Como o Google está estragando os profissionais de TI da geração Internet

Caro leitor, o objetivo desse artigo é expor uma opinião pessoal que, espero, possa levá-lo a refletir sobre como a facilidade e velocidade do acesso à informação na web estão impactando negativamente alguns jovens profissionais de TI que chegaram ao mercado nos últimos anos.

Primeiramente, gostaria de frisar que não sou um professor de alguma disciplina arcaica que abomino a Internet. Pelo contrário, trabalho com TI já faz quase duas décadas, sendo que nos últimos dez anos também atuo como docente em cursos de análise de sistemas e redes de computador tanto no ensino técnico quanto no superior .

Durante os últimos anos ministrei diversos treinamentos em Ethical Hacking para profissionais de TI de todos os tipos e idades. Os alunos sempre iniciavam o treinamento me perguntando o que um PenTester (hacker ético) precisa saber para ter sucesso na área. E eu respondia: aprender a invadir sistemas é somente a cereja no topo. As camadas do bolo, que são conhecimentos sólidos de fundamentos de redes, sistemas operacionais e programação, são essenciais para alcançar o topo. Sem elas, a cereja desaba.

Notei durante meus anos de atuação como professor uma crescente disparidade, tanto dentro da Faculdade quanto durante os cursos de extensão: muitos jovens não se interessam em aprender o básico do funcionamento de sua área. E isso está gerando um grande problema na formação profissional dos jovens da Geração Y, aquela que quer “tudo na hora” e muitas vezes não entende que precisa “aprender” antes de “fazer”.

Não sou contra a utilização de ferramentas de pesquisa online para o ensino, exatamente o contrário: acho que sites como o Google, Youtube e vários outros são importantes fontes de conhecimento. Plataformas como o Udemy provam que existem hoje excelentes opções online para cursos, em que qualquer um pode aprender os fundamentos de qualquer área.  O erro está em utilizar os recursos da tecnologia como uma extensão de “consulta rápida” do seu cérebro.

Imagine que você pegou um livro técnico qualquer da sua área, mas de um assunto que não domina tão bem. Você lê com calma os capítulos introdutórios sobre os fundamentos ou já “pula” para a parte prática, pensando que “vendo um ou dois exemplos já entendo como isso funciona”.Esse é o ponto que quero chegar. Você entendeu o exemplo, mas não o conceito por trás dele. É o que muitos jovens fazem hoje: querem um tutorial para fazer a coisa funcionar na hora, não ler um livro chato que explica como essa coisa funciona.

Já vi profissionais de redes de computadores que, por não gostarem de lógica, buscavam “scripts” prontos na Internet para tarefas administrativas. Ou programadores que pesquisam como realizar uma determinada tarefa e ao invés de aprenderem como fazê-lo usam literalmente o código pronto, muitas vezes sem entender o que exatamente ele faz. Já tive um aluno que, atualmente trabalha com Segurança de redes, mas não sabe criar uma simples regra de firewall sem consultar o Google primeiro. Quando o questionei, ele me respondeu: “ninguém decora isso hoje, tem tutorial na Internet pra tudo”.

O recado que quero passar aos jovens profissionais é: não é vergonha retornar ao básico. Quando a base é sólida qualquer conhecimento mais avançado torna-se apenas uma extensão do que você já sabe, e é digerido com muito mais facilidade. Se você pesquisar alguma coisa, tente entender exatamente o que aquilo faz e use esse conhecimento para se tornar um profissionais mais completo. Não seja da geração ctrl+c / ctrl+v. Na faculdade você pode até passar, mas na vida não.