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TIC: risco maior é da porta para dentro

publicado por Anderson Ortiz

Na primeira contribuição que demos ao rico espaço oferecido pelo portal TI Especialistas, compartilhei a visão sobre o ‘pé-de-barro’ que é a infraestrutura de TIC no Brasil http://www.tiespecialistas.com.br/2011/01/o-que-esperar-em-2011-para-a-area-de-tic/. Pé-de-barro é a expressão cunhada pelo sociólogo inglês John Law para introduzir a idéia de que as redes são entidades fechadas em si, aparentemente perfeitas, a ponto de passarem despercebidas na maior parte do tempo, até que um problema as deixa fora do ar, mostrando que dependem de diversos arranjos tácitos no terreno para funcionarem. Esses arranjos se dão entre pessoas, equipamentos, programas e instituições. Há evidências recentes em toda parte que demonstram que os pés-de-barro estão ficando cada vez mais aparentes à medida que a demanda pela tecnologia conectada às redes telemáticas leva novas camadas da sociedade para a rede mundial.

Quero seguir por esta trilha analisando as camadas mais importantes de TIC sugeridas em estudo divulgado pela TelComp (http://arquivos.s2publicom.com.br/405/multimidia/4149Image.pdf ), cujo relatório tive oportunidade de compartilhar no artigo anterior. No documento, são analisadas quatro camadas de TIC fundamentais para fazer o setor acontecer. A saber: usuários; software; hardware; infraestrutura/redes. Estas camadas são representadas pela pirâmide a seguir:

Fonte: TelComp (http://arquivos.s2publicom.com.br/405/multimidia/4149Image.pdf. p.17

Vou propor aqui duas visões: uma do ‘topo para a base’. E outra da ‘base para o topo’, para defender um ponto de atenção para os profissionais sobre a infraestrutura. Analisando o movimento do topo para a base da pirâmide, constata-se que a demanda por parte dos usuários e/ou profissionais alavanca o campo de TIC condicionando inovações de toda ordem.

O movimento de passagem pelas sucessivas camadas de TIC apresenta diferentes níveis de exigências. Do usuário para o software, todas as necessidades que lidam no plano da programação e uso, tais como níveis de interatividade dos sistemas, lógica e cognição, padrões e protocolos, segurança, entre outros diversos aspectos. Na passagem do software para o hardware, entra em jogo toda a questão da variedade e performance dos equipamentos para suportar uma carga de programação cada vez mais complexa e robusta, como máquinas equipadas com ampla capacidade de armazenamento e velocidade de processamento, entre outros aspectos que garantam operações seguras. E finalmente, a passagem do hardware para a infraestrutura, cujas redes precisam garantir não somente o tráfego de dados e voz, mas também ter margem excedente para suportar a demanda por maior capacidade técnica. De que adianta um software bem elaborado, uma máquina potente, se a rede não está apta para suportar estas inovações? Até aqui, falei sobre o movimento do topo para a base.

E como aconteceria no sentido contrário, da base para o topo? Para início de conversa, sem uma infraestrutura adequada, toda a cadeia sofre as conseqüências de tal limitação. Mesmo no topo da pirâmide, uma limitação da rede denota restrições até da criatividade do usuário/programador, atravessando toda a cadeia.

Em seu livro “O Mundo é Plano”, Thomas Friedman ilustra bastante bem como se deu o exponencial crescimento da demanda pelos serviços de internet nos Estados Unidos nos anos 90. Ponto curioso: ninguém previu que haveria uma ‘rede das redes’ a alavancar maior procura por banda larga. A banda já havia ficado à disposição dos grandes provedores por conta dos pesados investimentos que as companhias telefônicas fizeram em suas infraestruturas, prevendo um ambiente concorrencial mais aberto para o mercado de voz, fruto da desregulamentação do setor iniciada em meados dos anos 80. Como resultado, havia um excedente de banda a ser comercializado. Isso gerou uma redução dos preços dos serviços de telefonia, enquanto em outro flanco as redes interconectadas vinham evoluindo dos centros universitários, laboratórios de pesquisa e centros militares para o restante da sociedade. O que houve foi um encontro feliz entre um movimento de criação de demanda em uma ponta (a web) e excedente de capacidade técnica de infraestrutura de telefonia na outra. Este encontro gerou o primeiro ciclo da internet. Da infraestrutura para o usuário, havia um campo técnico aberto suportando a inovação e a criatividade, suficiente naquele momento para o grau de desenvolvimento existente dentro do setor.

Seria exagerado dizer nos dias atuais que a rede enquanto objeto técnico crie sozinha a inovação. Não é isso. Mas a ausência de uma infraestrutura adequada impossibilita o desenvolvimento nas camadas mais acima da pirâmide. E chegamos a um ponto que, de maneira geral, as infraestruturas necessitam ser revistas, não somente nos subterrâneos das grandes cidades, mas também nas chamadas ‘últimas milhas’, que são as conexões que ocorrem da porta de entrada do prédio para dentro, atravessando todas as redes em cada piso da construção. Caminhamos rapidamente para uma hiperdemanda por capacidade de transporte de dados e voz na rua, mas também por redes mais eficazes, estáveis e com melhor custo benefício dentro dos escritórios, prédios e residências. Já somos 2 bilhões de usuários ligados à internet e o PC não é mais o único carro-chefe a demandar mais banda: http://veja.abril.com.br/noticia/vida-digital/mundo-ja-tem-2-bilhoes-de-usuarios-de-internet. O ponto aqui é: de que adiantará ter maior capacidade de banda larga chegando até a porta do prédio, se da porta para dentro a infraestrutura não é capaz de dar vazão àquilo que o hardware demanda e as mentes necessitam para continuar criando?

Entramos num círculo virtuoso no qual há a exigência por novas bases tecnológicas para conectar e permitir que os indivíduos e grupos sociais possam dar vazão ao conhecimento produzido. Não basta mais apenas elaborar o conteúdo. A comunicação desta produção se tornou um aspecto fundamental neste novo contexto social.

À frente de uma empresa com atuação na área de TIC www.isdn.com.br , tenho conversado com pessoas influentes dos setores de TI e Telecomunicações de empresas de grande porte ao longo dos últimos meses. E tenho constatado que a preocupação com a parte física da rede é tão crítica quanto a questão da mão-de-obra especializada.

Nestas empresas, temos presenciado um acelerado movimento de convergência dos setores de TI e Telecom sob uma nova área, a de Tecnologia da Informação e Comunicações (TIC). E esta área, a exemplo de muitas outras, é fruto da convergência de diversos segmentos, técnicos e não-técnicos, que ainda se acotovelam para demarcar seu espaço neste campo do conhecimento. Vamos explorar no nosso próximo texto o conceito de ‘híbridos’ para continuar falando da formação deste campo, a exemplo do que ocorreu com várias carreiras desde a potencialização da modernidade no século XVIII.

Concluo aqui alertando os gestores de que devemos estar sempre de olho naquilo que ocorre em baixo dos nossos pisos e atrás das tomadas. É preciso antecipar as surpresas que podem estar escondidas em nossas redes físicas. Antes que nosso ‘pé-de-barro’ também fique à mostra…

Autor

Diretor de Marketing e Negócios na ISDN Infraestrutura e Talentos em TIC, já tendo atuado em empresas nacionais e internacionais nas áreas de turismo e lazer, representação empresarial, navegação e operação portuária, saúde, química, educação e esporte. Comunicador Social, dedica-se atualmente ao mestrado em Novas Tecnologias da Comunicação pela Universidade do Estado do RJ. Especialista em Pesquisa de Mercado e Opinião pela mesma instituição, participou também de formações gerenciais na França e especialização em Marketing e Gestão de Serviços (ESPM-RJ). Atua também como professor da FACHA, lecionando na cadeira “Opinião Pública e Pesquisa de Audiência”. Entre suas produções, destaca-se o artigo “Relações Públicas na criação de ambientes de negócios”, no livro “Com credibilidade não se brinca”, lançado pela editora Summus.

Anderson Ortiz

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