistas.
Este ser garante de todas as formas que você não verá retorno algum de qualquer trabalho além das oito horas diárias. Para isso, entre muitas coisas, usa seus poderes para lhe mudar constantemente de equipe, para ouvir do seu chefe um “o projeto aqui é mais corrido do que o seu antigo, não tem como você tirar todas essas horas” ou até para perder suas planilhas pelo labirinto de diretórios da rede. Assim, qualquer tentativa de rastrear seu esforço vai pelo ralo.

– Mas como posso saber quais empresas estão sob a sua metodologia do “me engana que eu gosto”??

Felizmente, são muitos os sintomas. Vamos aqui citar alguns:
Tente sempre marcar sua entrevista para o fim do dia, de preferência às 18 horas.
Ao chegar na empresa, repare nos relógios: todos devem estar parados às 17:25, não contabilizando hora excedente alguma. O seu relógio deve ser o único funcionando, mas a essa altura, com o ponteiro dos segundos já levando 2 minutos para mudar de posição.

Ainda na entrevista técnica, pergunte ao líder sobre horas excedentes. Caso ele use a frase “aqui as pessoas vão trabalhando e depois a gente acerta”, fuja. A simples menção de “depois a gente acerta” já é o derradeiro sinal de que você nunca verá estas horas trabalhadas.

Caso esteja sem relógio, apele para os funcionários: pergunte-os sobre seu banco de horas, e assim como um viciado que se engana dizendo “paro quando eu quiser”, eles repetirão o mantra “tiro essas horas quando eu quiser!”. Como podem ver, estão alheios à realidade de que no máximo, vão conseguir sair uma hora mais cedo, numa terça-feira chuvosa qualquer.

E se eu já trabalhar em uma empresa dominada? O que faço?
Leve sua carteira de trabalho, comprovando que é um funcionário, e uma cópia impressa da CLT, para que vejam suas obrigações. Mas não leve nunca junto, de forma alguma, a foto de algum ex-presidente.

Autor

Consultor SAP BW, Analista desenvolvedor mainframe, fotógrafo amador e quase escritor. Atuei em projetos internacionais de desenvolvimento e suporte à produção, nas empresas de TI que a maioria já trabalhou e todos conhecem. E-mail -> thiago.tiespecialistas@gmail.com LinkedIn -> http://br.linkedin.com/in/thiagocasquilha Twitter -> http://twitter.com/casquilha Todos os artigos por mim escritos, sem exceção, são textos de ficção. Qualquer semelhança com a vida ou fatos reais será apenas uma coincidência de probabilidades astronômicas.

Thiago Casquilha

Comentários

2 Comments

  • O seu artigo está de parabéns meu caro. Sempre com o humor perspicaz que lhe é característico.

    Antonio

  • Adorei seu conto de “ficção” meu caro! Parabéns pelo artigo.

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