Redes & Telecom

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Balanceadores de Links de Internet

publicado por Paulo Santos

Olá. Peço desculpas pela demora em postar novamente. Tive dias bastante corridos nas últimas semanas (trabalho com TI, lembram : )?.

Hoje falarei sobre um tema que vem sendo bastante solicitado pelas empresas que precisam do máximo de disponibilidade do serviço de internet: os balanceadores de links de internet. Resumidamente, trata-se de um dispositivo que possibilita a conexão de 2 ou mais links de internet, proporcionando um melhor gerenciamento do tráfego de forma que a utilização destes links seja balanceada entre os mesmos, e também a função “failover” (um link cai, o outro assume).

Podemos classificá-los em dois grupos:

Hardware: “appliances” que além da função de gerenciamento dos links, agregam também firewall, protocolos de gerenciamentos, monitoração, etc. Normalmente, são mais fáceis de implementar (quando o que precisamos for apenas a função de balanceamento dos links), entretanto, costumam ter um valor elevado.

Software: a maioria das distribuições Linux já vem com a função de balanceamento de carga no seu kernel. Exigem um nível de conhecimento mais específico para implementação mas por outro lado, não exigem um custo tão elevado para a empresa.

Particularmente, acredito que ambos podem ser utilizados. Lembrando que os valores para as soluções do tipo “hardware” não são nada convidativos. Claro que existem equipamentos de pequeno à médio porte com preços mais razoáveis, entretanto, já tive problemas em alguns projetos onde as funcionalidades dessas soluções mais em conta não atenderiam as especificações. No caso das soluções por “software”, precisaremos de uma mão de obra bastante qualificada para a implementação e, ao contrário do que muitos imaginam, não temos muitas pessoas disponíveis no mercado com bons (vejam bem, eu disse BONS) conhecimentos em redes e em servidores Linux (simultaneamente) para esse tipo de implementação.

Precisamos ser cuidadosos ao estudar orçamentos desses produtos e soluções. Percebo que muitas empresas vendem essa solução (não sei ao certo se por má fé ou por falta de conhecimento técnico) como um equipamento que vai somar sua banda de internet pela quantidade de links conectados nela (por exemplo, link de 2Mbps + link de 1Mbps = link de 3Mbps). E a demanda por esse tipo de solução (soma das bandas dos links) vem aumentando cada vez mais. Creio que esse é o recado mais importante do texto de hoje: os balanceadores de links de internet NÃO SOMAM OS LINKS CONECTADOS À ELE. É claro que isso seria possível, mas temos alguns impedimentos que vou tentar listar aqui:

1-     Link aggregation: já estive em reuniões de projetos onde essa função foi apresentada como a solução para o balanceamento de links de internet. NÃO FUNCIONA. O “link aggregation” é uma função de camada 2, ou seja, ela existe para utilizarmos a largura de banda de 2 portas de um switch de rede simultaneamente (2x100Mbps como 1x200Mbps, por exemplo). É exatamente o que os gênios da infraestrutura  🙂 gostariam que os balanceadores de internet fizessem, mas é uma função de camada 2 apenas. Serve para conexões em uma rede interna, entre switches, servidores, etc., e não para a internet.

2-     Protocolo de roteamento BGP: na teoria, é uma boa idéia, já que poderíamos fazer com que duas operadoras de internet operem com esse protocolo como se fossem o mesmo equipamento (através da configuração de um AS – Autonomous System que “converse” com o AS da outra operadora). Pena que devemos trabalhar com a nossa realidade. Precisaríamos convencer duas operadoras de telecomunicações a operarem em conjunto com um link de internet da sua concorrente; isso deveria ser configurado pelas operadoras (acreditem, não é como implementar os protocolos de roteamento que estamos mais familiarizados: OSPF, RIP, IGRP, etc) e finalmente, por todos esses entraves, isso será devidamente e severamente cobrado pelas operadoras. No final, acredito que não valha a pena.

A idéia da melhora na experiência de navegação está no gerenciamento melhorado dos pacotes de rede que passam pelo roteador. Vou utilizar uma analogia para tentar explicar isso. Um veículo na Rodovia dos Imigrantes em uma véspera de feriado prolongado provavelmente não conseguirá usufruir dos 120km/h permitidos naquela via. Entretanto, no mesmo local, em uma terça-feira, às 6 horas da manhã, provavelmente não encontrará problemas para desenvolver esta velocidade. O que o balanceador de links de internet faz é exatamente o que a ECOVIAS faz quando inicia a famosa operação descida ao litoral nos feriados: abre uma outra via (no caso da nossa analogia, a via Anchieta ou outras faixas contrárias da própria Imigrantes) para que os veículos (pacotes na rede) possam chegar ao seu destino com uma velocidade um pouco melhor do que teriam se estivessem apenas como opção a Rodovia dos Imigrantes. Voltando ao nosso mundo, é daí que vem a impressão de um ganho na velocidade de navegação na internet, já que o balanceador tentará sempre “descongestionar” seus links de internet.

Temos inúmeras outras opções de gerenciamento desses pacotes. Eu recomendo, por exemplo, que aplicações em tempo real (voz, vídeo-conferência, etc) trafeguem sempre pelo mesmo link de internet, já que esses tipos de pacotes devem ser orientados à conexão (o pacote “A” não deve chegar na frente do pacote “B”, basicamente). E é a partir dessas necessidades que devemos tomar precauções quando estamos especificando os itens de um projeto. Nem todos os equipamentos fornecidos no mercado, possuem funções de QoS e outras facilidades que atendam à certas necessidades em um cliente (entendeu porquê nem sempre podemos utilizar os mais baratos?).

Um item importante a ser citado. Evitem balancear um link de grande capacidade (4Mbps+) com um mais modesto (ADSLs da vida, que vão dos 10Mbps aos 100Kbps sem o menor pudor). O ideal em um cenário como este, é utilizar não o balanceamento, mas apenas a opção de “failover” (um cai, o outro assume).

Mais um item para estarmos atentos é em relação à configuração dos servidores DNS. Após alguns problemas de navegação em certos sites, percebi que os servidores DNS disponibilizados em algumas operadoras não funcionam para outras operadoras. Quando configurarem um balanceador de links de internet, recomendo a utilização de servidores DNS públicos, que funcionarão com qualquer operadora. Eu sempre utilizo o OpenDNS (4.2.2.1) e um dos servidores do Google (8.8.8.8). Nunca me deram problema.

E para finalizar, mais uma vez recomendo que pessoas e ou empresas qualificadas sejam contratadas para auxiliá-lo na compra e implementação desses equipamentos. Cuidado com o que encontra no “Google”. Nem sempre a internet nos apresenta informações que compreendem um entendimento global das suas reais necessidades.

Autor

Formado em Engenharia Elétrica pela PUC-SP, com experiência de mais de 15 anos na área de operações e gerenciamento de projetos de redes de telecomunicações (voz e dados), com foco na implementação e gerenciamento de sistemas PABX, Telefonia IP e redes TCP/IP (LAN e WAN). Possui diversas certificações na área de redes e telecomunicações. Contatos Email: p.rsantos@ig.com.br Twitter: @prsan Linkedin: br.linkedin.com/in/prsan

Paulo Santos

Comentários

5 Comments

  • Olá,
    Sintam-se a vontade para divulgar o texto. Apenas não esqueçam de mencionar a fonte e o autor 😉
    Abçs

  • Paulo,

    Muito bom o texto..mostra um lado que sempre é “escondido” pelo pessoal que vende a solução, equipamento ou software de balanceamento.

    Gostei de você ter mencionado que os balanceadores não somam os links conectados a ele..até eu tinha uma certa dúvida a respeito que agora foi esclarecida.. 🙂

    O que você me recomenda para monitoramento de Links em pequenas empresas? Considerando e claro um baixo orçamento..

    Alias se eu não me engano que controla o tráfego na imigrantes e anchieta é a ECOVIAS e não o DNER … 🙂

    Parabéns..
    Jorge Santos

    • Jorge, fico contente que tenha gostado do texto. Em relação à sua dica, agradeço e já corrigi (sobre a ECOVIAS) 🙂

      Abçs!

  • Na empresa que trabalho temos 1 Adsl(speedy da telefônica) e um rádio para podermos usar qdo o speedy está com problemas, que é quase sempre, estou estudando um balanceador para usar como “failover”, sua explicação foi muito importante não só para meu trabalho mas também para adquirir novos conhecimentos. felicidades, tudo de bom pra você.

  • Paulo boa tarde,
    bem colocado seu artigo, estou buscando solução de failover e recebi alguns contatos que ofereceram a solução e a “soma dos links”, mas enfim, o que você tem usado como failover, estou estudando algumas soluções com a distribuição do CentOS, tem alguma solução que possa me indicar?
    Obrigado.

    Afonso Pinho.

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