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Android & Linux & OpenSource

publicado por Cezar Taurion

Agora no início de novembro vimos o anúncio do Google, em parceria com diversas operadoras e fabricantes de celulares, de uma plataforma aberta para desenvolvimento de software para estes equipamentos móveis. A aliança foi batizada de Open Handset Alliance. O Press release está em http://www.openhandsetalliance.com/press_110507.html . E um vídeo com executivos do Google pode ser visto em http://www.infosyncworld.com/news/n/8529.html.

A plataforma, denominada Android, baseada em Linux e inteiramente Open Source, se propõe a criar um ecossistema para desenvolvimento de aplicações para celulares. Qual o resultado esperado pelo Google? Criando uma plataforma única, possibilita um avanço mais rápido no desenvolvimento de aplicações inovadoras, aumenta a demanda pelo uso de novos serviços e gera maiores oportunidades de advertising, de onde o Google obtém sua receita.

O Android é um stack inteiro de software, composto de sistema operacional (construído em cima do kernel do Linux) que implementa ferramentas de desenvolvimento e APIs especificas para os desenvolvedores criarem suas aplicações móveis. A força do projeto se baseia no conceito de colaboração (leia-se Web 2.0 e Open Source) e um grupo bastante heterogêneo de empresas já associou, de operadoras a fabricantes de celulares. O stack de software será distribuído sob a licença da Apache Software Foundation. As estimativas são que em meados de 2008 já estejam aparecendo no mercado os primeiros celulares com software baseado no Android.

O SDK (System Development Kit) para o Android foi liberado há poucos dias (http://www.openhandsetalliance.com/press_111207.html) e é baseado no Eclipse. Roda em diversos sistemas, como Windows e Mac, além, é claro do Linux Ubuntu. E para acelerar o desenvolvimento de softwares usando este stack, a aliança criou o Android Developer Challenge, com prêmios de até dez milhões de dólares. Interessados? Vejam em http://code.google.com/android/adc.html .

O mercado de celulares está em franco crescimento. Já são quase três bilhões no mundo (pelo menos uns 120 milhões aqui no Brasil) e cada vez mais eles se tornam mais aptos a serem um equipamento de acesso à Internet.

O cenário atual de aplicações para estes equipamentos é espinhoso. São pelo menos três stacks de software diferentes e os celulares não são padronizados, o que demanda um esforço muito grande para desenvolver e testar os aplicativos. Além disso, de forma diferente da Web, onde qualquer pessoa tem acesso a qualquer um dos milhões de sites disponíveis na Internet, no cenário atual dos celulares, na maioria das vezes, o acesso do usuário é restrito apenas aos sites autorizados pelas operadoras. O resultado é que apesar de termos muito mais celulares que PCs, o uso da Internet móvel ainda é bem restrito.

O que o Android vai trazer de mudanças? Bem, acredito que os custos de desenvolvimento de aplicações tenda a cair substancialmente, pois não haverão tantos retrabalhos de portar aplicativos de um celular para outro, como também não haverá mais necessidade de pagamento de royalties para uso de tecnologias como Windows Mobile ou Symbian. Além disso, é provável que muito código seja desenvolvido de forma colaborativa e aberta, reduzindo mais ainda os custos. O resultado final será uma barreira de entrada bem menor, abrindo espaço para novos entrantes. Atenção, atenção: esta é uma excelente oportunidade para empresas e desenvolvedores brasileiros, que já tem experiência no desenvolvimento de celulares, uma vez que vários jogos de sucesso mundial foram desenvolvidos aqui. E pelo efeito de rede, com mais usuários interessados em usar Internet pelos celulares, com aplicações inovadoras, (nada impede de outras empresas como Yahoo adotarem o Android, aumentando a demanda…) as operadoras abrirão seus modelos fechados para incorporar novas modalidades propostas pela plataforma aberta. Ou seja, todos saem ganhando.

Bem, nem todos: quem ganha dinheiro com royalties de licenciamento, como a Microsoft com seu Windows Mobile, só tem perder…Mais um desafio para o pessoal de Redmond!

OK, vamos explicar melhor este último comentário… Coincidentemente, estava lendo um relatório da VDC, “Linux in the Embedded Systems Market”, que pode nos ajudar a entender um pouco mais o que será este impacto.

O modelo atual dos fornecedores de tecnologia é baseado fortemente em pagamento de royalties, o que encarece o custo final e conseqüentemente o preço dos equipamentos para o usuário final. Por exemplo, em 2006, dos quase 600 milhões de dólares movimentados pelo mercado de sistemas operacionais em celulares, 82,2% foram pagamentos de royalties. As empresas líderes neste segmento, em receita de royalties são a Microsoft e a Symbian.

O Linux quebra este paradigma. A maioria dos projetos de software embarcado não usam versões Linux de distribuidores oficiais e mesmo quando usando versões oficiais, os modelos de negócio dos distribuidores é baseado em subscrição anual e não pagamento de royalties.

Já existe uma forte tendência de uso de Open Source para sistemas embarcados e a vinda do Android vai realmente anabolizar o uso do Linux nos celulares. Na minha opinião o Android representa o ponto de inflexão para Linux Mobile e acredito que a partir de agora o Linux deve crescer bem mais rapidamente em celulares.E um outro ponto positivo, no meu entender, será uma mais rápida tendência à padronização do Linux no contexto dos sistemas embarcados, pois vai existir um forte fator catalizador para isso.

Já existem alguns grupos debatendo Linux-based standards para sistemas embarcados, que são a própria Linux Foundation (merge da OSDL e da Free Standards Group, http://www.linux-foundation.org/), a Linux Phone Standards (LiPS Forum, http://www.lipsforum.org/), a LiMo Foundation , https://www.limofoundation.org/ e a SCOPE Alliance em http://www.scope-alliance.org.

A Linux Foundation é bem conhecida por todos (Linus Torvalds trabalha lá…) e tem um workgroup específico para Mobile Linux. Sua missão é bem clara “The Mobile Linux workgroup has as its mission to accelerate adoption of Linux on next-generation mobile handsets and other converged voice/data portable devices and to provide a mobile profile for the LSB”.

As outras organizações são menos conhecidas, mas vale a pena fazer uma visita a seus sites. A LiPS Forum diz em sua home page “The Linux Phone Standards Forum (LiPS) is a consortium founded by a group of telephony operators, device manufacturers, silicon and software vendors who have a strategic focus on Linux® telephony”. Sua missão é “The Linux Phone Standards Forum (LiPS) will accelerate the adoption of Linux® in fixed, mobile and converged telephony devices by standardising Linux®-based services and APIs that directly influence the development, deployment and interoperability of applications and end user services.”. A LiMO em sua home page diz “Motorola, NEC, NTT DoCoMo, Panasonic Mobile Communications, Samsung Electronics, and Vodafone established the LiMo Foundation to develop the Foundation Platform, a Linux-based, open mobile communication device software platform.”. E a SCOPE fala em sua home page “SCOPE is an industry alliance commited to accelerating the deployment of carrier grade base platforms for service provider applications. Its mission is to help, enable and promote the availability of open carrier grade base platforms based on Commercial Off The Shelf (COTS) hardware / software and Free Open Source Software (FOSS) building blocks, and to promote interoperability to better serve Service Providers and consumers.”.

É bem provável que estes grupos comecem a interagir com mais intensidade, atuando de forma sinérgica, uma vez que todos tem o mesmo objetivo. Na verdade, não existem entraves tecnológicos ou filosóficos entre estas iniciativas…O resultado final será uma maior e mais rápida adoção do Linux em celulares!

Autor

Cezar Taurion é head de Digital Transformation da Kick Ventures e autor de nove livros sobre Transformação Digital, Inovação, Open Source, Cloud Computing e Big Data.

Cezar Taurion

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