Carreira

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Conhecer X Praticar

publicado por Israel Bovolini Jr

Diálogo entre a rainha Guinevere e o bardo Pyrlig sobre outros bardos, extraído do livro Excalibur, de Bernard Cornwell:

– Certa vez ouvi Amairgin cantar – disse Guinevere.

– Ouviu, senhora? – perguntou Pyrlig, novamente impressionado.

– Eu era apenas uma criança – disse ela, – mas recordo-me que ele conseguia produzir um ensurdecedor som cavernoso. Era bastante assustador. Os seus olhos tornavam-se enormes, ele engolia o ar, e depois mugia como um touro.

– Ah, o estilo antigo – disse Pyrlig, reprovadoramente. – Hoje em dia, senhora, buscamos a harmonia das palavras em vez do mero volume do som.

– Devia buscar ambos – disse Guinevere, incisivamente. – Não duvido que este Taliesin seja um mestre do estilo antigo e igualmente habilidoso na métrica, mas como pode prender a atenção de uma audiência se tudo o que lhe oferece é um ritmo inteligente? Terá de fazer com que o seu sangue gele, terá de fazê-la chorar, terá de fazê-la rir!

– Qualquer homem consegue fazer barulho, senhora, – Pyrlig defendeu a sua arte, – mas é necessário um artista habilidoso para imbuir as palavras de harmonia.

– E, em breve, as únicas pessoas que conseguirão perceber a complexidade da harmonia – contrapôs Guinevere – serão outros artistas habilidosos, e, desse modo, se tornarão ainda mais inteligentes num esforço de impressionar seus companheiros poetas. Mas está se esquecendo que ninguém exterior à arte tem a noção do que está fazendo. O bardo canta para o bardo, enquanto nós imaginamos o que significa todo esse barulho. A sua tarefa, Pyrlig, é manter vivas as histórias dos povos e, para fazê-lo, não podem ser sutis.

– Certamente não nos deseja vulgares, senhora! – disse Pyrlig e, como protesto, bateu nas cordas de crina de cavalo da sua harpa.

– Desejaria que fossem vulgares com o que é vulgar, e inteligentes com o que é inteligente – disse Guinevere. – E ambos os caracterizariam em simultâneo, mas se apenas forem inteligentes, então negam aos povos as suas histórias, e se apenas conseguem ser vulgares, nenhum senhor ou dama lhes atirará moedas de ouro.

Estou estreando este espaço aqui no TIEspecialistas com um assunto que há muito tempo me incomoda profundamente: A sopa de letrinhas.

Quantas vezes estamos em reuniões com um cliente que não conhece nada de assuntos técnicos, e tentamos impressioná-lo com nossos jargões maravilhosos, nossas siglas indecifráveis, nosso idioma que aos ouvidos dele parecem linguagem de uma seita? Pior que isso, quantas vezes estamos calados ouvindo outros profissionais de nossa área tentando convencer um cliente de que somos o máximo empregando estes mesmos termos para tapar um buraco ou justificar uma falha de projeto? Ou aquele colega que entra em nossa empresa e tenta conquistar o gestor menos técnico utilizando a famigerada sopa de letrinhas?

A isso, eu digo: Nada como um bom discurso direto. Não há nada errado – pelo contrário – em conquistar conhecimento através de cursos e auto-desenvolvimento, acredito até que isso é o que faça a diferença entre tantos profissionais de TI que existem por este mercado afora. Mas se esconder atrás de certificados e discurso envolvente quando a coisa está pegando fogo é que é o problema.

O que tenho observado no mercado é uma porção de profissionais que seguem o conceito “by the book”, ao pé da letra, e que quando se deparam com algum problema não previsto nos manuais tomam o curso de ação mais fácil: não sabem o que fazer e utilizam justificativas belíssimas. Estes profissionais se envolvem tanto com seus treinamentos, suas certificações, que no final ficam presos à sua própria glória, incapazes de pensar fora da caixa. Como diz o texto citado, são poetas que impressionam apenas outros poetas, e que a longo prazo não recebem moedas de ouro.

E o que fazer? Uma vez um homem muito sábio (leia-se um VP de multinacional que começou como estagiário) me disse: “Queremos a metodologia KISS”. Obviamente, a pergunta era “KISS?” – “É. Keep It Simple and Stupid”. Ele não queria ser convencido, ele queria resultados rápidos e sólidos; e isso acontece com a maioria dos clientes. O cliente/gestor pode a princípio se impressionar com o jargão técnico, mas no frigir dos ovos o que ele quer é RESULTADO. Se o projeto sai no prazo, com uma quantidade mínima de erros – JUSTIFICADOS, por favor – ele fica satisfeito e volta a te procurar. Em suma, você recebe as moedas de ouro em um fluxo contínuo, agregando valor para seu cliente e edificando seus negócios sobre um alicerce firme.

Meu conselho: guarde seus certificados e aprenda a pensar fora da caixa. O certificado em si não serve para nada, mas o CONHECIMENTO adquirido ao conquistar o certificado DEVE te ajudar a resolver os problemas. Se algo não está dentro do padrão estabelecido, você não vai pra forca por procurar a melhor solução. Aprenda a combinar seus talentos, usando seu discurso técnico para os técnicos e seus conhecimentos práticos para seus clientes. E então é só afinar sua harpa e esperar as moedas entrarem.

Autor

Trabalho na área de tecnologia há 12 anos, tendo sempre um perfil generalista, atuando desde o levantamento de requisitos, passando por análise de sistemas, desenvolvimento, implantação e fazendo acompanhamento pós-venda. Atualmente me dedico à liderança e coordenação de equipes de desenvolvimento, procurando sempre extrair o máximo de cada um e aplicando seus talentos para que todos saiam satisfeitos. Acredito que não exista um profissional cujos talentos não possam ser aproveitados em algum aspecto de um projeto, basta saber estimulá-lo a isso. LinkedIn: http://br.linkedin.com/in/ibovolini

Israel Bovolini Jr

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