Gerência de Projetos

Ξ 2 comentários

O Zoo da TI

publicado por Davambe

O Leopardo tinha hábitos de armazenar em seu computador a documentação de seus projetos. Isso irritava o leão que achava que uma das melhores práticas para compartilhar conhecimento era criar um repositório centralizado.

Não perto dali estava o cágado que eventualmente colocava a cabeça para fora do casco para espiar a desavença dos dois. Era capaz de acreditar que o Leão comeria o Leopardo. Enfiava novamente a cabeça no casco quando os dois estranhavam-se, seu coração palpitava de forma muito estranha, só de ver os dois juntos.

– O que será que está havendo entre eles?

Estava curioso para saber -, mas mal podia ouvir. Arriscava uma andança e escondia-se imediatamente, quando o Leopardo se aproximava. Não eram raros os momentos em que o Leopardo levantava o pé e sem delongas urinava sobre o cágado e saía a correr sem se importar.

– Detesto esse Leopardo. Urinou no cágado de novo – comentava o elefante cinzano.

O Leão estava preocupado em formatar uma central de documentação para que todos pudessem depositar seus artefatos. Muito rapidamente conseguiu criar o tão sonhado repositório centralizado. Assim, tornava possível a troca de experiência e usabilidade de alguns componentes de interesse corporativo, mas essa alegria trouxe tristeza e, outra inquietação. Era absolutamente necessário nomear alguém que zelasse pela integridade dos serviços. Ele tinha pessoal para isso? Pensou, pensou; pensou novamente: “Quem poderia disseminar o conhecimento, alguém que fosse neutro e querido por todos, quem poderia levar a mensagem”? Adivinha só para quem sobrou? Pois, é. O Leão depois de muito pensar, finalmente, delegou essa responsabilidade ao cágado. Aquele animal que botava a cabeça muito devagarzinho para fora do casco e imediatamente recolhia, sempre que o Leopardo passava por perto, mas o leopardo não estava nem aí com o cágado e não perdia tempo: urinava sobre o casco do pequeno bicho. Não era fácil a vida diante daquele monstro urinador. Rosnava, esticava as perninhas e com vagar de sempre pisava firme e iniciava a caminhada. Era muito querido pelos demais. Não era raro ver todos reunidos a sua volta ouvindo-o contar despreocupadamente sobre o caminhar dos acontecimentos, já contava seus 113 anos de idade. Era tido como biblioteca ambulante. Para ele estava tudo bem.

– Como um velho cágado desses consegue manter-se na atividade por tanto tempo assim? – ruminava um curioso amigo.

– Nunca vi esse gajo triste. Ele está sempre alegre, concluía outro.

Era um amigão, menos para o Leopardo que fazia questão de ignorá-lo.

– Gajo, você gosta de trabalhar nesta empresa? O que acha dela?

Essa pergunta fez o cágado arregalar os olhos. Quando ia começar a falar chegou o Leopardo que sem hesitar urinou sobre o cágado; mal teve tempo de recolher a cabeça para o casco.  

– Não liga gajo. Ele já foi embora.

Então, colocou a cabeça para fora e começou a falar.

– Gosto muito daqui, estou há muito tempo, porque acredito nesta empresa.

– Mesmo com esse Leopardo maldito! Exclamou o elefante.

– Esse é um caso a parte, ele é insignificante para a empresa. A empresa é…

Subitamente foi interrompido com a cutucada de alguém avisando da presença do Leopardo. Recolheu a cabeça, esperando que o leopardo urinasse sobre ele como sempre, mas dessa vez, o Leopardo ia se desculpar:

– Perdoa-me, gajo.

Era inútil pedir perdão porque aquele cágado pouco se lixava com a desumanidade do Leopardo, para ele estava tudo bem. Gostava da empresa e de seus colegas, com os quais passava muitas horas, às vezes horas extraordinárias para suportar o negócio da empresa.

O cágado amava a todos independentemente das suas ações e crenças, entendia que a força motivadora da brutalidade animal era o estágio da evolução daquele ser, de modo que não se importava com as ações e atitudes do Leopardo. Aquele animal continuaria com suas atitudes selvagens naquele mundo selvagem, enquanto o Leão fosse o rei, porque sua majestade era medida em função da brutalidade física. O cágado continuaria líder do repositório. Apenas isso? Temporariamente, o Leão era o rei no estágio da evolução; decidia o estilo de liderança, se privilegiava: o Leopardo urinador fanfarrão dos bons ou cágado revestido de muita sabedoria e conhecimento de fato.

Autor

Consultor de TI, com mais de 25 anos de experiência, Escritor. Autor de "O Segredo da Felismina", "Tanto Lá Quanto Cá" e "A Sereia de Tupa". Email: geraldo.nhalungo@davambe.com.br www.davambe.com.br

Davambe

Comentários

2 Comments

  • Os leopardos se vão e os cagados ficam! Uma hora ou outra os Leões se vão e o cagado fica. Trocaria o cagado por um camaleão talvez.

  • Se ouve falar em qualidade de vida, se espera ao menos isso quando se trabalha bravamente, quando se enfrenta diariamente uma floresta repleta de desafios.

    Leopardos existem e fazem parte do desafio, entretanto se o rei da floresta tem dúvida quanto a quem privilegiar (o que entendo como a quem facilitar e dar condições de trabalho), acredito que este rei não mereça seus Cágados.

    Salvem os Cágados e felizes aqueles que podem trabalhar em meio a eles.

    A quem tem que viver em meio aos Leopardos o que posso dizer é: Rumo a Fonteira!

    Parabéns Amigo Geraldo,

You must be logged in to post a comment.

Busca

Patrocínio

Publicidade



Siga-nos!

Newsletter: Inscreva-se

Para se inscrever em nossa newsletter preencha o formulário.

Artigos Recentes