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Seres Inteligentes e Rio mais Vinte

publicado por Davambe

“Coitado, morre uma semana depois da Rio + 20”, estava ele a ler notícias no jornal, sobre a sua morte. Não podia acreditar, afinal esse andava em outras veredas. Mas se lembrava de ter lutado para escapar de algo que o envolvia, tentou, mas não resistiu.

Morreu sufocado por uma sacola plástica que alguém havia deixado na praia. No desembarque dos jornais com notícias de sua morte via em câmera lenta, Sem muito entender, gente a se apossar dos exemplares dos jornais.

“Os inteligentes são assim: invadem as praias de final de semana, deixando para trás tudo quando é nada”, dizia Mariletine Duvier Picá, um cágado que também sucumbira em uma armadilha deixada por aqueles que eles chamavam de inteligentes.

“A quem podemos reclamar?”, perguntou Jarunalette Neto, enquanto seu corpo se decompunha, já tinha aceitado a separação dos elementos físicos, partia sem entusiasmo.

“Eles são culpados? Você é que não viu a sacola.” Dizia o colega de viagem.

“Eh, pode ser. Estava tão apressado a descer a orla para não ser visto…”

“Acabou se danando numa sacolinha dessa. É demais.”

Os dois continuaram a conversar, enquanto o vento que os acompanhava soprava, penetrando suas intimidades, sem permissão. Também, esse vento das orlas era muito atrevido. Possuía a todos que costumavam passear por ali. Foram sumindo, alcançando a área mais alta da terra. Enquanto isso Jarunalette Neto se lembrava da batalha que enfrentou ao se enroscar no plástico, estava tão assustado, que foi entrando com tudo na imensidão. Não conseguiu sair, tentou regressar, mas foi se enroscando cada vez mais. O plástico parecia cortar as proximidades de seu pescoço; suas pernas; suas narinas. Sentiu dor e cansaço, foi sendo vencido pela falta de ar e ardência das feridas, que em contado com o sol pareciam pimenta malagueta nos olhos. Urinou, gritou, ruminou e em poucas horas estava com as perninhas esticadas e os olhos bem abertos sem fôlego para respiração. A partir de então não se lembrava de mais nada, até encontrar Mariletine Duvier Picá, com quem se sentia muito bem para caminhar a esmo, sem destino e sem corpo algum. Subiam cada vez mais e se aproximavam do sol. Aquele sol que parecia um grão de areia foi aumentando de tamanho, a parecer farol de carro a ofuscar, aumentando cada vez mais, até que lá do céu se ouviu estrondo, algo a explodir, o sol a se espatifar.

O corpo de Jarunalette Neto foi encontrado atolado num saco plástico de um supermercado que não existia na região, tudo indicava que alguém a trouxera de uma cidade bem distante. Foi então que todos se indignaram e começaram a refletir sobre a filosofia Ubuntu.

“Ubuntu?” Perguntou um.

“Mas filosofia Ubuntu?” Perguntou o segundo.

“O que é isso meu Deus do céu?” Perguntou o terceiro.

De forma coletiva olharam para o céu, como se de lá exigissem o significado da filosofia Ubuntu que alguém havia pronunciado.

 

Autor

Consultor de TI, com mais de 25 anos de experiência, Escritor. Autor de "O Segredo da Felismina", "Tanto Lá Quanto Cá" e "A Sereia de Tupa". Email: geraldo.nhalungo@davambe.com.br www.davambe.com.br

Davambe

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