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O grande problema da escassez de talentos

publicado por Renan Crippa Freitas

O grande problema da escassez de talentosTodos os anos, novos cursos técnicos e de graduação são criados pelo país para suprir a crescente demanda das empresas de tecnologia em preencher suas vagas, há incentivos de todos os lados para ensinar as pessoas programarem. Com um mercado aquecido e que cresce todos os anos acima da média, aumentam as vagas de emprego disponíveis os RHs das empresas. Porém, nas faculdades, faltam pessoas para preencher as cadeiras que sobram nas salas de aula dos últimos anos e as formaturas sempre são com pouquíssimos alunos.

As escolas ainda sofrem para formar turmas, mais difícil ainda é manter e formar esses profissionais. Os cursos da área de TI (Ciências da computação, Sistemas de Informação, Informática, Engenharia de Software, dentre outros) possuem os maiores índices de desistência, criando um desafio ainda maior. Enxergando essa oportunidade, os novos cursos que surgem inovam, atraem os alunos de inúmeras maneiras, criam propostas diferentes, abrem alternativas na formação do programador e mesmo assim as dificuldades continuam.

Em um mercado que depende tanto do conhecimento e de uma mão de obra altamente capacitada para as tarefas básicas, qual é então a solução para esse caos?

Convido você leitor a conhecer o portal Qedu (eu mesmo não conhecia até alguns meses atrás, quando me foi apresentado). Essa ideia genial surgiu de alguns talentosos desenvolvedores que participaram de uma competição de programação,  onde buscaram simplificar a interpretação de dados públicos que ficam em bancos de dados enormes e pouco organizados. Nesse site, são compilados dados sobre a formação do aluno brasileiro, separado por estados e por matérias básicas.

É analisando esses dados que podemos descobrir onde começa o grande problema da escassez de talentos no mercado de TI.

Qual é – das matérias básicas – a competência essencial que aprendemos na escola, tal qual todo programador deve ter? Está certo quem pensou na matemática.

Tão essencial para qualquer aluno de cursos da área de exatas, as escolas brasileiras deveriam prover para todo e qualquer jovem que passe pelo ensino fundamental e médio, ambiente e oportunidades que o permitam desenvolver raciocínio lógico e quantitativo para solucionar problemas, no mínimo, básicos.

Porém, não é essa a realidade que mostra o Portal Qedu. Segundo os dados da Prova Brasil, somente 33% de todos os alunos que estão no 9° ano possuem o conhecimento suficiente (nessa métrica, 9% somente possuem conhecimento avançado) em matemática, ou seja, dá pra dizer que 67% não são capazes de resolver um simples exercício, quanto mais estão preparados para aprender a programar. Provoco você a seguinte reflexão: Lembra da matéria que você mais tinha dificuldade em aprender no seu ensino fundamental, você gostava dela? Era aquilo que você queria se destacar? Provavelmente se você está no mercado de trabalho, não é com aquele conhecimento que você sobrevive hoje.

A essa altura do texto, imagino que já entendeu onde quero chegar. Sim, a má formação dos alunos no ensino básico brasileiro e a péssima qualidade na educação impactam diretamente na formação de novos programadores e um dos motivos que levam ao alto índice de desistência nos cursos. Ser um desenvolvedor é muito mais acessível do que a maioria das profissões que necessitam de ensino superior ou técnico, há até programas de incentivo do governo com bolsas de estudo e capacitação gratuita para famílias de baixa renda. Mas as pessoas estão despreparadas para tal e quando encaram algo que não foram preparadas, desistem. Não é uma crítica direta aos alunos, muito menos estou dizendo que são incapazes, mas o acesso à educação ainda é um problema enorme. Para constatar, é só ver que a maioria dos cursos de formação de programadores possuem matérias de nivelamento.

Críticas a gestão pública podem ser pertinentes, mas não acredito que devemos esperar o governo resolver esse problema, como manda nosso instinto paternalista de brasileiro. Na minha opinião, a ação coletiva privada tem um impacto muito maior e mais rápido de mudar esse cenário, além de beneficiar o país como um todo. Projetos como levar tecnologias para a sala de aula, incentivar crianças a conhecerem novas possibilidades, inserir matérias como raciocínio lógico ou capacitar professores em novas metodologias de ensino são só exemplos do que pode ser feito.

Isso só se falando de ações diretas. Ainda há outras formas de incentivo a educação básica de lógica e matemática que não precisam estar dentro da sala de aula. Para não se delongar, sugiro conhecer alguns projetos como Kano Kit, Code.org ou Primo.

O mais importante é a iniciativa privada estar presente dentro das escolas e repensar a educação, desenvolver programas junto com o poder público para impactar nessa realidade. Não é uma tarefa fácil, mas há pessoas que já pensam nisso, fazendo a diferença. Imagina se isso tomar grandes proporções, se os alunos aprenderem a utilizar ferramentas como Khan Academy fazendo delas parte de sua rotina, não teríamos um país melhor?

[Crédito da Imagem: Escassez de Talentos – ShutterStock]

Autor

Procuro trazer a minha experiência misturada com um pouco de opinião e estudo para assuntos que são críticos para fomentarmos novos negócios com uso da tecnologia. Sou Graduado em Administração pela Universidade Estadual de Maringá, atuando na área desde 2011, com foco em Gestão Estratégica e Canais Digitais. Hoje trabalho com Marketing e Estratégias Digitais para empresas que faço parte (WebSpace Marketing e Enteléquia Treinamentos).

Renan Crippa Freitas

Comentários

3 Comments

  • Porque só se pensa em programador quando falam em TI?? essas pessoas que criam estes textos, fazem reportagens ou que tratam da TI, pelo amor de Deus, os cursos de TI NÃO FORMAM SÓ PROGRAMADORES!

    • Olá Ricardo.
      Obrigado por expressar sua opinião no texto que publiquei sobre a formação do desenvolvedor e concordo com ela. Quando você se refere ao programador, não compreendi se quer dizer sobre outras profissões e áreas que o formado pode seguir (por exemplo, um administrador de infra) ou se está afirmando que o um profissional de TI é muito mais do que um programador.
      Em ambos os casos você tem razão e meu objetivo não foi simplificar a figura do profissional. Acredito que as universidades nem devem capacitar os profissionais para serem somente programadores, porque o mercado quer muito mais do que isso e há muito mais possibilidades para quem passa por essa formação profissional. Há grandes oportunidades em mãos de quem faz um curso da área, muita coisa ainda nem foi criada e muitos negócios vão surgir em torno de tecnologia.

  • A qualidade do ensino de matemática já vinha declinando desde quando eu estudava, e hoje está ainda mais fraco. Pude constatar isso em primeira mão quando meu sobrinho que está na 7ª série me pediu ajuda em seus deveres de matemática. Eram problemas simples que ele não conseguia resolver porque não compreendia a famosa regra de três. Fui olhar no material didático dele e simplesmente não era ensinado a regra de três, mas sim uma série de “receitas de bolo”, todas derivadas dela. Detalhe: ele estuda em colégio particular. Calcule ( 🙂 ) como está o ensino público. Detalhe #2: ele vinha tirando notas altas. Como? Simplesmente porque as avaliações não têm rigor nenhum.
    Mas é isso aí. O que nos resta é ensinar esse povo depois de adulto mesmo, fazer o quê.

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