Carreira

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A busca pela qualidade de vida

publicado por Alberto Parada

A busca pela qualidade de vidaDuas horas para ir e mais duas para voltar, com as oito horas de trabalho diário, passo doze horas longe de casa. Antes de ter família, a dedicação exclusiva para o trabalho compensava, afinal, o dinheiro era para as infindáveis baladas. Hoje, no entanto, as prioridades mudaram.

Home office algumas vezes por semana pode ser uma boa opção, continuo fazendo o que eu gosto em uma empresa que praticamente nasci e assim posso cuidar da minha família e, principalmente, curtir meu filho. Pena que nem todos os chefes pensem assim.

A crise bate na porta, a empresa passa por um momento delicado e, depois de uma vida, percebo que é hora de partir, afinal me sentir esmagada diariamente no transporte público está muito longe de ser meu sonho de qualidade de vida.

O problema não são as oito horas de trabalho. Amo trabalhar e faço parte do grupo de mulheres “pai” de família, ou seja, não tenho a menor possibilidade de virar dondoca. Só que no meu conceito de qualidade de vida o deslocamento para ir e voltar do trabalho não pode passar de uma hora.

O acordo está assinado e minha saída com hora marcada. Uma avalanche de emoções começa a tomar conta de mim: aliviada, afinal vou aumentar meu tempo com o que é prioridade na minha vida – meu filho – vou levá-lo para a escola, arrumar a casa, e, se não conseguir um emprego rapidamente vou fazendo uns “freelas”.

O último dia se aproxima e um buraco enorme se aloja no meu peito. Foram muitos anos, comecei aqui, era uma criança, tudo que aprendi foi aqui, meu esteio, porto seguro; na verdade, a empresa tornou-se a minha família, a minha chefe é minha melhor amiga e os colegas de trabalhos meus irmãos.

Os primeiros dias são como férias, mas a sensação de vazio aumenta. O tempo passa e coisas que eram bobas estão crescendo e ficando monstruosas, pequenas rusgas com o companheiro viram motivo de decretar a terceira guerra mundial, me sinto só e desnorteada.

A procura por trabalho aumenta e a cada entrevista sinto mais saudades da antiga empresa. O que era defeito hoje olho com saudades, os “freelas” não pagam as contas e as propostas de trabalho são aquém do que eu imaginava.

Novos medos surgem e sensações adversas também. Se antes eu me sentia em débito com minha família, por falta de tempo para dedicar a eles, hoje me cobro por não ter dinheiro para proporcionar o que proporcionava. Deve ser coisa de mulher, estamos sempre nos cobrando.

Não dá mais para ficar escolhendo, vou aceitar o primeiro emprego que aparecer, afinal, o tempo com a minha família compensa qualquer sacrifício.

Os primeiros dias são estranhos. Tudo absolutamente novo: pessoas, chefes, cultura, costumes, me sinto um peixe fora d’água. Penso “com o tempo isso passa”. Depois do primeiro mês e o crédito do salário tudo ficou pior, não vai dar para pagar todas as contas e odeio o que estou fazendo. Se por um lado tenho mais tempo para a minha família, por outro, as oito horas que passo trabalhando são infernais.

O tempo passa e percebo que as angústias mudaram. Sinto-me sozinha, um tanto desamparada, e o que eu imaginava ser qualidade de vida transforma-se em um pesadelo.

O que fazer agora? Dar um passo atrás, voltar a morar em uma cidade grande e buscar um emprego que me motive, e com isso abdicar do tempo e da qualidade de vida com a minha família ou tentar me acostumar nesse novo modelo?

Depois de alguns meses concluo que me precipitei e não planejei, com os detalhes necessários, os passos para realizar meu sonho de qualidade de vida, agi por impulso e acabei apenas trocando de problemas.

De dentro para fora, repenso meu casamento, morar no interior, meu tempo com meu filho e minha carreira. Como sou o arrimo da casa não posso contar com a possibilidade de não ter uma renda recorrente para sustentar a família, peso os prós e contras e decido que o melhor é voltar a morar na cidade grande, onde existe mais abundância de trabalho. Não terei o quintal para brincar todos os dias com o meu filho, porém o verei acordado e estarei mais por perto.

Sonhei que a qualidade de vida era poder estar mais tempo com a minha família dando-os dedicação exclusiva, mas descobri que a qualidade de vida é muito mais que isso, é olhar para eu mesma como mulher e identificar todas as mulheres que sou, mãe, esposa, filha, profissional e procurar dar qualidade de vida da maneira mais equilibrada para todas elas. Sei que não é fácil nem simples, mas tenho certeza que não terei qualidade de vida caso abra mão de uma delas.

[Crédito da Imagem: Qualidade de Vida – ShutterStock]

 

Autor

Fundador do : descomplicandocarreiras.com.br

Alberto Parada

Comentários

1 Comment

  • Vejo minha vida nesse texto. Com uns poréns…
    Sou homem.. Hehhehe, ainda não me separei e nem voltei para a cidade grande…

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