Acredito que liderança se apoia em pelo menos 3 pilares (não restrito aos 3) que são: influência, comprometimento com os liderados e assertividade. Se observarmos atentamente, todos esses são características de comportamento e como tal, podem ser sim desenvolvidos quando desejamos alcançar a liderança e tê-la reconhecida com os liderados.
Na dimensão da influência, acredito que a maioria de nós tenha visto em alguma situação, uma estrutura de influência que ocorre intra-equipes e inter-equipes, pessoas que não estão na estrutura formal de poder, mas que exercem grande influência em vários membros da equipe ou de outras equipes.
Na dimensão do comprometimento, podemos perceber que algumas pessoas que estão fora da estrutura formal de poder são extremamente comprometidas tanto com a realização das tarefas que lhe são delegadas quanto – e principalmente – com as pessoas que podem ajudar a realizar as atividades e a equipe observa, analisa e reconhece o comprometimento.
Na dimensão da assertividade, podemos também encontrar pessoas que são assertivas tanto no comportamento necessário para mitigar algum conflito quanto na melhor decisão a tomar dada uma situação limite ou corriqueira e isso também é observado, reconhecido e até recompensado pela equipe.
Como disse anteriormente, pelo menos essas três dimensões são características de comportamento e como tal podem ser desenvolvidas.
Algumas vezes é colocado com muita clareza e propriedade que a liderança é percebida. Sim ela é percebida de fato e percepção é algo peculiar e particular a cada espectador ou colaborador que convive conosco.
Em outros termos, se a liderança é algo percebido, e percepção é inerente ao espectador, alguns podem percebê-lo como líder, outros simplesmente podem ignorá-lo como líder. Mas se o comportamento for consistente, coerente e perene, o mesmo se torna hábito e fato.
Liderar se torna hábito, liderar se torna fato e a percepção cede lugar à autoridade que a própria equipe outorga ao líder.
Diferente do poder que um chefe possui, neste último caso quem tem poder não é o chefe e sim o cargo que temporariamente está ocupado por ele.
Quero deixar claro que em momento algum referencio a liderança à traços de personalidade e sim ao comportamento aprendido, desenvolvido e praticado.
Quando acreditamos que a liderança é inata significa no meu entender, que já nascemos sabendo liderar (é isso que o termo referencia). Entretanto, se observarmos, quando nascemos, nós não sabemos nem falar e na prática, aprendemos e assimilamos tudo o que está ao nosso redor.
Em termos gerais estamos sempre aprendendo, criando, eliminando e alterando comportamentos e crenças. Por isso afirmo que ser líder está mais ligado ao comportamento percebido pelos outros e não temperamento ou traços de personalidade.
Algumas vezes tendo a achar que sou “ponto fora da curva”. Eu realmente não acredito que aprendizagens comportamentais e prática deliberada ao longo de anos de nossas vidas desde o nosso nascimento sejam colocadas em uma escala onde o “inato” predomina. Talvez porque eu não acredite no “inato”, acredito que o “talento” pode ser construído, desafiado e provado.
Quem se lembra de ou ouviu falar de Nadia Comaneci, a ginasta que fez maravilhas e colocou seu nome na história dos esportes?
Certa vez perguntada sobre quantas horas por dia é necessário treinar para ser uma campeã, uma líder, ela respondeu: “se você precisa de uma resposta a essa pergunta, nunca será uma campeã, nunca será uma líder. Você tem que treinar, praticar, desenvolver até se tornar uma, não importa quanto tempo isso leve”. E ela foi.
Acreditar que o “inato”, o “talento” prevalecem sobre a aprendizagem comportamental e prática deliberada é o mesmo que pensar como Homero em a Odisseia: aqueles que tem desempenho notável, quase super-humano vem ao mundo para fazer exatamente aquilo a que se propuseram e que seus desempenhos notáveis lhes foram concedidos por deuses ou musas.
Se existem o “dom”, o “talento” e as características “inatas” me ocorrem algumas perguntas:
Então significa que só podemos ser excelentes naquilo que nos é “inato”?
Vamos buscar desenvolver somente aquilo que é “inato” em nossos clientes?
Não podemos ajudar nossos clientes a desenvolver qualquer coisa que não seja “inata”?
Se isso for verdade, quais são a natureza e valor do trabalho que coaches e treinadores fazem?
O que estou vendo constantemente é que se não é “inato” não pode ser desenvolvido. E com isso eu realmente discordo.
Líderes podem ser criados e treinados para tal.
[Crédito da Imagem: Liderança – ShutterStock]
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