Segurança da Informação

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Privacidade e a espionagem na internet

publicado por José Luis Braga

A recente constatação de que o governo dos EUA espionam as redes sociais do mundo todo, com foco em alguns países, com razão está criando um enorme rumor no planeta. De repente, ficou todo mundo indignado, reuniões de ministros para darem explicações, grupos de trabalho, ações a serem tomadas para evitarem essa intromissão, governos (Venezuela, pelo menos) solicitando aos cidadãos para sairem do Facebook em massa, e outras besteiras do gênero. Gente, acorda ai, isso não é novidade nenhuma, basta fazerem uma busca com seu  nome no Google, para vocês se assustarem com o tanto de informação que vai aparecer. Desde que você tenha seu nome ou CPF citado em algum documento oficial que veio para a web, os dados podem ser recuperados facilmente pelas máquinas de busca. Basta fazer compras regularmente usando algum canal de e-commerce, e seu perfil aos poucos vai sendo construído e estará disponivel também. Pior ainda, se você já entrou por exemplo nos EUA passando pela imigração e já teve o visto concedido no consulado previamente, seus dados já estão disponíveis no sistema de segurança deles. Na própria entrevista para o visto, quem já foi lá deve ter reparado que o entrevistador fica o tempo todo lendo na tela do computador, suas informações estão todas lá, disponíveis. Então, podemos partir do pressuposto de que caiu na rede, é peixe. Não adianta fazer beicinho ou cara de bravo, é a realidade (mais neste link).

Não sou especialista no assunto,  minha área é outra, mas como cidadão, usuário e interessado no bom uso das redes sociais, tenho muito interesse em tecnologia e seus impactos sociais e vou aproveitar o momento para falar um pouco sobre a questão. Antes de mais nada, se você está em alguma rede social, não importa qual, seus dados estão na internet, disponíveis e vulneráveis.  Basta enviar alguma mensagem de email, tuite no Twitter, postagem no Facebook ou Linkedin, ou em algum blog, contendo alguma palavra “proibida” ou suspeita e que possa representar indício de ameaça, e seu texto vai ser cheirado por algum software cheirador (sniffer) e vai ser analisada. Nosso tráfego de internet passa por provedores localizados fora do Brasil, em sua maior parte nos EUA que concentram a maior parte do tráfego da internet mundial.  Para evitar isso, só mesmo se você optar por ser um monge trapista e ficar isolado em algum canto do Tibete, sem nunca ter passado por sistema de controle de país nenhum, sem certidão de nascimento, sem CPF ou equivalente, fora da internet, completamente desconhecido e não sociável. Mesmo assim, é bem possível que alguém descubra você e, de repente, você se transforme em uma curiosidade internacional momentânea, e ai você também vai cair na rede.

Obviamente, a partir do momento em que o governo estadunidense reconhece publicamente que de fato intercepta tráfego de rede para análise e detecção de possiveis ameaças, sem o conhecimento de ninguém, na surdina, é para a gente ficar indignado e muito, mesmo sabendo que isso já deve estar acontecendo há muito tempo. Na verdade, o que preocupa mesmo é o possível uso que vão fazer destas informações extraidas do tráfego, tem muita informação estratégica e com enorme valor, tanto para a segurança deles, quanto valor comercial. Mas qual a nossa defesa? A única que eu vejo, é o conhecimento e o bom uso das informações disponíveis sobre a tecnologia. Tecnologia é muito bom, mas tem que saber usar, saber se proteger na medida do possível. Quantos de vocês já entraram nos menus de preferência do Facebook e já ajustaram suas preferências?  no Twitter? no LinkedIn? É uma característica nossa, ser humano, de ser resistente a ler qualquer instrução de qualquer coisa, já queremos ir usando tudo de imediato. E parte das informações pode escapar por ai. Estamos vivendo a emergência (no sentido de emergir) das redes sociais baseadas na web (elas existem desde sempre, independentes da internet), onde anonimato não existe, alguma privacidade é possivel, não existe liderança, e a  colaboração é o principal impulsionador dos relacionamentos e crescimento das redes. É irreversível, e temos que aprender a viver em redes imensas, habilitadas pela internet.

Bom, isso tudo ai é do ponto de vista individual. Mas, e os governos dos paises envolvidos, que não têm sistema de segurança interno adequado (ou seja, todos ou quase todos os governos, incluindo o nosso)? e quando as informações levantadas pelos EUA são estratégias de governo, relações internacionais, relações comerciais importantes, apoios a outros paises e governos? Como por exemplo veio um Ministro ontem, 11/07/2013, falar em cadeia de TV que tinha a preocupação de terem pegado dados estratégicos sobre a exploração de petróleo na camada pré-sal! Mas como assim, Ministro? está tudo tão disponível assim, sem a devida segurança que o assunto merece? Aí sim, a coisa fica muito grave. E ao mesmo tempo, é inadmissivel que algum pais não trate essas questões com a devida seriedade e profissionalismo. Será que esse é o caso do nosso pais? Ao ver as declarações e observações de representantes do Governo na TV, eu acho que foram pegos de surpresa, de roupa na mão…

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Publicado originalmente no Blog do Professor José Luis Braga.

Autor

José Luis Braga é Professor Titular do Departamento de Informática na Universidade Federal de Viçosa Formação Acadêmica Pós-Doutoramento - University of Florida - USA, 1999 Doutor em Informática - PUC/Rio - Setembro de 1990 Mestre em Ciência da Computação - DCC/UFMG - Novembro de 1981 Engenheiro Eletricista - PUC/MG - Agosto de 1976 Site: zeluisbraga.wordpress.com

José Luis Braga

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