Gerência de Projetos

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UML, RUP e Choraminhices de um aspirante

publicado por Davambe

Mas havia uma boa prática que deixava o Leão manso, para ele aquela era a melhor. Achava que seria mais fácil entender o projeto e todos os seus artefatos e suas idéias. Essa boa prática era a UML, Unified Modeling Language, em Inglês, ou Linguagem de Modelagem Unificada em português. Segundo Larman ( 2006, p.28), “UML é a linguagem visual usada para transmitir idéias de projetos[…]”.

Todos estavam envolvidos, alguns a olharem com desconfiança. O Leão, entusiasmado demais vivenciava o desafio; de posse da solicitação do usuário e de uma análise rasa poderia muito facilmente gerar requerimentos com necessidades, com recursos e com regras do negócio. Pensou:  “ chegarei, quase que sem NONSTOP, à construção de casos de uso e, de elaboração de cenários. É uma maravilha” ; ficou à babaquice em seus pensares. Não engasgou. Alguém bateu em suas costas despertando-o para a realidade. Para seu desespero, era o ex-colega de labuta na terra dos rinocerontes. Leopardo, ávido como sempre, era um gajo que defendia pela paixão a metodologia RUP, Rational Unified Process, e, neste ponto, recorremos novamente à consulta de Larman (2006, p.579), “[…] RUP é um conjunto de documentação baseado na WEB (páginas HTML) coeso e bem-acabado[…]”.

O Leopardo construía aquela cebola, dita diagrama de contexto, que deixava o Leão a lacrimejar e emburrado por dias afora, por não entender o relacionamento e as interfaces sistêmicas, muito menos a interação de processo com o sistema. Mas ele tinha um pontinho a favor, aprendia com muita facilidade, embora com choraminhices. Era chorinho que só ele sabia. Nenhuma lágrima deitava sobre a sua camisa; na bem da verdade, lágrima nenhuma havia.

A vida freqüentemente reserva algumas surpresas e não é incomum o reencontro na área de TI, de modo que estavam os dois a conversar sobre o passado muito recente, embora algumas mágoas existissem entre os dois.

O Leopardo não estava à vontade, saiu a buscar, jogar conversa fora e reclamar de UML, afinal era ele simpatizante de RUP, promoveu via crucis em torno do café, lá no corredor próximo da catraca, longe dos sanitários. Era um tititi animal.

– Pedi às estrelas que esse Leão saísse da minha aba, comentou o Leopardo para si.

– Nem conhece todo o nosso sistema de trabalho, uma hora perguntará como funciona isto ou aquilo, disse o elefante.

– Ai darei o troco, vingar-me-ei, sem dúvidas.

O elefante tinha lá seus valores morais, questionou o interesse do Leopardo pela vingança.

– Melhor colaborar com esse dito cujo. Vai que dá certo!

– Isso é verdade, estão todos colaborando.

– Mas eu ainda me vingo, falei às estrelas, vou ter que cumprir.

– E os seus valores morais? Você vai pecar para retribuir pecado?

– Olho por olho…

– Ah, sem essa. Cadê os meus valores, não será dessa vez. Recuso-me a pecar em nome da vingança.

Não tarde, todos comentavam e cantarolavam no corredor em tom de brincadeira e emudeciam, imediatamente, se alguma alma perto passasse:

               Requerimentos, Atores,

               Casos de uso com cenários,

               Cadê os cenários,

               Diagrama de seqüência, atividade

              Oh doc visão, documento de arquitetura, suplementar…

-Parem! Economizem, digam: diagramas de modelagem do comportamento.

– Ou seja interação entre os objetos, concluiu o Leopardo, fartando-se de rir.

Eram unânimes em afirmar que precisavam incluir em seus requerimentos, um feriado bem prolongado.

– Que tal um feriado na segunda ou na sexta?

– Nem pensar, não vejo a hora de começar o diagrama de seqüência.

– Ih, mais um, que só pensa nesse dito UML.

– Deixa disso, UML é a mãe de RUP.

– Éh? Quem é o pai?

Foi então que começou a discussão do que era metodologia e o que não era. Várias foram as opiniões.

Enquanto isso, a terra girava em torno do sol, mas muito silenciosamente, sem que alguém percebesse. Não havia como não perceber, era hora de almoço e todos saiam alegres para uma hora depois, regressarem.

– Até amanhã, dizia um.

– Até, concluía outro.

O Sol desaparecia junto com as despedidas para dar a vez à lua e às estrelas que não relutavam em brilhar, sem interferência das nuvens.

O Leopardo não perdia a chance de conversar com as estrelas para se desfazer do juramento de vingança que outrora fizera. Não estava mais disposto a se vingar, nem RUP se lembrava mais. Estava tão integrado e participativo com a UML que seus projetos recebiam certificação de aderência sem problemas.

O nó górdio foi dado quando o Leopardo entendeu que era momento de esquecer as desavenças do passado e viver o momento, participando e ajudando para o sucesso. Ele tinha vantagem, conhecia o negócio e era experiente.

“Em um projeto real, fazer análise ou projetar enquanto desenha diagramas UML não acontece tão simplesmente quanto nas páginas de um livro. Acontece no contexto de uma equipe ocupada com o desenvolvimento de software que trabalha em escritórios ou salas, rascunhando em lousas e talvez usando ferramentas, muitas vezes com diagramação”  (LARMAN, 2006, p.547).

Uma das funções da metodologia ou boas práticas, e ou padronização é minorar o trabalho árduo na busca de solução para suportar o negócio. Se esses instrumentos de apoio começarem a criar dificuldades no dia a dia, não serão raras as vezes em que se evitarão, e em pouco tempo estarão fadados ao esquecimento.

É absolutamente necessária a cooperação para o sucesso do trabalho em equipe. Feliz é aquele que sem mágoa consegue realizar o milagre de esquecer o passado, que geralmente mantém as pessoas prisioneiras, comprometendo o alcance do resultado esperado.

Autor

Consultor de TI, com mais de 25 anos de experiência, Escritor. Autor de "O Segredo da Felismina", "Tanto Lá Quanto Cá" e "A Sereia de Tupa". Email: geraldo.nhalungo@davambe.com.br www.davambe.com.br

Davambe

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