A sutileza do Bullying e as chuvas de março

Ela vinha do Sabiá dos Cutiens do grande  Lalelilo, elegante, ofegante como sempre. Não havia quem não virasse para olhar, sempre que passava. Aquela Girafa tinha mais de dois metros de altura, parecia uma top model, era responsável em construir e disponibilizar o barco para transportar as sementes da abóbora pelo rio afora. O barco tinha que estar pronto antes das chuvas de março. O Hipopótamo era o gajo responsável em garantir a navegabilidade. Só ele conhecia a profundidade e abrangência e riscos das águas. Estava comprometido e tinha que garantir que as sementes chegassem de outro lado da terra, lá onde o sol desaparece, de modo que a navegação devia ser capaz de suportar todo tipo de  intempéries como: piranhas, rochedos, crocodilos entre outros. Ele se recusava a olhar a Girafa alegando que tinha vertigem sempre que a via:

– Não vou olhar para aquela gigante senão vou cair, tenho impressão de que ela tem o pescoço mais longo que já vi.

Mas não era só Hipopótamo que reclamava da Girafa e seus métodos. A Búfala, um dos elementos envolvidos na cadeia produtiva, vivia com choraminhices também.

– Se há regra é para ser cumprida, ainda pego essa magricela, está pensando nou quê?

– Aquela magricela sempre que aparece por aqui, quer alguma coisa.

– Pedir que burle uma fase  –  concluiu o Elefante, quase que roubando as palavras de Búfala.

– Desta vez ele não vai colocar esse barco no rio. Não vou consentir, mesmo que esteja faltando um parafuso.

A Búfala era especialista em superar as expectativas do cliente. Estava lá com a lista e regulamento na mão para fazer valer as regras.

A Girafa não hesitava em anunciar em tom ameaçador aos demais:

– O Leão mandou. O Leão quer que implante agora …Temos que entregar o barco antes das chuvas de março.

O Leão era o gestor mais temido da floresta, desta forma tudo o que era dito em seu nome, devia ser tratado com prioridade máxima, com ou sem planejamento. Leão: esse nome era a palavra chave para se rasgar a constituição, as regras, e, etc. e tal.

A Girafa era temida também por tentar burlar uma das fases dos procedimentos internos, adotados, alegando para tanto, falta de tempo hábil, às vezes, recorrendo ao Leão para transportar as muralhas que se erguiam. Sempre que ela precisava da colaboração do grupo, composto por Búfala, Hipopótamo e Elefante. O que mais irritava a Girafa era ouvir aquele grupo zombando do seu pescoço. Todos sabiam dessa sua fraqueza.

– Eh, seu, seu…

– Seu Pescoção – concluía a Búfala sem remorso.

E a Girafa cerrava os olhinhos e balançava a cabeça, manifestando seu repúdio, mas era para ninguém, porque quanto mais Ela se irritava, mas o grupo celebrava o contentamento, porém aquele dia foi triste para o grupo. Um Beija-flor que passava por acolá presenciou as cenas, considerou que havia excesso e quebra de decoro.

– Isso é bullying, estou levando para a área competente.

– Não é necessário  – disse a Girafa.

O silêncio foi total e completo, o Beija-flor promoveu o assunto às áreas competentes. Todos foram ouvidos e obrigados a participarem de sessões de aconselhamento.

O barco tinha que ser posto às águas do rio antes de março, tinha que navegar, levando as sementes além-rio. Isso só seria possível com aval dos três impactados, que encontraram mais motivos para se vingar:

– Iiih, não vou liberar esse barco. Não está pintado – disse a Búfala.

– Olha a porta, está desproporcional, completou o Hipopótamo.

Fez-se existir uma lista infinita com itens de não aderente. O farol foi aceso, pois já estava próxima a época de implantação. O Leão imediatamente promoveu a auditoria na tentativa de colocar o barco no prazo combinado. Foi então que alguém procedeu a leitura de escopo.