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Desenvolvendo (com) Feedback

publicado por Luis Otávio Médici

Desenvolvendo (com) FeedbackCena de um filme antigo (ou antiquado): cientista maluco trabalhando em sua mais nova invenção em seu laboratório toscamente decorado contando somente com a companhia de um auxiliar estabanado.  Cena de uma série de TV relativamente nova: um desenvolvedor solitário em sua baia escrevendo linhas e linhas de código cercado de caixas de pizza e bilhetes avisando que interrupções não são bem-vindas.

Obviamente que estas cenas fazem parte da ficção, porém semelhanças com a realidade de certos recantos acadêmicos ou com visual de alguns departamentos de desenvolvimento não são meras coincidências. Os “ratos de laboratório” ainda habitam a tecno-esfera, mas acredito que esta espécie singular esta caminhando lentamente para a extinção.

O aumento da complexidade dos sistemas e o aumento da pressão por prazos de entrega menores têm nos levado a buscar formas de fazer mais com menos, ou seja, buscamos maior produtividade e eficiência.  Para tanto, a contribuição de cada integrante do time de desenvolvimento passou a ter uma importância ainda maior para se atingir o resultado esperado. Saem os “ratos de laboratórios” com atitudes de “heróis que salvam o mundo” e entram em ação times com conhecimentos e experiências múltiplas que trocam informações e se ajudam mutuamente.  Um exemplo deste movimento são as práticas de desenvolvimento ágil, onde interação e o compartilhamento de responsabilidades são valorizados (vide referências).

OK. Este é o plano. Pegamos um trabalho grande e dividimos em partes. Distribuímos estas partes entre os integrantes do time. Estas pessoas estudam com atenção estas partes para entender muito bem do que se tratam. Muito bem, porém ainda não muito bom. Esta parte especificamente ainda está somente na cabeça de um e, além disso, foi entendida com o viés ou mesmo filtro do conhecimento e experiências deste mesmo um. Eis que é chegada a hora da interação. Todos apresentam as suas partes para o time com objetivo de passar pelo crivo do entendimento e contribuições alheiros.  É para este momento do plano, o momento de interação e compartilhamento, que gostaria de dar minha contribuição com este artigo.

Que tal falarmos sobre feedback?  O termo feedback, ou retroalimentação, foi utilizado pela primeira pelo matemático norte-americano Norbert Wiener, e foi cunhado durante seus estudos pioneiros sobre cibernética. Dada uma causa A temos um efeito B. Com a retroalimentação, dada uma causa A temos um efeito B que por sua vez retroage e gera uma perturbação na causa A. Esta ideia simples (como as boas ideias devem ser) impactou de forma importante muitas áreas do conhecimento: biologia (os seres vivos possuem mecanismos de regulação), matemática (teoria da informação), engenharia (controle), ciência da computação (simulações) e ciências humanas (vide referências).

Vamos conversar um pouco mais sobre um exemplo do uso do conceito de feedback no contexto das ciências humanas, mais especificamente na forma como as pessoas interagem e se comunicam. Em muitas empresas são incentivados momentos de conversas entre lideres e liderados a respeito de como cada um vê o desempenho do outro. No meio corporativo chamamos isso de feedback (não é coincidência). Ao expormos de forma clara nossa opinião sobre um trabalho do colega ou líder, causamos algum impacto na forma como este líder ou colega irá se comportar daquele momento em diante (olha o efeito perturbando a causa). Para que este impacto seja positivo e perene é necessário que este processo de retroalimentação entre pessoas seja feito com muita sabedoria. Felizmente existem livros e técnica que nos ajudam nestas horas.

Voltemos ao ponto do plano onde um integrante do time de desenvolvimento está pronto para compartilhar a sua parte com o resto do time de desenvolvimento.  Material preparado, sala de reunião cheia, apresentador apreensivo e expectadores alguns mais ou menos motivados a ouvir. Ao final da apresentação chega o momento da inevitável pergunta: dúvidas e comentários? Três pontinhos e o silêncio é rompido (estou sendo otimista) marcando o início de um processo de feedback em grupo. Como eu acredito muito na importância deste momento gostaria de compartilhar com vocês uma técnica de feedback que aprendi durante um curso de “Design Thinking” promovido pela Universidade de Stanford e realizado através de uma plataforma MOOC  (vide referência).

Trata-se de uma técnica que utiliza um quadro que nos ajuda dar feedback construtivos e mais completos. Construtivos porque ele nos ajuda no “como” que muitas vezes é tão importante quanto o conteúdo. Completos porque ele nos ajuda a pensar de forma abrangente. Veja o quadro abaixo:

Créditos: Institute of Design at Stanford

Créditos: Institute of Design at Stanford

 

No início da apresentação, desenhe no seu caderno dois eixos formando quatro quadrantes. No quadrante superior esquerdo faça um sinal de mais (+). No quadrante superior direito trace um delta (triângulo). No quadrante inferior esquerdo coloque um ponto de interrogação (?). No quadrante inferior direito desenhe uma lâmpada. Cada uma destes pequenos desenhos funcionam como ícones que definem e lembram o que deve ser preenchido em cada quadrante.

O sinal de mais (+) nos impulsiona a anotar os pontos positivos das ideias apresentadas, evitando-nos de cair na armadilhar de achar que nada está bom.

O delta aguça o nosso senso crítico na direção das sugestões de melhoria. Aqui cabem frases do tipo “E se você dividisse este processo em duas etapas”. Colocar uma sugestão de melhoria utilizando a linguagem condicional “e se” ajudar a manter o canal de comunicação aberto.

O ponto de interrogação nos deixa menos ansiosos, pois sabemos que existe o espaço para dúvidas. Anote neste quadrante suas pertinentes e necessárias perguntas. Cabe aqui lembrar que a pergunta de um pode provocar respostas de dúvidas que ainda não foram percebidas pelos outros (eu não sabia que não sabia).

A lâmpada está aí para ter um espaço para nossos lampejos. Sabe aquela ideia que temos no meio da apresentação e que não podemos esquecer? Ela tem lugar e importância neste quadrante. Ideias são bem vindas e ganham outro peso quando compartilhadas dentro do contexto do grupo.

Durante a apresentação, faça pelo menos duas anotações em cada um dos quadrantes. Pode parecer que não, mas é muito importante definir um número mínimo de anotações, pois isso direcionará sua atenção e energia para buscar estas informações durante a fala do colega. Ao final da apresentação todos compartilham suas informações e, eventualmente, constroem um quadro resumo que represente a retroalimentação do time.

Recomendo fortemente que você teste este quadro de feedback em sua próxima reunião. Estou seguro que ele lhe ajudará a chegar mais preparado para o momento de “Dúvidas e Comentários”.  E por pensar nisso: este texto pertence a um blog e aqui embaixo existe um espaço para comentários. Que tal você começar a exercitar esta técnica utilizando o quadro sugerido para dar o seu feedback sobre este artigo?

[Crédito da Imagem: Feedback – ShutterStock]

 

Referências:

Curso MOOC Design Thinking

https://novoed.com/courses
http://dschool.stanford.edu/dgift/
Livro: Design Thinking: uma metodologia poderosa para decretar o fim das velhas ideias – Tim Brown – Editora Campus/Elsevier

 

Autor

Engenheiro formado em engenharia elétrica pela Faculdade de Engenharia Industrial (SP) e pós-graduado em administração pela Fundação Getúlio Vargas (SP). Tem com 15 anos de experiência em sistemas embarcados e negócios internacionais, tendo atuado como engenheiro de aplicações, gerente de produtos e engenheiro de sistemas em empresas de telecomunicações, consultoria, representação comercial e distribuidores . Atualmente trabalha na empresa Arcon Serviços Gerenciados de Segurança.

Luis Otávio Médici

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