Cloud Computing

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Pós-Cloud

publicado por Cezar Taurion

Estamos vivenciando o início de uma profunda transformação no modelo computacional e no papel de TI. Mas, isto muitas vezes não fica claro para nós. A razão é simples: estamos em um periodo que podemos chamar da transição do momento pré-cloud para o pós-cloud.

Mas, se observarmos os sinais de mudanças, vemos que agora é um momento em que começamos a ver o modelo de cloud computing se disseminando e a área de TI começando a assumir novos papéis dentro da organização.

Toda mudança causa estranheza no inicio, principalmente quando o paradigma é quebrado. Compara-se as mudanças com os modelos que estamos acostumados e muitas vezes não percebemos que no período de transição, como vivenciamos hoje, o paradigma ainda não está completamente definido. A transição, como o nome diz, é transitória, ou seja, não é o modelo que vai perdurar no futuro. É passageira.

Para ficar mais claro as diferenças entre os modelos pré e pós-cloud, vamos analisar o momento atual. Este momento vamos denominar como período pré-cloud e é basicamente fundamentada na arquitetura cliente-servidor, com uso muito limitado (quase embrionário) de cloud computing. É um momento de evangelização do mercado. Na maioria das empresas, a área de TI é responsável pelos custos e controle dos recursos computacionais. É um centro de custos. Sua função primordial é suportar as operações do negócio, padronizando as tecnologias e determinando quais as que podem ou não entrar nas empresas. É um modelo que tanto os fornecedores quanto os compradores de tecnologia se acostumaram e baseados nele criaram todo um ecossistema. As empresas planejam desenvolver ou contratar novas aplicações, adquirem tecnologia (hardware e software) e aguardam um determinado período de tempo (as vezes semanas e meses) até que as máquinas físicas sejam instaladas e o software disponibilizado para uso.

O período de transição já nos mostra algumas mudanças. Começamos a ver cloud computing cada vez mais disseminado, mas devido aos questionamentos e interesses dos dois lados (vendedores e compradores), busca-se um modelo que não faça transformações radicais. Notamos claramente a adoção do que chamamos nuvens hibridas, com parte da demanda computacional das empresas sendo atendidas pelo modelo de nuvem (de IaaS a SaaS) e parte ainda no modelo on-premise. Ou seja, vemos algumas soluções indo para a computação em nuvem ao mesmo tempo que vemos em paralelo novas aquisições de hardware e licenças de software. Mas, a área de TI começa a se desgarrar do paradigma de controlar os recursos computacionais, passando muitos deles para provedores de nuvem externos. A consumerização de TI é um impulsionador para acelerar o deslocamento do eixo da adoção de tecnologias na empresa da TI para os usuários. Começamos a ver TI focar-se mais na padronização dos serviços que nas tecnologias. Ou seja, em vez da preocupação em definir padrões de tecnologia, TI começa a buscar padrões de serviços em nuvem. É um período desafiador, pois os principais provedores de nuvem tentam impor seus próprios padrões como padrões de fato do mercado. TI deve buscar concentrar esforços em adotar provedores que se baseiem em padrões abertos, pois o momento atual é de transição e a visão estratégica terá que olhar o longo prazo.

Provavelmente no fim desta década ou inicio da próxima estaremos vivenciando o período pós-cloud ou seja, o momento em que não terá mais sentido falar em cloud computing e sim apenas em computing, pois este será o paradigma computacional dominante. Claro que quando falamos em modelo dominante não estamos falando que 100% do cenário computacional estará em cloud. Sempre haverão demandas e especificidades tais que exijam a preservação do modelo atual em determinadas situações.

Mas, quando estivermos neste modelo, qual será o papel de TI? A maioria dos serviços estará em nuvens publicas e em empresas de maior porte também uma parte em nuvens privadas. Uma diferença é que o aparato tecnológico, como servidores e middleware serão commodities. TI vai criar diferença se deixar de ser suporte do negócio para ser parte integrante do negócio. É o momento em que falar da sigla CIO como Chief Information Officer será tão revelador da obsolescência quanto o titulo de gerente de CPD. Deveremos falar em funções como Chief Innovation Officer ou Chief Digital Officer.

O período pós-cloud é o modelo “IT is the Business”, ou seja, não terá mais significado debater se TI está ou não alinhado com o negócio. TI será o negócio. As discussões e decisões corporativas vão incluir tecnologias desde inicio, pois esta estará cada vez mais invisível e ubíqua. Tecnologia estará tão integrada às discussões como dinheiro para investimento. Praticamente todo e qualquer produto ou serviço, seja aos clientes ou de uso interno, terá TI embutida. Lembramos que não estamos falando apenas da TI como a vemos hoje, responsável basicamente pelos ERPs e bancos de dados, mas a nova TI deverá incluir toda tecnologia embutida na organização, inclusive a operacional, que está embutida em objetos, cameras, sensores, etc.

TI passará a ser vista como geradora de receita e não como centro de custo. Para isso acontecer, alguns níveis de amadurecimento deverão ocorrer. Primeiro é indiscutível que esta nova TI tenha a excelência operacional como padrão minimo. E para conseguir isso, a computação em nuvem é fundamental. O processo de automatização que a computação em nuvem embute é essencial para alcançar esta excelência operacional. Não terá sentido nenhum a área de TI gastar horas ou dias de recursos humanos para fazer upgrades de software ou exercer tarefas que não agregam valor para o negócio. E fazer as áreas de negócio esperarem semanas por um novo recurso computacional como um servidor…

Outro nível de amadurecimento será a mudança no perfil profissional dos gestores e profissionais de TI. Quanto maior o uso de provedores de nuvem, menor a necessidade de administradores de sistema in-house. Estes estarão concentrados nos provedores. Quanto maior a utilização de PaaS menor a demanda por desenvolvedores dentro de casa, pois grande parte desta tarefa poderá ser feita externamente. Mas, conhecer em profundidade o negócio e alavancar novos produtos e serviços com tecnologias e processos inovadores fará toda a diferença. Esta deverá ser a postura e perfil do profissional de TI: de conhecer e aplicar de forma pró-ativa e inovadora as tecnologias que farão diferença para o negócio.

A linguagem de TI também deverá mudar. Reduzir custos e gerenciar ativos de TI passam ser função de provedores. Não será uma tarefa nobre para o novo perfil da TI. Mas, entender do negócio e discutir como reduzir fraudes em sistemas de seguro e bancários, diminuir o churn rate de uma empresa de telecomunicações, reduzir as ocorrências de “out-of-stock” do varejo e assim por diante, é que deverão ser as conversas de corredor da TI e não se o sistema operacional é Linux ou outro qualquer.

Este não é um processo que vai acontecer de uma dia para outro. Passaremos e aliás, estamos passando. por um período de transição e as empresas e os CIOs deverão ter uma estratégia para transformar suas TI em um centro de resultados. Ficar parados esperando a mudança é que não tem sentido. Elas acontecerão, queiramos ou não.

Autor

Cezar Taurion é head de Digital Transformation da Kick Ventures e autor de nove livros sobre Transformação Digital, Inovação, Open Source, Cloud Computing e Big Data.

Cezar Taurion

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