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O dia seguinte de um curso

publicado por Flávio Steffens

O dia seguinte de um cursoTalvez uma das situações mais comuns e também mais desafiadoras para qualquer gerente ou executivo é o de lidar com o dia seguinte de um curso. Querem ver? Primeiro vamos contextualizar o que eu quero dizer com isso. Quando fazemos um curso, normalmente o fazemos para nos capacitar em alguma coisa. No caso de gerentes e executivos, normalmente essa capacitação é ligada a alguma mudança na engenharia, processos ou mesmo a gerência de projetos.

Considerando um curso como sendo ministrado por alguma pessoa, ou mesmo uma palestra ou até mesmo livro em que estamos lendo, normalmente nos deparamos com situações em que achávamos que só nós havíamos vivido. Quando o palestrante conta situações como funcionários desmotivados, rotina enfadonha, problemas de engenharia e processos, etc. quantos de nós pensa naquele momento “Mas esse sou eu”? Não é raro isso, certo.

E então vemos a proposta para a solução dos nossos problemas. Pode ser o SCRUM, pode ser a “gerência-minuto”, pode ser a “liderança servidora”, pode ser o PMBoK… o fato é que começamos a nos deparar com mecanismos que são aparentemente simples de serem postos em prática para atacar nossos problemas. E isso nos motiva durante esse aprendizado.

No caso de cursos com outras pessoas, a sensação é duplicada pois estamos convivendo com outras pessoas como nós, que também estão descobrindo esse novo mundo. O clima é quase de festa, como se a partir daquele dia tudo iria mudar.

Chegamos em casa, após o fim do curso, cheio de idéias e com um planejamento todo pronto para ser colocado em prática. As vezes quase nem dormimos, tamanha é a excitação.

Então chega o dia seguinte do curso. E chegamos no trabalho cheio de alegria, e parece que todo aquele Novo Mundo em que vivenciamos durante o curso, desaba. Nos deparamos novamente com todas aquelas situações de funcionários desmotivados, rotina enfadonha, problemas de engenharia e processos, etc. E, na maioria dos casos, nos desmotivamos com a mudança.

Alguns ainda tem uma sobrevida: conseguem sobreviver por alguns dias, mas o excesso de problemas da empresa nos absorve e aquele novo mundo se torna algo “para depois”. Outros, ainda conseguem trazer os conceitos a diretoria ou aos funcionários, mas ao notar que a reação deles é de desconfiança geralmente com a sensação de que eles pensam “só ele para achar que isso dará certo aqui”, vemos que aparentemente o dia seguinte de um curso é uma das piores coisas que acontecem na vida de um gerente e executivo.

É preciso ser forte, muito forte, para continuar a resistir a tudo isso. E lutar contra a correnteza, pois acreditem: ela fará o possível para te colocar no “curso normal das coisas”.

Por que acontece isso?

O fato principal é que as empresas são movidas por pessoas. E pessoas tendem na grande maioria dos casos, a resistir a mudanças.

Queria pegar uma passagem do livro seguinte ao “Monge e o executivo” em que o autor James Hunter fala sobre os principios da liderança servidora (mas não achei ele na prateleira, droga!). Não é para falar exatamente disso, mas é que ele comenta sobre essa situação que ele vivenciou muito: após os cursos os executivos ficavam malucos de felicidade com a possibilidade de mudar e após um ano, o autor conversava com os mesmos executivos e eles falavam que não conseguiram implantar as mudanças nas empresas… por causa da resistência a mudança.

Então, meu amigo leitor, tenha a certeza de que se você vivenciou isso alguma vez, você não está sozinho. Esta sensação é extremamente normal. Tenha a certeza de que, para vender a sua idéia, terá que lutar contra a correnteza.

Na maioria das vezes nem é preciso ser agressivo nessa luta pela mudança. Busque a sutileza: procure implantar a mudança aos poucos, nas pequenas coisas do dia-a-dia. E principalmente, sugira as mudanças… nunca as imponha.

Voltando ao SCRUM, um dos meus acertos na rápida experiência que tive, foi implantar primeiramente a reunião diária e insistir nela. Em uma semana, todos já sentiam como se aquilo fizesse parte da rotina.

Em seguida, sugeri a instalação do taskboard para controlarmos as atividades, ao invés de mantermos algum log manual (geralmente uma planilha no Excel). Foi aceita com bom grado, mas precisei disciplinar para que aquilo virasse rotina também.

E se eu tivesse chegado lá e falado: “A partir de hoje vamos ter reuniões diárias, taskboard, backlog, etc. Tomem estes dois artigos sobre o assunto para se interarem de como as coisas passarão a funcionar”. Pode parecer exagero, mas tenham a certeza que ainda hoje devem existir empresas assim.

Concluindo, leitor, levante a cabeça no dia seguinte ao seu curso e prepare-se para enfrentar a fortaleza da resistência a mudanças. É um adversário difícil, mas quase sempre simples de lidar. Basta usar as formas corretas.

[Crédito da Imagem: ShutterStock]

Autor

Flávio Steffens de Castro é empreendedor na Woompa (www.woompa.com.br), criador do crowdfunding Bicharia (www.bicharia.com.br) e gerente de projetos desde 2006. Trabalha com métodos ágeis de gerenciamento de projetos desde 2007, sendo CSM e autor do blog Agileway (www.agileway.com.br).

Flávio Steffens

Comentários

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  • Prezado Flávio. Muito oportuno o seu artigo. Atualmente atuo como professor em cursos de educação continuada e, diante de sua exposição, vivenciei os momentos em que estou com vários profissionais ávidos por saber mais, compartilhando suas experiências com os demais. Como atuei durante muito tempo como profissional em ambientes de tecnologia da informação, possuo as duas experiências, a de fazer cursos e a de ministrar cursos. Se é que pode valer como contribuição a sua exposição, o que posso lhe dizer é que em muitas organizações (empresas), os cursos não estão vinculados a uma mudança estratégica, anteriormente estabelecida, cuja disciplina do curso é um requisito para o sucesso de uma das etapas da mudança. Então, quando você retorna do curso, as audiências não estão preparadas para compreender por que você fez aquele curso e nem para receber bem as suas contribuições. O efeito multiplicador é quase impossível e se for praticado, na maioria das vezes não se realiza no time da solução de determinado problema. Outra questão importante é que o curso realizado lhe transmite fundamentos, conceitos e um pouco da prática. Se o curso estivesse atrelado a um programa de mentore, também previsto naquela mudança estratégica, as informações que lhe foram passadas no curso, seriam fortalecidas pela presença de alguém durante um pequeno período, que lhe ajudaria a conduzir e validar a implementação de novos conceitos aprendidos. Para terminar, posso lhe dizer que segundo Dalai Lama a vida é uma constante resolução de problemas, quando um problema é solucionado outro aparecerá. Parabéns pelo artigo e obrigado por me possibilitar esse comentário.

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