Tecnologia

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Steve Jobs e os idiotas

publicado por Wagner Zaparoli

Leander Kahney, repórter que cobre a Apple há mais de uma década, publicou em 2008 um livro chamado Inside Steve’s Brain, no qual relata um pouco da vida de um dos mais polêmicos executivos do mundo contemporâneo.

Steve Jobs co-fundou a Apple em 1976 e a transformou em uma das empresas mais promissoras do mercado tecnológico na década de 1980. Pouco depois, em 1985, foi sumariamente desligado da companhia pelo então CEO John Sculley (na verdade, ele se demitiu antes de ser demitido). Em 1997, quando a Apple estava a seis meses de uma iminente falência, Jobs voltou à cena, e como num passe de mágica, trouxe a empresa de volta aos holofotes, tornando-a a segunda maior empresa sob a perspectiva de valor de mercado do mundo.

Considerado por alguns como um sociopata sem empatia ou compaixão e por outros um gênio visionário, o fato é que Jobs sempre buscou a perfeição em tudo o que fez, colocando a paixão acima de qualquer valor. Uma de suas famosas frases diz: “Seja um padrão de qualidade. Algumas pessoas não estão acostumadas a um ambiente onde se espera excelência”.

A exigência severa e contundente muitas vezes deixava os seus subordinados literalmente enlouquecidos, fazendo com que muitos desistissem no meio do caminho e outros nem ousassem a começá-lo.

Foi o caso de uma executiva sênior de RH da Sun, que tentava uma vaga na Apple. Depois de enfrentar uma maratona de entrevistas com os executivos da companhia, chegara o momento do gran finale com Jobs. Logo de saída ele quebrou-lhe as pernas dizendo que seu currículo não era adequado à posição. Em seguida, jogou a isca, permitindo que a executiva o questionasse, o que não poderia ter sido pior para ela. Ao fazê-lo sobre a estratégia da empresa, Jobs foi seco: “nossa estratégia só é revelada quando necessário”. Tentando se recuperar, ela perguntou por que afinal ele queria uma executiva de RH. Neste momento, ele não perdoou: “Jamais conheci um de vocês que não fosse um cretino. Jamais conheci uma pessoa de RH que tivesse algo além de uma mentalidade medíocre”. Em seguida, atendeu a uma ligação telefônica e a mulher saiu arrasada.

Diz ele que perturba as pessoas de propósito: “Quero ver como as pessoas ficam quando estão sob pressão. Quero ver se simplesmente se curvam ou se têm firme convicção, crença e orgulho do que fizeram”. E acrescenta: “Ser um idiota não tem importância, contanto que tenha paixão pela coisa”.

Embora na contramão das filosofias contemporâneas de liderança, cujas premissas são baseadas no diálogo, na empatia e no trabalho em equipe, o modus operandi de Steve Jobs não é exceção no mundo corporativo. Grandes nomes da liderança mundial como Harvey Weinstein, da Miramax, Carly Fiorina, da Hewlett-Packard e Larry Summers, ex-reitor de Harvard, usaram e abusaram da intimidação para conduzir suas equipes.

De acordo com Roderick Kramer, psicólogo social de Stanford, as pessoas são inspiradas muito mais pelo medo do que pelo amor. E neste caso, produzem um trabalho de que elas mesmas não se julgam capazes de realizar.

O assunto é delicado, pois a tendência do aumento das pressões pelo cumprimento de metas num custo mais baixo, num período mais curto e com excelência em qualidade, parece-nos inexorável. Certamente o leitor deve ter vivenciado situação semelhante, em que pese, chefes déspotas, objetivos surreais e orçamentos frágeis.

Neste ponto vale uma pequena reflexão: será que, de fato, devemos ser “idiotas apaixonados” para fazer a diferença? Qual deve ser o limite de nossa submissão e de nosso sacrifício?

Autor

Doutor em ciências pela USP, Zaparoli tem atuado no mercado de tecnologia da informação, prestando serviços de metodologia e governança para grandes corporações como Itaipu-binacional, Petrobras, Visanet e Grupo Europa, entre outras. Atualmente é Superintendente de TI na GPS-Logística, líder no ramo de seguros e gerenciamento de riscos para o segmento de transporte rodoviário. É professor universitário e colunista da Gazeta de Bebedouro (www.gazetadebebedouro.com.br).

Wagner Zaparoli

Comentários

2 Comments

  • Uma coisa é fato: Steve Jobs consegue alcançar seus objetivos e colocar a Apple como empresa modelo de qualidade e tecnologia, agora se os fins justificam os meios, depende dos valores de cada um.

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