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Ética e oportunidade

publicado por Davambe

“Vê do Benomotapa o grande Império, da selvática gente negra e nua […]”(Canto X dos Lusíadas, nº 93).

Ah, Monomotapa! Sua fama fez na outrora gente viajar de tão longe para saquear suas riquezas, muitos também padeceram no abismo oceânico. Era difícil de decifrar se seu sorriso era azedo ou doce.  Quinhentos anos se foram. Os tempos são outros, as necessidades também. A única coisa que causou estranheza em nossos dias foi aparição dele no Índico, justo onde era rei o reino do Monomotapa. Ele que era do Atlântico, não do Recife, nem de grosso mato, mas do lado de cá, onde a garoa ainda cai regularmente. Molhando sem cerimônia as plantações e derrubando instantaneamente a poluição. Ele andava sentindo o peso da idade a incomodá-lo, embora aparecesse feliz. Vejam só,  aquele elefante estava mesmo feliz por ali encontrar-se a negociar a expansão de seu império.

Muitos queriam saber como o Leão, aquele felino menos querido da floresta, conseguiu convencer o elefante a expandir seus negócios naquele ano que muitos falavam em carestia. Na bem da verdade ninguém se arriscava a plantar mais que um metro, alegando falta de incentivos.

“Acho que o medo o fez buscar janelas do império que permitissem a redução de custos.”

“Falar em redução de custo, esse é ligeiro.”

“Estou curioso para saber quando estará à venda arroba lá produzida.”

“Há quem diga que será mais caro.”

Enquanto os murmúrios faziam as ondas do mar se movimentar, ele estava a saborear amarula e canho, longe do seu maior adversário, que ficou com choraminhices por mais de um mês, só de pensar não ter tido essa visão antes. O Rinoceronte ficou a maldizer o Leão, seu ex-conselheiro, que o havia trocado por aquele dinossauro da floresta.

“Esse ainda me paga, por que não se permitiu a conversar comigo antes.”

O Leão havia sido seu empregado e quando o trocou pela labuta na terra dos elefantes, não comentou da oportunidade de negócio além-mar. Dizia que tinha que manter segredo porque a ética não permitia comentar sobre sua atividade.

O Elefante ordenou então que o Leão pesquisasse o custo de produção de cada produto naquele solo.

O primeiro relatório apresentado foi de uma redução de 40 por cento no custo para o milho, mas ele olhou para os lados e perguntou para o seu “expert” o preço do concorrente local.

“Não há concorrente”, disse o Leão, para concluir que os concorrentes estavam do outro lado do oceano.

Ruminou. Ignorou o laudo técnico e manteve o mesmo preço praticado no atlântico, embora o Leão apresentasse justificativas para a redução.

Autor

Consultor de TI, com mais de 25 anos de experiência, Escritor. Autor de "O Segredo da Felismina", "Tanto Lá Quanto Cá" e "A Sereia de Tupa". Email: geraldo.nhalungo@davambe.com.br www.davambe.com.br

Davambe

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