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Monotasking é o novo multitasking

publicado por Flávio Steffens

Monotasking é o novo multitaskingA era da informação que vivemos é um avanço tremendo na vida da sociedade. O conhecimento se tornou acessível a todos. Com questão de poucos cliques eu posso aprender (finalmente) logaritmo através de aulas de um professor no Youtube. Depois posso ler um perfil psicológico de Martin Luther King. E por fim, posso analisar o esquema tático do meu time de futebol.

Isso é maravilhoso. O problema é que o conhecimento gratuito não tem filtro. E ele é o principal responsável por uma das mazelas mais complexas de se analisar nos dias de hoje: a multitasking.

Notem, a geração Y (e a próxima) é formada por pessoas que se intitulam multi-tarefas. E eles fazem isto parecer um elogio.

Só que a multi-tarefa vem se tornando um terror na vida pessoal e profissional das pessoas. Exatamente porque ela está criando uma cultura de aprendizado diferente da que estamos acostumados. E isso tem afetado diretamente a produtividade.

Pior do que isso: a multi-tarefa está afetando inclusive o nosso cérebro de formas que só iremos de fato descobrir no futuro. Em um artigo publicado por Clifford Nass, ele discute o fato de que o nosso cérebro não absorve as informações corretamente quando somos multi-tarefas. E isso impacta em pessoas mais estressadas, com menos aprendizado e concentração. Quanto mais multi-tarefas somos, menos somos capazes de filtrar informações irrelevantes.

Um exemplo bastante comum, e que acontece comigo frequentemente. Após assistir um filme, eu tenho o hábito de acessar o site do imdb.com para saber curiosidades do filme. Tipo de informação inútil que me tiraria apenas 5 minutos de atenção e seria de digestão rápida. Porém, ao ler o texto eu me deparo com uma informação dizendo que o ator principal disputou o papel com outros cinco atores. Então eu clico nos cinco atores para saber que filme eles fizeram. Então descubro que um deles fez um filme que eu gosto. E vou gastando o meu tempo e meu “hd cerebral” com informações completamente superficiais.

Se isso acontece nas horas vagas, imagine quando esse tipo de situação acontece durante o nosso dia-a-dia? Se ao invés de finalizar a tarefa que temos, nós preferimos dar “uma olhadinha no Facebook ou Twitter”, ou então naquele vídeo engraçado que nos enviaram, as chances de tornarmos uma tarefa simples em algo custoso é muito grande.

Uma neurocientista disse certa vez que o cérebro é extremamente adaptável, mas não é elástico. Isso significa que ele irá aprender a sua nova forma de pensamento. Se você acostumá-lo a digerir informações rápidas e superficiais, ele se adaptará para captar facilmente este tipo de informação. Só que se você decidir tentar ser “profundo” novamente, o caminho será bem complicado.

Não conseguir focar nos torna menos criativos, menos produtivos e menos aptos a tomar decisões. Como é possível analisar um cenário pensando apenas em 140 caracteres de um tweet ou SMS?

Um estudo da Microsoft, em 2007, apontou que os funcionários da empresa que perdiam o foco com alguma mensagem ou email, levavam em média 10 minutos para lidar com a situação e mais 10 ou 15 minutos para conseguirem voltar a se focar na tarefa original. Ou seja, praticamente 30 minutos perdidos por distração!

Mas existe alguma solução mágica para isso?

Creio que não. Porém, tudo indica que a solução seja a de voltarmos a ser mono-tarefas. Ou seja, buscar de fato focar naquilo que estamos fazendo. Esquecer o Facebook, o Twitter, o email, o celular e outras coisas mais, enquanto estamos de fato produzindo e dedicados em uma tarefa.

Mono-tarefas vai ser o novo “multi-tarefas” do futuro. Ou seja, saber focar e trabalhar em uma tarefa por vez acabará se tornando um diferencial nas empresas e equipes. Por incrível que pareça.

Mas como podemos buscar formas de “regredirmos” na maneira de se concentrar e aprender? Não é fácil, como já foi mencionado, mas alguns autores dão as seguintes dicas:

Viva bem. Por mais óbvio que pareça, a multi-tarefa nos tornou reféns até na questão de saúde. Não deitamos na cama sem levarmos o celular junto. Não fazemos exercício sem escutarmos música. Não conseguimos trabalhar no computador sem ter um navegador aberto em alguma rede social. Fazer exercícios regularmente, dormir de forma saudável, aproveitar momentos de paz absoluta são formas de voltarmos a pensar internamente, e não externamente.

Esquive-se da tentação. Muito atrelado ao item anterior, a multi-tarefa só acontece por nossa culpa. Nós que deixamos o celular ao lado da mesa, bem a vista. Nós que deixamos as redes sociais abertas numa aba do navegador. Nós que damos abertura para as distrações. E se tentássemos nos esquivar disto tudo?

Seja ofensivo, não defensivo. Quando estamos com uma tarefa chata nas mãos, qualquer outra coisa parece mais interessante do que realmente é. Mas por que a tarefa é chata? Porque nós a tornamos assim. Nós que a postergamos ao máximo. Nós que tornamos uma tarefa de 5 minutos em uma de 1 hora. Que tal jogar para o ataque, e finalizar o quanto antes isso?

Não tolere o tédio. Quando estamos entediados, recorremos aos benefícios da multi-tarefa. Quem nunca se pegou gastando uma hora inteira da vida na frente do computador vendo coisas completamente desconexas, como notícias de fofocas, joguinhos sem objetivo algum e coisas do tipo? Uma reunião improdutiva de uma hora é uma maravilha quando temos um smartphone na mão. E se você não tiver um? Será que você aguentará uma hora desperdiçada desta forma?

Planeje o dia. Muitas pessoas dizem que as “To-do lists” são listas que nos ajudam a organizar o dia, mas que raramente nos tornam produtivos. Porque o que está no papel é abstrato, e dificilmente nós de fato nos comprometemos em finalizar aquilo. Mas… e se ainda assim você fizer uma simples “To-Do List” do que você tem para fazer no dia, você não acha que será mais produtivo? E se, em determinado momento, você de fato completar a lista? Não vai ser legal? É algo simples de fazer e que pode funcionar para você. Ou conheça técnicas interessantes como a de “Pomodoro”.

Aceite seus limites. Talvez a dica mais importante de todas, é aceitar os nossos limites. Ao virarmos multi-tarefas, perdemos a capacidade de concentração por tempos maiores. De que adianta você definir uma tarefa para você que irá durar 2 horas, se você só consegue se concentrar 15 minutos? E se você quebrar essa tarefa de duas horas em várias de 15 minutos? Adapte-se a nova realidade. Comece devagar.

Ser mono-tarefa é uma das minhas prioridades pessoais para os próximos dias. Sei exatamente o quão difícil será, mas eu já entendi que preciso de fato mudar. Será que você também?

PS: a propósito, durante a escrita deste artigo eu consegui permanecer 20 minutos focado, usando apenas como referência de leitura alguns artigos para enriquecer o texto. Considero isso uma conquista 

[Crédito da Imagem: Multitarefa – ShutterStock]

Autor

Flávio Steffens de Castro é empreendedor na Woompa (www.woompa.com.br), criador do crowdfunding Bicharia (www.bicharia.com.br) e gerente de projetos desde 2006. Trabalha com métodos ágeis de gerenciamento de projetos desde 2007, sendo CSM e autor do blog Agileway (www.agileway.com.br).

Flávio Steffens

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